Interrogatório

Interrogando Ana Catarina Lugarini

Em um Interrogatório mais do que especial, a R.Nott Magazine teve o prazer de conversar com a fotógrafa, roteirista, diretora, contadora de histórias, poeta – e tanto mais – Ana Catarina Lugarini. Conheça a bela trajetória dessa sensível autora e confira tudo sobre o seu primeiro curta-metragem como diretora, “Da Janela Vejo o Mundo”, que foi recentemente selecionado para o 49º Festival de Gramado e será exibido em agosto.


 

  • Ana, seja bem-vinda. É um prazer ter você neste espaço.

Agradeço ser interrogada por você, é um prazer, Vinicius. Será que posso contar nossa história pregressa aqui? Mas pra quem não sabe, nos conhecemos em meio à pandemia e ganhei um grande presente na vida. Criativamente, principalmente. Obrigada, nunca pensei que eu passaria por um interrogatório tão especial como esse.

  • Como, onde, quando e por quê.

Estou sempre em transformação com meus projetos e acredito que isso seja um pouco de quem eu sou. Amo imensamente estar pensando coisas novas, ainda que seja trabalhoso para meu cérebro, acredito que esses impulsos de vida e criação dizem muito sobre quem eu sou. Filha de uma bailaria e um bancário, eu nascia em 1993 já contando histórias, não me gabo por isso, as histórias eram péssimas na verdade. Quando adolescente, eu não me encaixava em nenhuma faculdade que os professores me apresentavam. Até certo momento da vida, meu coração dizia que eu iria fazer física. Como? Eu também não sei, acho que eu sempre disfarcei o quão ruim eu era em matemática, mas eu era apaixonada pela matéria no ensino médio. O tempo passou e, ao chegar no famoso terceirão, fui engolida pela confusão do que eu poderia fazer como profissão. Nesse momento eu não parava de pensar que queria me envolver com a música, nunca fui uma exímia estudante, então foi um momento complicado de decisão. Meus pais são parte importante em minha história, tiveram a paciência necessária, mesmo em meio às dificuldades, de me mostrar que era preciso fazer o que eu amava. Sei que estamos cansados desse clichê, mas percebo que minha ideia de amor pelo que faço é o que me sustentou até aqui. A música sempre esteve na minha vida, desde a adolescência rabugenta escrevendo letras de música para uma banda que eu gostaria de ter, até os dias de hoje. Meu vício em playlists me fez acreditar que eu poderia fazer música, mas eu não estava preparada para isso. Falo em preparo porque para uma jovem de 16 anos, a única coisa que eu pensava era em continuar com as minhas bandas imaginárias. Um ano depois, ainda perdida, mergulhada no metal que eu gostava de ouvir, soube de um curso de Cinema, do Centro Europeu. Eu sempre gostei de Cinema, mas minha ideia de cinema era aquela dos jovens dos anos 2000 mesmo, filmes de gênero das vídeo locadoras. De alguma forma, aquilo me atraiu, não sei se foi o destino, mas hoje nem pretendo questioná-lo e, a partir de então, minha carreira no Cinema me encantou. O que era atração virou coisa séria, ali, naquela ida de ônibus para o curso todas as segundas e quartas, foi onde eu me encontrei.

  • Filha de bailarina e, por pouco, Anna Karenina. Ana Catarina, você continua sonhando com as águas?

