[vc_row][vc_column][vc_column_text]Entrevistamos Diogo Duda. O artista, natural de Curitiba, nos fala tudo sobre suas séries e você pode conhecer um pouco do seu trabalho aqui![/vc_column_text][vc_column_text]
“Hoje reconheço que minha passagem pelo design foi sim produtiva e me proporcionou um repertório útil do qual me sirvo ainda hoje; mas procuro usar isso conscientemente e ao meu favor, tentando não confundir as coisas”
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Como, onde, quando e por quê.
Bem, sou natural de Curitiba mas cresci na grande São Paulo e isso é um fator relevante que certamente influenciou escolhas e comportamentos. Desenhar era uma das brincadeiras preferidas, gostava de sentar c/ prancheta, lápis e papel à mão e tentar reproduzir através do desenho as plantas que minha mãe e avó tinham em casa, sem saber que aquilo se chamava desenho de observação. Morava na periferia da cidade e lembro-me desde bem cedo sentir-me instigado pelas manifestações visuais de rua como a “pixação” (conforme a escrita de rua) – ou pichação (se na norma culta) – e o graffiti. Nos trajetos para a escola, por exemplo, gostava de ficar observando e tentando decifrar aquelas caligrafias e símbolos; depois, em casa, pegava uns cadernos e criava alfabetos inteiros com minhas próprias caligrafias, a partir daquele repertório visual adquirido nas ruas. Com o graffiti foi da mesma forma e um dia, depois de ver uns garotos mais velhos pintando um murinho na rua de casa comecei a colar com os caras; a partir daí vieram os workshops de graffiti, as customizações de roupas, os “rolês” p/ pintar na rua, o skate, o hardcore, etc … Ao fim do ensino fundamental decidi que faria o curso técnico em Design Gráfico, em paralelo ao ensino médio. Institucionalmente falando era a opção mais próxima dessa prática criativa na qual eu já estava envolvido. Concluí o técnico em 2004 e um pouco depois veio o primeiro curso superior em Design, praticamente como uma decorrência do curso anterior e também como alternativa mais pragmática em relação a mercados de trabalho e afins. Nessa primeira tentativa de bacharelado cursei o primeiro ano e abandonei em seguida para me dedicar – junto a um amigo de faculdade – a um projeto autoral que se configurou como um espaço experimental de criação: o Buenaluz Studio. Este foi um período muito rico e fundamental: não suportaríamos 4 anos de bacharelado em Design naquele momento, éramos muito novos e com um perfil criativo bastante similar, muito ligado ao “do it yourself”. Montamos um pequeno atelier nos fundos do quintal de casa e fomos viver experiências criativas. Quando acabou a grana fui trabalhar como designer e posteriormente tive uma breve experiência como assistente do artista Stephan Doitschinoff. Logo em seguida fui aprovado no curso de Tecnologia em Design Gráfico da UTFPR e mudei-me para Curitiba a fim de cursá-lo. Adorei a cidade e durante os 2 anos que frequentei o curso foquei nas disciplinas obrigatórias e naquelas que realmente me interessavam (já que a instituição propunha uma grade flexível mas não oferecia um curso especifico em artes) enquanto mantinha em paralelo minhas pesquisas experimentais ligadas às artes. Foi uma boa experiência, mas não demorou muito para eu novamente perceber que minhas expectativas, anseios e interesses eram de uma outra ordem, a qual aquele curso também não corresponderia. Então finalmente resolvi ir estudar arte, de fato; prestei vestibular na EMBAP e iniciei o curso em 2014 quando abri mão da Federal. Lá, apesar de uma infraestrutura precária (ao meu ver), encontrei alguns excelentes professores e como já tinha uma produção prévia – ainda que embrionária – fui aos poucos me inserindo no cenário artístico local através de estágios, participações em exposições coletivas, aprovações em editais, Salão de artes, uma individual, etc.
E cá estamos![/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4561″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4562″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Como você compreende seu processo e seu percurso na contemporaneidade?
