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Cynthia Becker

Foto: Elenize Dezgeniski

Escrevo à procura de uma linguagem para o invisível.

Compreender outra ordem…

A dramaturgia é como ouço, então escrevo.

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O negativo é a memória.
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Levantou, abriu a porta e foi embora. Não quis se expor. Fotossensível acredita o que lembra ainda existe.

Mas não existe.

-O corpo gravado pelo betume a imagem distorcida desaparece.
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Imagem queimada
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O desaparecimento das coisas:

-Pétala na luz negra placa de prata a noite desintegra o dia um flash de memórias o girassol se põe.

-E você vive o que não existe mais quanta bestice lembrar intoxica. Alivie-se. O esquecimento é um ato de amor o delírio, um afago. -Um dia, eu vi as cores invertidas de todas aquelas pessoas. Self de olhos corpo invertido no caminho que se segue, então, soltei-me do caminho sem corpo o alivio pelo desaparecimento das lembranças imersa no céu livre da superfície de negros pastos, o betume pesado dispositivo de plástico.
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O movimento das nuvens

Slides

Paisagem circundante da vida

Fotografia impermanente.
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-Ela voltou abriu a porta se expôs ela, gravada pelo sol.
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A sua última imagem.
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-Onde fica o que não lembro.
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INUMA

(Expansão I)
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O crânio enrolado no lençol.

-Tire um milagre daí.

O resto de brilho sobre a cabeça da morte.

Um corpo de cristal perfurado com tubos de luz escoa o vermelho fincado no esparadrapo. O azul ciano olha, não sei se reconhece. a mulher do dedo amputado virou de costas, não dá pra dormir na luz do hospital. chegam pra limpar. na pia do banheiro o tubo entupido do furo do pescoço escoa. escorre. escorre. faltou sangue.o ar circula pela metade.

está meio viva

meio agonizada
inteira torta
e por dentro coagulada
acenou
levantou pra ir ao banheiro
musicou o zumbido que ouvia
vamos embora
no silêncio dos órgãos
já sem os tecidos
canta sem oxigênio
de cortinas abertas
um vulto alado de tocha apagada:
Vem, vem ser como sombra
a paisagem num circulo delirante da vida inteira
derruba a bússola dos sentidos
quebra
me corta da carne
dilata sensações
voe sobre
sobre
de cima
flutuando

sobre
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o tormento:
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Num fundo negro meus membros não se movem.
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o espaço cresce entre eles.
distribuem-se no vazio do quarto.
o vácuo absoluto.
.a luz que não escapa.
.um espaço para Deus cada vez menor toma conta de mim.
…………….batem na porta: Envelheci
…………….respondo de outra forma.
…………….de outro lugar.
…………….o calor mil vezes mais baixo.
…………….comprimo.
…………….escapo pela janela.
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no invisível tem cor.
escura.
um nada cheio de energia escura

-Celeste.
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A dama morta construiu feridas no cérebro enquanto vivia.
morreu várias vezes enquanto vivia.
perdidos entre lápides.
o filho aponta.
embaixo da árvore crava um girassol.
a mãe da mãe descansa num vestido de festa.
deixa crescer aos poucos o cabelo e as unhas.
rejuvenesce maquiada.
na foto eu sorrindo de pé aos seus pés
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-Num lugar sem gravidade descalça senti saudades de você.
estava livre.
eu quis também e fui embora.
eu repetida em você.
marco o caminho com suas cinzas.

……………………………………………………………………marco o caminho com minhas cinzas.

o flash da foto cintila o colapso.
a mente se despedaça.
é expelida do eixo

-A forma se espalha.
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EXUMA
(Expansão II)
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E o universo não estava lá.
uma explosão.
de repente o espaço e o tempo.
arrastada pelo negro a Terra se inclina.
se joga na órbita.
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-Você já vivia antes da vida?
porque você veio. lembra?
presa à Terra mas a terra se abriu.
você foi engolida.
comeram a sua carne.
devoraram os seus olhos.
oca entre ossos.
o coração entre formigas.

a portadora da luz criada e destruída.
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-Veja.
Estão demolindo seu templo de mármore, tem luz debaixo da poeira.
……………………………………………………………………………………………..o sol enterrado.
……………………………………………………………………………………………..irradiando.
……………………………………………………………………………………………..o milagre cravado.
……………………………………………………………………………………………..no corpo de cristal.
……………………………………………………………………………………………..talhado.
……………………………………………………………………………………………..polido.
…………………………………………………………………………………………………….terminado num entulho do templo um pássaro pousa no amontoado de resto

-dê uma alma aos ossos.

O pássaro fisga. o crânio. desintegra na nuvem de poeira.

…………………………….– nebulosa.
…………………………….a estrela morta.
…………………………….cai.
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O pássaro pia:
– Você não existe.
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-Ele canta no meu ouvido: – Você não existe.
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R.You!
Ei, artista! Você mesmo! Estamos procurando gente nova! Esse espaço é destinado a divulgar o trabalho dos novos nomes das artes, seja em música, artes visuais, literatura, o que for. Se você tem uma produção para mostrar ao mundo e quer estrelar uma de nossas edições, entre em contato conosco em contato@rnottmagazine.com

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