Sempre vou sonhar com as águas e viver em busca delas. Agora na pandemia me distanciei do mar, mas isso não é um problema, eu me aproximo dele com a fotografia e das formas que eu consigo. É claro que meu grande desejo é o de estar sonhando e projetando meu corpo nas águas, mas, por enquanto, fiquemos com os sonhos. E sobre Anna Karenina, tenho uma pequena frustração por não ter dois ene no nome, confesso, mas hoje já perdoei meus pais por isso. (brincadeira, tá?).

fotografia da série “Tenho sonhado com as águas”

  • Seu trabalho com fotografia costuma alternar entre autorretratos e paisagens, entre espaços que são muito íntimos ou que são muito distantes, sem que haja um meio-termo. Em entrevista ao Itaú Cultural, você admite que prefere observar de longe o espaço dos outros, que é “tão íntimo, secreto e contempla uma história”. Ao mesmo tempo, parecem ser exatamente esses elementos que afloram em seus retratos, trazendo o espectador para muito perto de você. Fale sobre essa ambivalência no seu olhar, sobre o modo como você enxerga a si mesma através das fotos e também sobre o que as paisagens podem revelar a respeito de você mesma.

O autorretrato é o espaço em que me sinto mais confortável pra criar. No cinema, dado todo o contexto, ainda me movo tentando compreender minhas pequenas inseguranças. Meu lugar fotografando aconteceu de forma muito desprendida. Quando eu vi, mergulhei na lente de uma antiga pentax com meu corpo e ali fiquei. E é nesse espaço e na intimidade que eu também me descubro nos meus roteiros e filmes, acredito que seja um processo de descoberta e risco a todo tempo. Meus autorretratos mudam bastante a cada ano. Ano passado, as séries foram todas em casa e existe em algum lugar ali, um retrato da exaustão do que vivemos agora, mas também de salvamento. A fotografia tem um poder mágico no meu corpo, é como se quando eu estivesse num dia ruim, ela me resgatasse à vida de novo. Não sei como explicar e a quem eu devo agradecer por isso, mas aqui vai: obrigada, fotografia. Meus processos de autorretratos não seguem um rigor, um método, apenas uma vontade de me colocar e de me entender no mundo. Esse ano eu mudei minha perspectiva no autorretrato, sempre busquei a luz natural, mas hoje busco as artificiais. Minha casa está cheia de lâmpadas diferentes e outros experimentos que faço com papéis e algumas gambiarras, é algo analógico e simples, além da maioria das minhas fotos serem registradas com o celular ou analógicas. Eu gosto da simplicidade e esse espaço pequenino, o que cresce é o amor pela fotografia dentro do meu peito. Sobre as paisagens e o distanciamento, é algo que eu realmente refleti pela primeira vez com a chegada da entrevista para o Itaú, porque dificilmente faço retratos ou fotografo as pessoas de – um pouco mais – perto, acredito que por respeitar o espaço do que está acontecendo, eu gosto de contemplar, ficar olhando as paisagens ali por um bom tempo. Acredito que isso seja a projeção de mim mesma. Como no autorretrato eu estou frente à imagem, com a paisagem eu quero só tomar um fôlego, estar mais distante.

fotografia da série “Tenho sonhado com as águas”

  • Música, poesia, fotografia, artes visuais. Fazer cinema é um jeito de fazer tudo isso ao mesmo tempo?

Com certeza sim, e um pouco mais. É um encontro bonito daquilo que abrilhanta nossos corações diariamente, e para trabalhar com Cinema é preciso ter esse amor pulsando o tempo todo. Acredito que as relações e a formação das equipes sejam a grande parte de fazer tudo isso ao mesmo tempo, pessoas e suas referências diversas se juntam para trabalhar em prol de um filme. Essa é a beleza do nosso trabalho: juntar pessoas. Além da música, poesia, fotografia e as artes visuais que uso muito em meus painéis de referência, acredito que observar as pessoas, caminhar um pouco e parar pra olhar – talvez até não pensar tanto – seja um mergulho bonito para fazer imagens em movimento.

  • Quais os filmes que mais fizeram diferença na sua vida? Cite quatro e explique.

