Formado por Husam Hamumi e Nerea Mafarki, Sueños de Azahar é um reencontro, através da música, entre a Espanha e o mundo árabe, com músicas tradicionais de diversos países árabes e composições próprias em que se misturam os idiomas espanhol e árabe. Um componente muito importante também é a parte espiritual, a busca de fazer o espectador passar por uma jornada na qual ele se lembre de sua alma. Os instrumentos utilizados são o Ney, o Kawuala, o Kanun e as vozes de ambos os artistas. Em alguns concertos também ocorre a participação de convidados especiais e da dança dervixe giratório.
Entrevista por Romina J. Alves(1)
Tradução ao português por Tainã Rocha.
لاحت بنا الأيام في أحضان هواها
وهمت بنا في أحلام اليقضة
مبعثرة هي المشاعر …مداها
بعيد المسافة … قريب النسمة
التي تُحَس عند سماع صوتها
فتُنقع المسافة في لحظة
تَنْكَمِش، فأصير حراً بجوارها
(حسام حمومي )O tempo nos jogou no amor de seu abraço
E nos sonhos despertos de seu colo…
Se confundem sentimentos nesta longa distância
Ao ouvir sua voz, encontro seu fôlego e sua fragrância..
E é então que essa distância some em um instante e estou livre ao seu lado.
(Husam Hamumi)
Madrid, mês de julho, a noite de verão carrega um perfume de tílias e outras floras estrangeiras que ainda me esforço para decifrar. Marcas do triunfo de Eros sobre um mundo pós-pandêmico em plena resistência e recuperação dos requintados luxos oferecidos por uma noite de música étnica ao vivo, junto com outros, e em um dos mais belos anfiteatros da cidade. O Ateneo de Madrid, que com os seus dois séculos de história se perfumou nesta noite com as reminiscências do azahar que chega conduzido num encontro musical que celebra o vínculo inalienável entre a cultura árabe e hispânica.
Laço que, em nome de Eros, percebo travar sua batalha contra a tendência thanática do risco que encarna aquela “miséria psicológica das massas” de que Freud nos advertia em 1930(2), como um perigo “mais ameaçador onde os vínculos de uma sociedade são principalmente constituídos pelas identificações dos seus membros uns com os outros, enquanto que indivíduos do tipo de um líder não adquirem a importância que lhes deveria caber na formação de um grupo” (p, 112). Elucidação mais do que sugestiva em um mundo que se caracteriza por uma tendência cada vez mais homogeneizadora e padronizada dos produtos e consumos culturais, pela queda dos ideais e no qual a arte tem sofrido um dos ataques mais difíceis devido ao surgimento de diversos conflitos e crises que ocorrem na atualidade.
Ponto de emergência thanática em que “a cultura encontra seu maior estorvo na inclinação constitutiva dos seres humanos para a agressividade“, mas do qual, no entanto, emerge seu poder de mobilizar tudo para deter nossos impulsos agressivos, restringindo “por meio de formações psíquicas reativas” a sombra de Thanatos que representa “uma ameaça permanente de dissolução” (Freud, 1930. P, 109).
Penso nestas palavras do mestre e convicta do poder sublimador da cultura, e sobretudo no reconhecimento da mesma como processo a serviço de Eros e unificador da nossa humanidade, me ponho aí entre embriagadores sons do Oriente a sonhar junto com este agrupamento os “Sueños de azahar” que oferecem em sua expressão rica e comovente. O show não decepciona nem por um segundo o convite que sugerem em seu nome. Satisfeita com a viagem sensorial por esse mundo onírico de essências orientais, decido convidá-los para esta entrevista para compartilhar com vocês, leitores, um pouco dessa magia que vivi como espectadora. Não sem antes refletir sobre esta citação de Freud (1930, p. 140), que compartilho como sensibilização ao material desta entrevista:
“Os homens adquiriram sobre as forças da natureza um tal controle, que, com sua ajuda, não teriam dificuldades em se exterminarem uns aos outros, até o último homem. Sabem disso, e é daí que provém grande parte de sua atual inquietação, de sua infelicidade e de sua angústia. Agora só nos resta esperar que o outro dos dois ‘Poderes Celestes’, o eterno Eros, desdobre suas forças para se afirmar na luta com seu não menos imortal adversário”.
