foto: Letíciah F.
Neste mês a R.Nott tem o prazer de publicar o trabalho de Katherine Finn Zander, apresentado, como é tradição na coluna R.You!, por ela mesma. Saiba mais sobre a sua trajetória até aqui, sobre o seu projeto solo que leva o nome de Katze e confira seu último lançamento, intitulado Fratura Exposta.
Katze é o projeto solo em que eu, Katherine Finn Zander, atuo como produtora musical e compositora. Nasci em Curitiba há 32 anos (por vezes soa como 10 mil – risos), mas já morei em outros lugares como Romênia, São Paulo e Berlim. Curiosamente, em Berlim todo mundo é artista, e embora eu estivesse por lá como recém bacharel em Direito, focando em um mestrado em Políticas para Educação, ao voltar para o Brasil, sob efeito dessa (má – risos) influência, acabei montando projetos musicais, como a banda Cora, que já não está mais em atividade, a banda NOID, na qual sou baixista e meu solo.
Ainda que eu tente colocar a culpa em Berlim, minha trajetória toda na música foi despertada por figuras femininas: quando criança, ao ver minha mãe e tia tocando piano, quis aprender a tocar também. Quando pré-adolescente, vi Marina Person numa vinheta da MTV tocando violão e logo depois me matriculei em um curso do instrumento. Na adolescência, descobri que o baixista do Sonic Youth era uma mulher, Kim Gordon, e fui aprender a tocar baixo. Quando jovem, conheci a banda Warpaint, formada somente por mulheres, aprendi a tocar guitarra e montei minha própria girlband. Um pouco mais tarde, ao ir em um show da produtora musical Grimes no Berghain (tinha que ser em Berlim), fui arrebatada por realizar como essa garota, com a mesma idade que eu tinha, conseguia desenrolar tudo sozinha no palco. A partir disso, resolvi estudar produção musical (AIMEC 2013) e comecei a estruturar músicas que pudesse executar sozinha.
Mas muito além de inspirações, essas personalidades femininas me abriram perspectivas, afinal, eu não cogitava aprender novos instrumentos e nem mesmo produzir música por não acreditar que teria capacidade para tal. O simples fato de ter conhecimento dessas mulheres e seus trabalhos acabou sendo suficiente para me encorajar (e possivelmente outras tantas mulheres) a fazer o que eu considerava ser impossível, ou seja, foi o caso em que ver o exemplo torna a possibilidade do fazer mais tangível.
Embora a questão da presença da mulher nas carreiras musicais seja um tema até bastante clichê, as mulheres ainda são uma minoria ínfima, ainda mais em atividades técnicas como produção, mixagem, engenharia de som, etc. Então, é também buscando reduzir essa iniquidade que me mantenho convicta em um cenário tão instável e áspero quanto a música autoral e independente no Brasil. Na estrutura dos meus projetos, existe uma luta e uma forma de retribuição aos caminhos que essas figuras femininas me possibilitaram.
Dessa forma, acredito que toda e qualquer mulher ou menina que tiver contato com meu trabalho pode se sentir mais confiante para seguir o mesmo rumo, se assim desejar. Nesse sentido, acredito que quanto mais mulheres houver que estejam tocando e produzindo música, futuramente esse número se propagará.
No que se refere às minhas influências, enquanto adolescente, transitava entre o punk rock, HC, indie, grunge, new metal, stoner, rock psicodélico e progressivo. Em 2010 passei a tomar gosto por rap e seus derivados, como R&B, TRAP etc.
Por conta disso, meu solo começou a tomar forma em 2015, quando já havia terminado o curso de produção musical e havia absorvido fontes diversas de estilos musicais. Portanto, passei a compor meu primeiro EP “Moon Phases of a Relationship”, que foi lançado somente em 2017 pelo selo feminino PWR Records.
Todavia, ainda não me sentia totalmente confortável com meu trabalho, então a partir de 2018 comecei a compor em português e encontrei uma vertente estética que melhor representava minhas ideias: a ponte que liga as adjacências do rap e adjacências do rock, o que pode ser chamado de “trap rock alternativo” (eu que inventei, mas nas fontes oficiais você encontra como emo trap, emo rap, cloud rap, trap metal ou apenas rock alternativo mesmo – risos), que tem como alguns de seus expoentes Killstation, Lil Peep, $uicideboy$, Bones entre outros.
Sendo assim, meus novos lançamentos entrelaçam elementos do grunge, trap, rock alternativo, break, trip hop, HC e especialmente o new age, tendo em vista que as temáticas das composições, em maioria, se referem ao transcendental, ao misticismo e a busca pela saúde psíquica.
A partir dessas novas composições, cheguei no meu álbum cheio “Fratura Exposta”, lançado em abril de 2021. O disco produzido por mim e realizado com recursos da Lei de Incentivo Aldir Blanc conta com 10 faixas que somam aproximadamente 30 minutos, uma delas, “Estarless”, com a participação do rapper Bface. Outras, como os singles “Psicostasia”, “Samsara”, “Kani-Kama”, “Obsidiana” e “Trono de Lótus” foram lançados anteriormente como videoclipes. No que se refere ao último clipe citado, “Trono de Lótus”, este possui uma versão interativa em ambiente virtual, na qual se é possível experienciar as fases do percurso da lama ao trono de lótus e outros conceitos envolvidos na composição da música. Tanto o site quanto as shaders foram construídos e codados pela artista de tecnologias criativas, Marcela Mancino, que já trabalhava comigo como VJ/iluminadora em alguns shows.
Ainda, sobre o nome do disco, “Fratura Exposta”, vem em um sentido quase literal: ao expor o que está quebrado é possível reconhecer o que e onde dói e acolher o que se sente. Sendo assim, vejo a cura como o objetivo, mas o caminho a se percorrer para chegar nela é longo e os passos são lentos (risos).
Nessa perspectiva, antes de se chegar à cura, é preciso passar por todo o trajeto intenso e horroroso da dor. Além disso, ao longo do álbum, constato minha persistência, quase inevitável, em me quebrar, ou me colocar em situações que me levem a fragilidades emocionais, que neste disco dei o nome de fraturas.
Sobre a capa, aponto para uma mensagem (escondida) nas bordas: “Que a dor se transmute em cura” é o significado do primeiro símbolo da arte, no topo da imagem. Ele é um sigilo de magia criado pela artista visual Sayuri Kashimura, que assina a capa do disco. Os sigilos são uma representação simbólica do resultado desejado por um praticante de magia. Nem eu e nem a Say somos praticantes de magia, mas acabamos entrando nessa pelo conceito (risos). Então, o desenho veio do desejo que tive em relação ao álbum e assim a Sayuri o traduziu da frase para símbolo.
Por fim, deixo o convite a todos que forem ouvir o disco, que permitam seus sentimentos ruins e lado de sombras (das coisas desconhecidas) virem, e quem sabe ao se tornarem conhecidos, que te levem para o caminho da cura 🙂
LINKS:
Site / Clipe interativo: https://marcela.xyz/tronodelotus
Spotify: https://open.spotify.com/artist/1cvMWFrJ0yoSVMfP43Lvro?si=8mrjft17REC-FSCdq6wxfg
Instagram: https://www.instagram.com/katzesoundz/
Soundcloud: https://soundcloud.com/katzesoundz