Não sou muito boa em elencar poucos filmes, minha lista de favoritos mudou muito com as fases da minha vida, mas vou citar quatro que me ajudaram a compreender um universo mais diverso na representação das mulheres no Cinema. Passei muito tempo como realizadora sem ter uma referência de construção de personagens com a qual eu pudesse me identificar. É até um pouco estranha essa relação, porque quando penso nos meus filmes, penso nas mulheres da minha vida, mas sempre tive receio de expor isso, eu realmente achava que essas histórias não fariam sentido, e é aí que reside a importância da representação de personagens complexas e que se aproximem da gente. O primeiro que cito é “Wanda”, da Barbara Loden. Esse filme mora no meu coração e eu aconselho a todos que assistam – é sério, pare tudo que está fazendo e vá assistir! Foi um filme que me despertou a vontade de fazer meus filmes, esse é o único filme dirigido e escrito pela Barbara, eu vou resumir em: uma jornada feminina em busca de libertação. Preciso dizer mais alguma coisa? Outros que me marcaram bastante são praticamente todos os filmes da Céline Sciamma, principalmente o “Retrato de Uma Jovem em Chamas”. Fiquei extasiada com o arco das personagens e a beleza das representações. Eu sou uma fã maravilhada pelo trabalho da Gena Rowlands, além das atuações incríveis, quando eu a assisto só consigo pensar em, e como dizem os jovens – é sobre isso – , então eu não poderia deixar de citar o “Uma Mulher sob Influência”, do Cassavetes. Gabriela Amaral Almeida, brasileira e grande diretora, é uma referência pra mim também, já assisti algumas falas dela e acho importante repensar a representação das mulheres no cinema de gênero, então cito aqui “Um Animal Cordial”, que tem um roteiro maravilhoso.

  • Palavras de Fellini: “Mesmo que eu resolvesse fazer um filme sobre um filé de linguado, ele seria sobre mim.” Comente.

Não devo ter pensando em nenhum filme de minha autoria que não envolvesse profundamente as histórias da minha vida, desde o meu curta “Da Janela Vejo o Mundo”, até o longa “Torniquete”. Eu me envolvo e recrio algumas dessas narrativas. É claro que no meu coração existem tantas outras histórias, mas, de alguma forma, é sempre sobre um pedaço – inventado ou não – de quem eu sou, das pessoas da minha vida.

Arte do cartaz por Livia Zafanelli

  • Fale sobre a Veleiro Azul Filmes, sobre as suas parceiras de trabalho e sobre como é fazer cinema, hoje, no Brasil – e em Curitiba.

A Veleiro e suas tripulantes são um presente em minha vida. Dividir o trabalho com a Raiane Rodrigues e a Amanda Soprani é realmente uma das coisas que eu mais amo em minha rotina de trabalho. Nós somos uma pequeníssima empresa ainda, começando desde que todas nós trilhamos uma carreira na produtora Grafo Audiovisual, de Curitiba. Ainda estamos em processo de entender exatamente o que queremos, somos apaixonadas pela feitura dos filmes desde o seu desenvolvimento. Então eu descreveria a Veleiro como esse navegar por aquilo que acreditamos. É claro que nem só de amor a gente consegue viver, então no momento estamos focadas no desenvolvimento dos projetos e na feitura dos curtas-metragens, mas cada uma trabalha como freelancer em suas áreas. Entre nossos maiores desejos está produzir longas e séries e promover equipes com mais diversidade na cidade, mas ainda somos atravessadas pela dúvida, então tudo pode acontecer. Para fazer Cinema no Brasil, hoje, é preciso ter um espírito de luta e vontade muito grande. Estamos desde 2018 sem editais a nível federal, então os longas-metragens independentes têm sofrido muito com essa fenda enorme que se abriu. Além disso, a pandemia veio com tudo e só agora podemos ter uma previsão de esperança e futuro, mas há alguns meses ficamos desesperados por não poder filmar. Como toda pessoa que faz cinema aqui, é preciso ter esperança no caminho e continuar.

  • Ana Catarina, ainda sobre o meio profissional do cinema, fale-me um pouco sobre: a) a soberba; b) o afeto; c) ser mulher.

