R.You

Kalanchoe de Madagascar

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Imagem: Edward Hopper – Eleven A.M. (1926)

 [/vc_column_text][vc_column_text]A coluna R.You! deste mês traz a literatura noturna e ondulante de Jessica Lemos. Bata as cinzas do cigarro, inspire levemente e venha conhecer.


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“É fácil! Venha. Coloque seu coração numa bandeja e me sirva ele quente. Encha a taça do mais puro leite, que me embriaga. Você sabe que te amo?”

 

[/vc_column_text][vc_empty_space height=”52px”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Que horas são? Que lugar é esse? Nem mesmo lembro a última vez que dormi em casa. Essas chaves, nunca estou com a chave. Quantas cervejas bebemos? Lembro de mais algumas no Walmart perto da casa dele… De novo, esse cigarro na mesa é meu? Acho que hoje é quarta. Foi na terça. Tecnicamente é quinta já. Droga, a semana não tem fim. Você me chamou pra beber amanhã. Hoje, tecnicamente. Mas amanhã é sexta. Fim de semana vou pra casa. Só vou precisar lembrar em que casa deixei as chaves.

 

Batidas ocas, grave. O ressoar em ondas quentes e negras. Seu café quente. Soa loucura. A forma que me fode, de todas as formas que pode. E em ondas quentes eu me vejo querendo ser sua. Quero que me tome. Puro amargo, se ficar muito tempo no fogo. As vezes parece fácil, como cortar a própria carne. Asfixia por apneia. Dentro de um limite, além da tortura. Entre o tédio e a loucura. O prazer. Tão fácil quanto te esquecer pra sempre. Ou o eco do caminhar solitário num palco de madeira.

 

É fácil! Venha. Coloque seu coração numa bandeja e me sirva ele quente. Encha a taça do mais puro leite, que me embriaga. Você sabe que te amo? Eu sei que você vai dizer que sim. As vezes eu queria que você soubesse, assim não ligaria pra quanto eu mando você se foder. Ou quando te reduzo a minha foda mais gostosa. Acredite, você tem toda minha atenção.

 

E em dias confusos, eu não sei o que colocam na água. Nesses dias bebemos e não ficamos bem. Ao menos proporcionamos uma bela cena aos transeuntes. Somos seus belos atores dramáticos, atacados pela cólera do ciúme e insegurança. Poderia ser uma dança folk, mas é uma luta. Se bem que pra mim é quase a mesma coisa, você não entende. Você me dizendo que sou pior do que Mychelle, são nossos ascendentes. Ou que Flaviane era melhor, em sentidos que alguém com menos de 50kg e que precisa de um número cabalístico de remédios controlados não poderiam ser. Você me dando as costas, me fazendo muda. Nessas horas você continua me amando? Eu não estaria mentindo se achasse que alguém que nunca me disse essas coisas me faz mais bem. Mas é que você faz mais, e bem melhor. E não só isso.

 

Eu sonho mais ao teu lado. Hoje, vou apenas dormir. Até amanhã. Hoje, tecnicamente.

 

***

 

Fui cativa do paraíso por anos, mas me libertei quando atingi a maior idade. No meu quintal tinha um mar imenso e calmo, mas nunca aprendi a nadar. No mar perdi tanto quanto a Rose, mas a literatura foi a minha tábua de salvação. Do alto de um morro, estou aprendendo a viver em terra firme. Atualmente, minha inspiração vem de um aquário repleto de peixes dourados e corais rosas no verão. Por formação sou designer e sou cocriadora da MegaNeura Editora e, às vezes, a própria Meganeura, tal como criatura e criador, como fizera Shelley. A cada dia, me aproximo um pouco mais do meu primeiro quarto de século, suas paredes são verdes e da minha cama é possível ver o teto dançar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/2″][vc_column_text]Jasz Lemos – Escritora, designer e editora da Meganeura Editora

(meganeuraeditora@gmail.com).[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/2″][vc_single_image image=”6730″ img_size=”medium” alignment=”center”][/vc_column][/vc_row]

R.You!
Ei, artista! Você mesmo! Estamos procurando gente nova! Esse espaço é destinado a divulgar o trabalho dos novos nomes das artes, seja em música, artes visuais, literatura, o que for. Se você tem uma produção para mostrar ao mundo e quer estrelar uma de nossas edições, entre em contato conosco em contato@rnottmagazine.com

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3 Comments

  1. Wow! Que texto! Vibrante e vivo, louco e apaixonado. Espero ver mais coisas dessa moça por aí.

  2. Os textos dessa mulher, como ela, são maravilhosos. Há muito, Jasz rompeu o limite entre a arte e existência. Aproveito cada uma das suas linhas como se pode aproveitar aquela coisa inominável, mas que não se encontra nada que possa ser melhor para saborear. Como amor, como paixão, como a dor… Seus textos vibram numa frequencia única, cortam-nos a carne e se acomodam em nosso íntimo. Mais que parabéns, senhora. A cada texto, uma nova surpresa.

  3. Oi, Marina <3
    muito obrigada pelo carinho, espero retribuir esse sentimento bom.

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