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Moonassi Drawing: a expressiva arte de Daehyun Kim

Conheça o trabalho do artista sul-coreano Daehyun Kim, conhecido como Moonassi, e saiba mais sobre a sua produção e sobre como as relações interpessoais caracterizam o seu estilo. Matéria realizada por Fernanda Maldonado, exclusiva para a R.Nott Magazine.

“Quando eu conheço um estranho, não preciso mais ser a pessoa que eu sou ou que era até aquele momento. Então eu observo a mim mesmo com um estranho também. A partir desse “estranho eu”, consigo ver algo novo.”

 

 

Normalmente produzidas em pequeno tamanho e utilizando como matéria prima somente papeis em branco, tinta nanquim e canetas pretas, as ilustrações do sul-coreano Daehyun Kim -mais conhecido como Moonassi- vêm atraindo os olhos atentos de amantes das artes do mundo todo. A série de desenhos batizada “Moonassi Drawing” traz a representação de personagens idênticos entre si em variadas situações, que buscam simbolizar com uma sensibilidade extrema diversos sentimentos intrínsecos do ser humano. A solidão, a comunicação interpessoal, os relacionamentos, a fragilidade dos laços humanos, a compreensão existente entre duas pessoas semelhantes: todos são temas bastante caros à obra de Daehyun Kim. Em tempos de modernidade, vida e amores líquidos, até Zygmunt Bauman ficaria impressionado com a densidade desse trabalho.

  O jovem artista, nascido em Seoul em 1980, cursou Artes Plásticas e especializou-se em Pintura e Arte Tradicional do Leste Asiático, mas acabou trilhando carreira no mercado do design. Paralelamente, porém, começou a desenvolver um projeto pessoal em 2008 que tomou um espaço grande demais na sua vida para que ele continuasse com seu emprego. Conforme o tempo passava, sua arte, divulgada por ele mesmo em seu site oficial, foi sendo notada e reconhecida por curadores e especialistas de Nova York, Seoul e Viena. Seis anos depois do início da série, Daehyun Kim –ou melhor, Moonassi- já teve exposições individuais em salões de arte e museus de Nova York e Seoul, participou de exibições coletivas em galerias na Coreia e Estados Unidos, recebeu um convite da marca de câmeras analógicas Lomography para produzir, em Viena, ilustrações para uma série exclusiva de câmeras La Sardina, além de assinar a arte de capas de discos e contribuir com ilustrações periódicas para artigos do The New York Times.

Com um currículo desses, é de se imaginar que qualquer contato com o artista seria uma missão de pura paciência oriental. Mas graças às ferramentas úteis da internet e à gentil disposição de Daehyun, mais de 30 mil quilômetros de distância entre Brasil e Coreia do Sul foram reduzidos a algumas boas trocas de e-mails. A entrevista abaixo foi feita no mês de fevereiro, exclusiva no Brasil para a R.Nott Magazine. Para saber mais sobre a arte de Moonassi, acesse seu site oficial ou sua página no Facebook.

 

 

F- Em seus desenhos você representa sentimentos bastante humanos, como conflitos internos, a comunicação e os relacionamentos interpessoais e, sobretudo, a solidão. Você se inspira em seus próprios sentimentos ou através da observação de terceiros?

 

M- Eu diria que ambos. Compreender meus próprios sentimentos me faz sentir que consigo compreender bem a mente de outras pessoas também.

 

F- Por que “Moonassi”?

 

M- ‘Moonaa’ foi um tipo de pseudônimo que adotei desde meus 17 anos. ‘Moo’ significa “nada” ou “vazio”, e “Naa” significa “eu”. Isso pode ser mais ou menos entendido como “ausência de ego” ou “eu sou nada”.  Depois que escrevi esse nome no meu primeiro livro de ensaios em 2005, as pessoas começaram a me chamar de Moonassi. Foi como se eu ganhasse uma nova identidade enquanto artista. Desde então estou usando esse nome.

 

F- Você afirmou em uma entrevista para a Peut-être Magazine que quando está sem inspiração procura conhecer estranhos. Como eles podem te inspirar?

 

M- Quando eu conheço um estranho, não preciso mais ser a pessoa que eu sou ou que era até aquele momento. Então eu observo a mim mesmo com um estranho também. A partir desse “estranho eu”, consigo ver algo novo. Posso dizer que me inspiro em mim mesmo enquanto “um estranho conhecendo outra pessoa estranha”.

 

 

F- Quando você começou a perceber que sua arte passou a tomar uma importância maior na sua vida do que seu próprio trabalho, na área de design?

 

M- Quanto mais eu recebia e-mails vindos do mundo todo de pessoas completamente desconhecidas, mais eu sentia que o que eu estava fazendo era realmente importante. Não sei como explicar, mas hoje já é algo que vai além de mim mesmo.

 

F- Como seu trabalho reverbera fora da Coréia?

 

M- Eu venho postando meus trabalhos no meu website e na página que mantenho no Facebook desde que comecei a desenvolver a série Moonassi Drawing. Talvez por isso nunca enxerguei nenhum tipo de fronteiras entre meu país e o restante do mundo.

 

 

F- E quanto ao seu processo criativo?

 

M- Não tenho regras no meu processo criativo, e não gosto de ter um “processo” propriamente dito. Não ouço música quando faço meus esboços, mas gosto muito de ouvir música quando finalizo as ilustrações. Ouço programas de rádio online enquanto desenho, ou então deixo playlists tocando em modo shuffle no Soundcloud.

 

 F- Você pode falar sobre alguma ilustração em especial que pessoalmente representa algo significativo e qual o sentido e a inspiração por trás dela?

 

M- É difícil escolher um desenho especial porque eu estive muito imerso em cada um deles. Mas um dos meus favoritos é “The Moon I See”. Eu visualizei aquela imagem durante muito tempo, mas levei um bom período para terminar. Era sobre um longo sentimento por uma pessoa que eu não poderia encontrar mais.

 

F- Sua arte foi estampada em câmeras lomo (Lomography Cameras), ilustrou colunas do The New York Times e foi exibida em diversas galerias e exposições na Coréia e Estados Unidos. Pessoas de diferentes países têm diferentes reações a respeito do seu trabalho?

 

M- Estrangeiros parecem expressar seus sentimentos mais facilmente e de forma muito direta. Coreanos nunca fazem isso. Alguns dias atrás recebi uma carta escrita à mão de uma fã coreana. Ela escreveu dizendo que tinha decidido enviar a carta porque havia lido uma entrevista minha, na qual eu dizia que os coreanos não expressam seus sentimentos (risos). Então observo essas coisas.

 

 

 

F- Muitas pessoas estão tatuando suas ilustrações. Você gosta dessa ideia?

 

M- Pessoalmente eu não consigo me imaginar tendo uma tatuagem na pele. Para as pessoas que têm ou terão meus desenhos tatuados, eu não posso pensar em parar de produzir!

 

 

F- Você está trabalhando em novas séries de Moonassi?

 

M- Acabei de fazer duas ilustras para a capa do novo álbum de uma banda francesa, e sim, estou trabalhando em algumas novas séries de Moonassi também.

 

 

 

Página oficial do artista:

http://www.moonassi.com/

 

Fernanda Maldonado
Fernanda Maldonado é jornalista e redatora publicitária nas horas vagas, ou vice-versa. Produz entrevistas e resenhas sobre música, artes visuais, teatro e comportamento para revistas independentes de cultura & arte. Atualmente estuda a linguagem dos quadrinhos jornalísticos e não acredita num mundo pós-Temer.

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