InterrogatórioPor aí

Interrogando Speed of Light

Numa entrevista inédita, a R.Nott Magazine conversou com exclusividade com os jovens irmãos Cameron, Tyler e Riley, integrantes da poderosa banda californiana Speed of Light. Cameron foi quem liderou a conversa tida com Vinicius F. Barth, editor da R.Nott, e o resultado está abaixo. Será que o Rock já virou coisa de velhos? Pra descobrir, aumentem o volume! =)


 

Hey, pessoal! Estamos muito contentes por tê-los aqui.

• Como, quando, onde e por quê.

Nós somos uma banda familiar, dois irmãos e uma irmã. Tocamos música juntos desde que éramos muito novos. Há cerca de três anos e meio, decidimos oficializar isso e assumimos o nome “Speed of Light”, embora já tocássemos juntos muito antes disso. Eu comecei tocando guitarra quando tinha 7 e Tyler, o baterista, começou logo depois. Nossa irmã, Riley, juntou-se mais tarde com o baixo e vocais, mas começou na guitarra, assim como eu.

• Quais são suas principais influências e heróis, tanto para a banda quanto para cada um de vocês, em seus estilos particulares?

Cada um de nós tem influências bem diferentes. Eu gosto de Led Zeppelin, Black Sabbath, White Stripes – clássico estilo 70’s de rock de riffs e de garagem. Tyler curte o punk da era clássica como The Dead Boys, The Damned, The Stooges. Ryler curte coisas mais melancólicas como The Cure, Radiohead, Sonic Youth. Se você pegar as influências de todos os três e tacar dentro de um liquidificador, isso meio que nos define. É engraçado que já nos descreveram como grunge, mas eu acho que nenhum de nós escutava isso. Agora escutamos, já que queremos saber por que somos comparados. Outros dizem que nossa música é como a dos anos 90, mas a maior parte de nossa inspiração veio dos anos 70.

 

 

 

• Contem a respeito do seu processo de composição de uma música.

Geralmente as nossas músicas começam com um dos meus riffs. Fazemos uma jam durante bastante tempo até que algo comece a sair disso. Tyler arranja a bateria e Riley arranja o baixo e os vocais, e a partir disso começamos a cantarolar ainda sem palavras sobre essas seções. O último passo é quando nos juntamos todos para escrever as letras.

• O que vocês consideram uma grande canção?

Sweetleaf do Black Sabbath é uma grande canção (Eu). A versão acústica de Like Spinning Plates, pelo Radiohead, é uma grande canção (Riley). I Against I do Bad Brains é uma grande canção (Tyler).

• O que os seus amigos falam sobre a sua música? Que tipo de música as pessoas na sua idade ouvem? Vocês se sentem conectados ou desconectados de alguma maneira?

Nossos amigos NÃO ouvem rock. Eles ouvem EDM, pop, hip hop. Para eles, o rock é uma relíquia antiga que seus pais e seus avós escutavam. Para eles o rock NÃO É “cool”. Nós NÃO SOMOS considerados “cool” por tocar o que tocamos, mas no fim não ligamos pra isso, de verdade. A música dos anos 1970 tinha mais pegada. Para nós ela é mais visceral. Não estamos interessados em tocar algo que não nos mova no âmago.

• Falem a respeito da cena musical de sua terra natal, Santa Monica, Califórnia.

Se você for a shows na cena underground de Los Angeles, vai escutar bastante coisa boa. Só precisará ficar de olhos bem abertos e fuçar até encontrar. Assim como em qualquer outro lugar, haverá panelinhas – grupos – tribos. Há uma cena na Sunset Strip, em West Hollywood, que atende ao legado do hair metal dos anos 80. Em North Hollywood há um monte de thrash metal. Em Orange County há um monte de surf rock. No centro de Los Angeles, nós fizemos uma residência mensal no The Redwood Bar, onde tocam muitas bandas de stoner rock ou desert rock. Praticamente crescemos naquele lugar.

 

Speed of Light – Underdog

 

• Como as pessoas reagem aos seus shows? É inesperado de alguma maneira? Vocês são tratados como novatos ou como crianças por pessoas mais velhas (ou por bandas mais velhas)? Se sim, como vocês se sentem em relação a isso?