Eu vou começar falando que sou do signo de peixes, acho importante dizer isso, não porque necessariamente eu entenda o que significa, mas é que uma das questões mais importantes para os seres da água é que orgulho, indiferença e soberba são uma grande dificuldade para nós. Meu processo é muito compartilhado, eu sou amorosa, ajudo quem eu puder dentro das minhas limitações. É claro que eu já devo ter ficado me gabando por algo desnecessariamente, mas ser soberba é algo que se eu for, quero ser alertada imediatamente. Sobre o afeto e aproveitando o fluir de peixes, eu sou muito amorosa nas minhas relações, acredito que tudo deve ser feito com amor e paciência. Nesse momento pandêmico, todos nós percebemos que não adianta estar munido de raiva. Mesmo tendo dias em que só a raiva exista, eu escolho dar e receber afeto. Ser mulher na área em que trabalho é um caminho exaustivo demais. Existem oportunidades? existem, mas é sempre desconfortável pra nós termos que provar nosso trabalho, dificilmente temos espaço para erros e quando leio algumas críticas aos filmes dirigidos por mulheres, vejo uma brutalidade e machismo que me incomodam profundamente. São muitos os incômodos diários na busca por ser reconhecida pelo que faço, desviando de assédios e tentando provar constantemente meu trabalho. É claro que muitas mulheres têm trilhado um caminho importante pra nós, quantas diretoras tem tido seu trabalho em festivais, mas é preciso reconhecer que ainda temos muito pra avançar no Brasil. E falo de um lugar privilegiado como uma mulher branca, então imaginem o quanto esse ciclo de desconfiança nos adoece e até faz a gente querer – e muitas vezes o faz – desistir.

  • O que você pode nos contar a respeito do seu trabalho como roteirista e diretora? O que nós – o público ávido – podemos esperar para os próximos meses?

Um trabalho regido pelo caos – hahaha, brincadeira – eu gosto muito de investigar a memória, a vida, o afeto (tanta coisa) e as personagens mulheres, então acho que esses são assuntos que tenho buscado nos meus trabalhos. Eu e o público estamos juntos nessa espera. Meu primeiro curta na direção “Da Janela Vejo o Mundo” vai estrear em Gramado no dia 19 de agosto. E agora, caminhamos no desenvolvimento do meu longa “Torniquete”. Estou escrevendo há quatro anos e como tudo tem tomado um tempo maior do que a gente espera, vou seguir trabalhando nele. Além disso, estou desenvolvendo duas séries, “O Espelho da Noite”, que passou em um edital local e “Raízes”, ao lado do parceiro César Augusto. São muitos projetos pulsando e dando o seu melhor para existir, e ainda pretendo continuar a experimentar em curtas.

“Da Janela Vejo o Mundo” na Seleção Oficial do 49º Festival de Gramado

  • Existe um livro de poesia a caminho? Como se dá a sua relação com a poesia?

Existe, de mesmo nome da minha série fotográfica “Tenho Sonhado com as Águas”, com poemas que escrevi nos últimos anos e com outros que vão surgindo durante os processos. Gosto mundo da Sophia de Mello Breyner Andresen e a forma como ela divide suas palavras com o mar. Esse projeto vai demorar para sair do papel porque são muitos projetos em paralelos e decidi focar mais energia nos filmes, mas em breve, em seu tempo, ele vai aparecer. A poesia é um salvamento diário, gosto de ler poemas de autores que tenho em casa, como a Ana Martins Marques. Ler num dia ruim ou bom. Eu leio bastante poesia, acho que foi meu primeiro encontro com a literatura depois das histórias em quadrinhos. Ano passado no início da pandemia, fiz uma série de vídeos declamando poesia, foi um processo delicioso que eu sempre volto a assistir quando preciso de um novo salvamento.

tenho sonhado com as águas,
diluindo-espaços-no-meu-corpo.
casulos e abraços imaginários.
o corpo agora é
memória,
e tempo.

fotografia da série “Tenho sonhado com as águas”

  • Conte-nos a respeito do seu processo criativo.