Conforme a narrativa anterior, creio que meu percurso tem sido meio que no método
“tentativa e erro”, ou “acerto” às vezes. rs
Acho que ter escolhido determinado curso com base numa suposta garantia profissional futura me desviou um pouco. Tanto é que acabei retornando à arte mais tarde. Mas no começo eu não tinha tanto acesso à informação quanto hoje, fui ter um computador em casa e acesso à internet relativamente tarde se pensarmos como se dão as dinâmicas da tecnologia atualmente. Naquele período em que se deve começar a fazer as supostas “escolhas para a vida” eu nem sabia direito que ser artista também era uma profissão de fato, não parecia algo tão concreto quanto ter um emprego; era algo meio nebuloso, distante, sem referências próximas… que me atraia (intuitivamente) mas eu não sabia como funcionava. Optar por um curso que me “garantisse” um “emprego padrão” posteriormente parecia algo mais seguro naquela época.
Aquela primeira tentativa de um curso superior não supriu os anseios e em consequência disso, toda aquela “bagagem e vivências de rua” muito ligadas ao “ponha a mão na massa e faça você mesmo com o que houver de disponível no momento” – junto ainda de uma parceria muito forte e estimulante (que é algo que conta bastante p/ mim: o meio e os pares) – acabou sendo a guia dos processos criativos por um bom tempo. Isto imprimiu um caráter bastante orgânico e intuitivo em meus processos naquele momento, chegando ao ponto até mesmo de certa aversão à academia e seus métodos (muito mais por preconceito e limitação de minha parte, é claro).
Hoje reconheço que minha passagem pelo design foi sim produtiva e me proporcionou um repertório útil do qual me sirvo ainda hoje; mas procuro usar isso conscientemente e ao meu favor, tentando não confundir as coisas, já que as duas áreas podem ser próximas e se relacionarem mas definitivamente não são a mesma coisa, penso eu. Sobre meus processos atuais, creio que minha concepção de “intuição” se expandiu bastante, configurando-se mais ou menos como um processo dinâmico e as vezes espontâneo, mas ainda assim muito ligado à observação, percepção, repertório, análise, articulação e capacidade de reação e/ou elaboração de “respostas”; e isto ainda somado ao fato de estar muito mais antenado a uma infinidade de questões próprias do meio que, querendo ou não, a academia, assim como o próprio ambiente artístico, acabam por te apresentar e torna-lo ciente.
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Roy Lichtenstein produzia, em média, dez vezes a mesma obra para alcançar o resultado desejado. Como decorre seu processo criativo?
Antes de qualquer coisa, acho que o gatilho mesmo é a própria observação e percepção do mundo, da vida, do desconhecido, do eu, do outro, da sociedade, das coisas, da arte, daquilo que me cerca, instiga, incomoda ou me toca de algum modo; isto no sentido mais visceral e primário. A partir disso, e depois de muitos filtros e seleções, o meio no qual me sinto “confortável” e, em alguma medida livre para pensar sobre e tentar reagir a tantos estímulos é o processo criativo em si mesmo. Neste, agora de modo mais objetivo, o desenho esquemático e rápido em um caderno de anotações, tal qual notas imagéticas de ideias ou conceitos, tem um papel bem relevante: é algo como a primeira tradução física da ideia, me ajudando a ter mais clareza e desenvolvê-la. Depois disso, dependendo do tipo de trabalho, posso elaborar um pouco mais sua concepção, com o auxílio de softwares gráficos inclusive, ou partir p/ a pesquisa de materiais e a produção efetivamente. Durante a produção, geralmente um novo leque de possibilidades se abre e muita coisa é remanejada, pois lidar com a matéria é algo bem diferente de rabiscar uma ideia no papel: nem sempre é possível prever questões como características dos matérias, escala, aplicabilidade e funcionalidade só a partir do desenho.
Sobre a busca pela perfeição de Lichtenstein, não acredito que eu esteja nem perto disso; mas percebo que meu background em design ainda emiti reflexos sobre alguns trabalhos. Há uma certa tendência à busca de “boas” resoluções formais e acabamentos minuciosos, além disso, o poder de síntese em um trabalho de arte (dizer muito c/ muito pouco) também é algo que me fascina.