Eu amo o modo como as pessoas reagem aos nossos shows. Em primeiro lugar, nós não nos vestimos de acordo com a música que tocamos. Fazemos isso de propósito. Amamos a contradição. Aqueles adultos permanecem de braços cruzados enquanto um bando de adolescentes (17 anos, 15 e 14) em roupas bacanas sobem no palco, esperando que a gente toque covers de “Rock de Tiozão” (no original: Dad Rock), até que partimos para a nossa afinação em Drop D¹ e a pancadaria começa. Ou eles nos amam, ou nos odeiam.
Teve uma vez em que fomos convidados para um club Rockabilly em Orange County. Nós tentamos avisar o agente que não tocávamos aquele tipo de música. Ele pensou que estávamos brincando por causa de nossa idade e o modo como nos vestíamos. Começamos a tocar e o lugar se polarizou instantaneamente. Os caras que estavam na casa dos 40 e 50 anos de idade gritavam para que saíssemos do palco, enquanto as mulheres na casa dos 70 gritavam para que eles calassem a boca e deixassem a gente tocar. O tal agente entrou em pânico e tentou nos tirar do palco, mas as mulheres de 70 anos gritaram para que se sentasse de novo. Ele morria de medo delas. Não tô brincando, mulheres de 70 anos de idade estavam nos defendendo e nos parabenizando enquanto descíamos do palco. Passamos também por umas 3 ou 4 ocasiões em que fomos literalmente cancelados por tocar muito alto. Esses são os melhores shows.

 

 

• “Talhando o próprio caminho sem desculpas, sem olhar pra trás, tendo nada pela frente senão a estrada aberta”. Quais são os seus planos para o futuro?

Estamos realmente curtindo essa viagem na qual embarcamos por causa da música. Como na letra de nossa canção Kill the Vibe, estamos “vivendo essa viagem”. E é emocionante porque estamos constantemente fora de nossa zona de conforto. Cometemos um monte de erros, aprendemos e tentamos novas coisas. Temos as nossas inspirações, como qualquer um, mas também desejamos uma nova aventura. Chame isso de Musa ou o que seja, estamos ouvindo a música em nossas cabeças e seguindo isso. Às vezes isso nos leva a um beco sem saída, mas na maioria das vezes isso nos leva a um novo caminho.

 

Speed of Light – Kill the Vibe recorded @ Seahorse Sound Studios

 

• O que vocês gostariam de responder e eu não perguntei? =)

Nós somos super gratos aos locais e agentes que nos acolheram. Eddie, do Redwood Bar, nos deu um lugar para ficar e nos desenvolvermos quando mal conseguíamos tocar nossos instrumentos. Brian, que organiza as séries de shows chamadas Bands in a Barbershop nos pôs debaixo da sua asa e nos ensinou muito. Ele até mesmo nos transformou na banda da casa para esses shows na Barbearia. Há gente por aí que está pastoreando as novas bandas do rock and roll. Eles são os heróis invisíveis para quem devemos muito.

 

 

• Última coisa: eu ouvi a Kill the Vibe uma centena de vezes nos últimos dois dias, tanto no Spotify quanto no YouTube. A versão ao vivo gravada na Seahorse Sound Studios foi publicada em 12 de novembro e tem, nesse momento, 89.169 visualizações. Além disso, vejo que há muitos brasileiros na seção de comentários. Falem um pouco mais sobre essa faixa em particular, e de como vocês se sentem com a recepção global.

É realmente incrível e inesperado. Essa é a nossa primeira experiência com uma resposta global, ou que simplesmente esteja vindo de fora de Los Angeles. Se você for ao Spotify para ver as grandes bandas de rock (Foo Fighters, etc.) e observar quais são os países que mais os escutam, verá Brasil, Chile e México. Na maioria das vezes o Brasil está em primeiro. É lá que o rock vive nesse momento, eles é que mantêm a chama acesa. E nós nos sentimos honrados por estar nessa companhia.

 

Speed of Light – Live at American Barber Shop, Echo Park 11/16/2019

 

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Nota de rodapé:
[1] A afinação Drop D, também conhecida como dropped D ou drop-D, é uma afinação de guitarra e baixo onde a corda mais grave é afinada um tom abaixo da afinação padrão, em ré. Essa afinação é muito utilizada em estilos de sonoridade mais grave, como o Heavy Metal.

 


 

English Version

 

Hey, guys! We’re very glad to have you here.

• How, where, when and why.

We’re a family band, two brothers and a sister. We’ve been playing music together since we were very young. About three 1/2 years ago we decided to make it official and call ourselves “Speed of Light,” but we were playing together long before that. I started playing guitar when I was 7 and Tyler, the drummer, started right after that. Our sister Riley came in after that with bass and vocals, but she started on guitar like me.

• Who are your major influences and heroes, both for the band and for each one of you in your individual styles?

We each have very different influences. I like Led Zeppelin, Black Sabbath, White Stripes—classic 70s style riff rock and garage rock. Tyler likes classic era punk, like The Dead Boys, The Damned, The Stooges. Riley likes moodier stuff, like The Cure, Radiohead, Sonic Youth. If you take all three of those influences and throw them in a blender, that pretty much defines us. Oddly, we’ve been described as grunge, but I don’t think any of us listen to it. We do now because we want to see why people were comparing us to it. Other people have said our music is like the 90s, but most of our inspiration came from the 70s.