É uma pergunta interessante, porque nunca reflito muito sobre meu processo e acredito que eles sejam muito diferentes uns dos outros, eu gosto de estar cercada de informações e referências ao meu redor. E sim, sou ansiosa. Acho que tudo começa com alguma indagação que faço a mim mesma, sempre me perguntando “e se…”, e a partir daí ideias novas surgem, penso um processo possível para cada projeto e faço. Não mais sozinha, hoje conto com pessoas incríveis para me ajudar a encontrar esse caminho. As ideias iniciais de roteiro tendem a ser muito solitárias, eu gosto da troca, me sinto estimulada. Com isso, amadureci minha maneira de pensar novos projetos, antes eu tinha muitas ideias soltas e não seguia com nenhuma. Hoje eu sou mais paciente, penso um a um, o que eu quero dizer, qual a intenção de cada filme. É claro que tudo depende da urgência do que estamos fazendo, temos prazos, protocolos e isso impacta nos nossos projetos, mas eu lido bem com esses tempos. Eu não vejo muito um certo ou errado na feitura das criações, acredito que cada um mergulha de uma maneira e no tempo que for preciso, e nesse sentido, eu tento começar como posso, sento-me em casa, escrevo um pouco no papel e finalmente dou voz ao que espero num arquivo no computador. Respeito meus tempos, tem dias que não acontece nada e eu só fico olhando a página em branco, isso já me deu mais agonia, hoje eu busco ficar mais tranquila. Também deixo meu celular em outro canto, me afasto um pouco das redes e assim vou indo. Ah! E o mais essencial que não posso deixar de mencionar: um café fresco sempre por perto.

fotografia da série “Tenho sonhado com as águas”

  • Ídolos, heróis, artistas que você inveja e principais influências: quem são?

A grande maioria das heroínas das histórias em quadrinhos eu invejo. Não pela força ou superpoderes, mas elas dão vazão aos seus sentimentos de uma maneira extraordinária. Hoje eu estaria mais para a Enid de Ghost World do Daniel Clowes, uma quase anti-heroína. As influências vêm de muitos lugares, eu adoro a pesquisa, então tenho em meu Pinterest várias artistas flutuando nesse pequeno mundo de ideias. Na vida, são as mulheres da minha família e minhas amigas, sem dúvidas. Anoto quase tudo que minha mãe faz e fala, ela é uma joia cinematográfica – hahaha –.

  • Quais são seus projetos futuros?

Um dos meus grandes desejos pro futuro, e esse futuro é próximo, é conseguir realizar “Torniquete”. Estamos há quase quatro anos trabalhando nele para que se torne viável. É um projeto que preenche meu coração e minha vida, penso nele quase todos os dias. Ou melhor, todos os dias. E claro, mais filmes e roteiros de longas, e nesse caminho, quem sabe dirigir uma série.

Ilustração para “Torniquete” por Clara Moreira

  • Existe algo que você sempre quis responder e que nunca te perguntaram? Se sim, por favor responda.

Sim. O que você gosta de fazer quando não está fazendo nada? Eu respondo, Playlists. <3


Links para sites e redes sociais:

 

Ainda não tenho um bom site, desculpem o vacilo.

https://instagram.com/anactrn

https://www.behance.net/anacatarina_

https://www.facebook.com/anactrna/

Vinicius F. Barth
Doutor em Estudos Literários pela UFPR. Tradutor das Argonáuticas de Apolônio de Rodes. Escritor e ilustrador. Autor do livro de contos 'Razões do agir de um bicho humano', (Confraria do Vento, 2015) e do livro de poemas e ilustrações '92 Receitas Para o Mesmo Molho Vinagrete' (Contravento Editorial, 2019). Ilustrador de Pripyat (Contravento Editorial, 2019). Estudante de saxofone.

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