* (acho que acabei respondendo um pouco da pergunta anterior aqui também)[/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner][vc_single_image image=”4557″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][vc_row_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4559″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4558″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Comente a frase sua sobre a Série Estratigrafias: “servem de janelas, transições ou passagens para os planos subjacentes, traduzindo-se no ato de escava pela necessidade de transpor o raso”.
A produção da Série Estratigrafias se deu em um momento em que eu estava especificamente interessado e envolvido por temas como consciência, percepção, psicologia, noções de realidade e afins. Acho que era uma certa insatisfação com a superfície de tudo, um certo desejo de alcançar o âmago de algo ou de mim mesmo ou do mundo ou de seja lá o que fosse. Provavelmente essa minha resposta soará algo incongruente, e é mesmo difícil traduzir em palavras algumas sensações e percepções humanas, por isso mesmo eu as pintava.
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Existe relação formal ou subjetiva entre as obras que você produziu em 2014: Ausência Presente e Celeiro do Mundo?
Não.
Vejo mais relação entre Celeiro do Mundo e Equânime, por exemplo, que investigavam as possibilidades de ressignificação de objetos banais do cotidiano ao apropriar-se de seus potenciais simbólicos ou funcionais, e reconfigurá-los em outros contextos.
Aquele foi o primeiro ano no curso de artes então estava ainda experimentando muitas coisas, explorando as linguagens e suas possibilidades. Leva-se tempo e bastante trabalho para decantar e encontrar o veio mais promissor de determinada poética.
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Quem influencia diretamente o seu trabalho?
Bem, atualmente tenho me interessado majoritariamente pelas linguagens tridimensionais: objetos e, em consequência da ampliação da escala, instalações também. Tenho pesquisado muitos artistas que atuam nessas esferas. Não sei dizer ainda o quanto há de influência direta ou o quanto isso refletirá mais adiante, mas algumas poéticas e operações que têm me interessado seriam as de artistas como Cildo Meireles, Piero Manzoni, Mona Hatoum, Ai Weiwei, Ernesto Neto, Marcius Galan, Marcelo Cidade, André Komatsu, Felipe Cohen, Jaime Lauriano… Há muitos bons e boas artistas que me instigam.[/vc_column_text][vc_single_image image=”4568″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][vc_row_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4567″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4569″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Você já pensou em acender os fósforos de Celeiro do Mundo?
Rsrs. Todos me perguntam isso!
Mas creio que esta ação ou evento em si mesmos não façam parte do trabalho. Este “estado de iminência” e talvez ansiedade que ele desperta no espectador (e isto se traduz claramente por tais sugestões e questionamentos), isto sim é próprio da natureza do trabalho e ao meu ver funciona como um dispositivo interessante. Mas a ação efetiva de incendiá-lo eliminaria este estado de suspensão, latência e devir; transformando-o apenas num evento ou “mini espetáculo” pirotécnico fugaz.
Assim como parece acontecer também num outro trabalho do mesmo ano (Equânime, 2014), me interessa muito mais aquela certa tensão própria destes momentos e situações de iminência e (por vias deste artifício) uma possível “captura” do espectador; pois a partir daí abrem-se maiores possibilidades de vínculo, diálogo, reflexão e relação deste observador com o trabalho.
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Qual obra de arte você modificaria sem pestanejar?
Não sei se entendi bem: daquelas por mim produzidas ou qualquer obra de arte?
Mas de qualquer forma, creio que só interviria mesmo em peças minhas. Celeiro do Mundo, por exemplo, deveria ter as dimensões de um ginásio esportivo ou algo próximo disso.
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Exponha os seus pensamentos sobre a relação de artes plásticas & design.
Bom, já comentei um pouco sobre isso anteriormente. Me parece que são áreas do conhecimento que podem tanger-se, cruzar-se em algum momento e se influenciarem mutuamente, mas cada qual com identidades próprias (embora o ato de “borrar as fronteiras” esteja bastante em voga e esse testar limites possa ser algo saudável e apontar novas possibilidades). No meu caso e trajetória, cheguei a um certo ponto em que percebi que as questões que me interessavam e que eu gostaria de pensar, abordar, explorar e propor não teria muito espaço e campo fértil no terreno do design, justamente por serem questões relativas a um outro complexo de natureza distinta.