• Tell us about your process of writing a song.

Our songs usually start with one of my riffs. We will jam on it for a long time until something starts to come out of it. Tyler figures out the drums. Riley figures out the bass and vocals. Then we’ll just start humming wordlessly over those sections. Then the last step is we all get together and write the vocals.

• What do you guys consider a great song?

Sweetleaf by Black Sabbath is a great song (Me). The acoustic version of Like Spinning Plates by Radiohead is a great song (Riley). I Against I by Bad Brains is a great song (Tyler).

• What do your friends talk about your music? And what kind of music people in your age hear? Do you fell connected or disconnected in any way?

Our friends do NOT listen to rock. They listen to EDM, pop, hip hop. To them, rock is some ancient relic that their dads and granddads listen to. To them rock is NOT cool. We are NOT considered cool for playing what we play, but we really don’t care. The music of the 70s had more teeth. It’s more visceral to us. We’re not interested in playing something that doesn’t move us on a gut level.

• Tell us about the music scene in your homeland, Santa Monica, California.

If you go to shows in the Los Angeles underground scene, you’ll hear some pretty good music. You just have to keep your eyes open and dig to find it. Like anywhere else, there are cliques—groups—tribes. There’s a scene on the Sunset Strip in West Hollywood that caters to legacy hair metal from the 80s. In North Hollywood, there’s a lot of thrash metal. In Orange County there’s a lot of surf rock. In downtown Los Angeles, we had a monthly residency at The Redwood Bar which plays a lot of stoner rock or desert rock bands. We pretty much grew up in that place.

• How do people react to your gigs? Is it unexpected in any way? Do older people (or older bands) treat you like underage, or just kids? If yes, how do you feel about that?

I love how people react to us. First, we don’t dress like the music we play. We’ve done that on purpose. We love the contradiction. These adults with their arms crossed watch as some teenagers (17/15/14) in nice clothes get on the stage, expecting us to play “Dad Rock” covers. Then we go to Drop D and the pummeling begins. They hate us or love us. There was this one time we were invited to this Rockabilly club in Orange County. We tried to warn the booker that we didn’t play that kind of music. He thought we were kidding because of our youth and the way we dressed. We started playing and instantly polarized the place. The guys in their 40s and 50s were screaming for us to get off the stage while the women in their 70s were screaming for them to shut up and let us play. The booker panicked and tried to get us off the stage, but the 70 year-old women screamed for him to sit back down. He was terrified of them. I’m not kidding, 70 year-old women were defending us and congratulating us when we got off the stage. We’ve had 3 or 4 instances where we’ve been literally shut down for being too loud. Those are the best shows.

• “Carving your own path with no apologies, no looking back, and nothing but open road ahead”. What are your plans for the future?

We’re really enjoying this ride music has taken us on. Like the lyrics in our song Kill the Vibe, we’re “living the ride.” It’s exciting because we’re constantly out of our comfort zone. We’re making a lot of mistakes and learning and trying new things. We have our inspirations, like anyone else, but we also want a new adventure. Whether you call it a muse or whatever, we’re listening to the music in our heads and following that. Sometimes it takes us to a dead end, but most of the time it takes us to a new road.

• What would you like to answer that I haven’t asked? =)

We’re super grateful to the venues and bookers that have championed us. Eddie from The Redwood Bar gave us a place to play and grow when we could barely play our instruments. Brian who runs the Bands in a Barbershop series of shows took us under his wing and taught us a lot. Brian even made us the house band for those Barbershop shows. There are people out there shepherding young bands in rock and roll. They’re the unseen heroes and we’re in their debt.

• Lastly: I’ve heard Kill the Vibe a hundred times in the past two days, both on Spotify and YouTube. The live version recorded at Seahorse Sound Studios was published in november 12th and it has 89.169 views in this moment. Besides, I can see lots of Brazilians in the comments section. Tell me some more about this song in particular, and how do you feel about its global reception.

It’s really amazing and unexpected. It’s our first experience with a global reaction, or anything outside of Los Angeles. If you go on Spotify and look at the big rock bands (Foo Fighters, etc) and look at the countries that listen to them the most, it’s Brazil, Chile and Mexico. Most of the time Brazil is number one. That’s where rock lives right now. They’re holding the torch. And we’re so honored to be in that company.

 


 

Follow the band:

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Vinicius F. Barth
Doutor em Estudos Literários pela UFPR. Tradutor das Argonáuticas de Apolônio de Rodes. Escritor e ilustrador. Autor do livro de contos 'Razões do agir de um bicho humano', (Confraria do Vento, 2015) e do livro de poemas e ilustrações '92 Receitas Para o Mesmo Molho Vinagrete' (Contravento Editorial, 2019). Ilustrador de Pripyat (Contravento Editorial, 2019). Estudante de saxofone.

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