Para ilustrar o caso: Qual a função objetiva da arte? Por que tanta gente o faz, admira e valoriza coisas que por vezes se mostram até mesmo áridas, herméticas e pouco “palatáveis”? Isto ainda não está claro p/ mim.
Já um objeto de design, se não cumprir à risca as funcionalidades a que se propõe, não tiver boa aparência e não for passível de consumo, é no mínimo um design ruim. Este exemplo simplório e já batido que ouvi em algum lugar, não me lembro onde, obviamente não esgota a questão, mas ao menos consegue denotar que são coisas de ordens e naturezas distintas, pura e simplesmente. E este pequeno discernimento já me parece algo bem importante a ser levado em conta. [/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4566″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4565″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Heróis, ídolos e pessoas que você inveja.
Heróis e ídolos, até o momento acho que não os tenho no campo das artes, com todo o respeito aos grandes mestres.
Mas tenho para mim que tais status e títulos, se e quando realmente aplicáveis, estão mais passíveis de vínculo a outras áreas e questões, muito mais urgentes que às das artes. Sem deméritos nem pretensões de soar politicamente correto – e ainda mantendo bem claro que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa” – mas sinceramente, esses termos sugeridos me remetem mais à personalidades como Mandela, Zumbi, Betinho, Chico Mendes (e tantos outros por vezes anônimos, como os Guaranis que ainda resistem à extinção, por exemplo), do que mesmo a um determinado pintor ou filósofo das artes. Capacidades relativas à empatia, alteridade, resistência e doação ainda me impressionam.
Inveja rola sempre que me deparo com um bom trabalho de arte, algo potente que consiga me atingir, me capturar. Mas não se trata de invejar uma pessoa especificamente e sim as muitas inteligências e capacidades existentes em se articular, “resolver” e expor um pensamento.
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Conte-nos sobre a sua relação com a Diretriz Arte Contemporânea, galeria localizada em Curitiba. Ademais, você é apegado aos trabalhos que vende?
A Diretriz, enquanto uma galeria recém inaugurada na cidade, estava recebendo e analisando portfolios. Uma amiga me informou a respeito e sugeriu que apresentasse meu material. Assim o fiz e a partir do interesse da galeria, estabelecemos um diálogo mais próximo no qual pudemos conhecer melhor nossas intenções e abordagens, tanto as minhas quanto as da instituição. Fui então convidado a participar da coletiva em cartaz atualmente. Tal oportunidade de inserção, com uma abordagem bastante profissional é de extrema importância enquanto estímulo e fomento à carreira, principalmente no início quando o caminho nos parece mais íngreme.
Não me considero apegado aos trabalhos, tenho sim algum tipo de apego ou demasia em alcançar um “bom resultado” ou chegar em algo que me convença. Mas depois de feito, estará no mundo e é bom que esteja; acho que pouco poder ou influência teremos sobre essa coisa depois que ela sair do ateliê; até mesmo por isso é preferível que ela seja capaz de comunicar ou partilhar ou instigar o outro por si mesma.
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Fale aqui sobre o que você sempre quis falar, com toda a liberdade, ou responda aquilo que nunca te perguntaram.
Tenho a impressão de que já me excedi o bastante nas respostas anteriores, e além disso, no momento não me ocorre nada de extrema urgência (salvo o atual contexto e diretrizes políticas do país), então aproveitarei a liberdade e espaço para simplesmente agradecer a todos (familiares, amigo(a)s, professore(a)s, artistas, agentes do meio e afins) que direta ou indiretamente têm contribuído na realização dessa escolha algo ousada, insólita e por vezes adversa que é o pensar, o fazer e o viver arte a cada dia.[/vc_column_text][vc_empty_space][vc_column_text]Site oficial:
http://www.diogoduda.com/[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_row_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4564″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][vc_column_inner width=”1/2″][vc_single_image image=”4563″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row]
“”Capacidades relativas à empatia, alteridade, resistência e doação ainda me impressionam.”” Gostaria de ter dito isso, … é como a gente se sente nestes tempos de tanta inversão de valores.