Esforço que presencio em uma noite de Dervixes giratórios, lamentos na voz, instrumentos ancestrais e o diálogo entre duas culturas, modos em que Husam Hamumi e Nerea Mafarki, que compõem “Sueños de Azahar”, conjuram Thanatos. Esses artistas me contam que se trata de um reencontro musical entre a Espanha e o mundo árabe, com músicas tradicionais de diferentes países árabes e composições próprias em que se misturam as línguas espanhola e árabe. Um componente muito importante também é a parte espiritual, a busca de fazer o espectador percorrer uma jornada na qual ele consiga lembrar de sua alma. Os instrumentos utilizados são o Ney, a Kawuala, o Kanun e as vozes de ambos os artistas. Em alguns concertos há também a participação de convidados especiais, e de dança o dervixes giratórios. Vamos ouvi-los nestas letras…
Como surgiu esse encontro entre vocês?
N: Nós dois temos um amigo em comum chamado Francisco Javier Esposito que escreve e de vez em quando faz reuniões onde apresenta livros, recita partes de livros e nesse momento havia lançado um sobre sua experiência em uma viagem ao deserto e eu convido Husam para acompanhá-lo. Também tinha me convidado e nos conhecemos lá porque íamos fazer algo juntos e não nos conhecíamos, então comecei a conversar com ele porque tínhamos que nos conectar. Foi um primeiro encontro muito improvisado, mas bonito.
H: Saiu muito bem, e a verdade é que notei que Nerea tem uma alma muito livre em seu jeito de ser, em seu sorriso muito simples e sincero, isso, acima de tudo. Lembro que ela me disse: “Estou muito nervosa, e não sei o quê” e eu disse a ela: “Não se preocupe, você vai cantar e eu te acompanho. Vamos nos conectar perfeitamente”. Eu queria dar a ela um pouco de confiança porque era a primeira vez que íamos tocar juntos e eu não sabia como ela cantava, nem ela como eu tocava, então foi como dizemos em espanhol, “al Azahar”(3).
Como um encontro às cegas
H: Isso, isso…
N: Encontro musical…
H: Bom, deu muito certo, as pessoas se conectaram, que é o que mais nos interessa sempre. E então quando já havíamos conversado descobrimos que tínhamos o mesmo interesse musical… Nosso gosto não é tocar ou cantar, é transmitir. Quando temos uma conexão com as pessoas… e vemos isso depois do show. O interesse das pessoas que nos conhecem, a gratidão que nos dá e queremos que venham o mais rápido possível falar conosco. É isso que nos dá essa sensação bonita, e o que nos faz seguir são as pessoas. É por isso que sempre tentamos dar o melhor de nós mesmos, de nossas almas, é como extrair o suco de nós mesmos, o mais essencial. E somos exigentes em extrair coisas bonitas e a verdade, brota.
E é apreciado. Como espectadora, consegui captar isso que comentam. Fascinação, a química desse encontro é perceptível. Dá para ver esse diálogo com o público. Quando se trata de encontros às cegas, o inesperado sempre surge, e as melhores combinações podem vir do inesperado e do improviso. A conexão com o público é visível.
H: Isso nos conectou com a música e eu tive mais vontade de conhecê-la pessoalmente e que ela me conhecesse. Para encontrar uma pessoa com quem você possa se conectar musicalmente, não é fácil.
N: Bem, sim, encontrar a sensação de que não é apenas um negócio, um trabalho, mas que a conexão seja também familiar. Que nasça do coração e que a isso seja colocada a música.
Como surgiu o nome Sueños de Azahar?
N: Não sei por que, acontece que quando íamos fazer nosso primeiro show juntos, em dupla, embora outros artistas convidados tivessem vindo, bem, tínhamos que encontrar um nome e não sei por que vinha o tempo todo na minha cabeça “sonhos de jasmim” “de azahar” algo assim. Não foi algo logicamente meditado, mas foi algo que apareceu na minha cabeça, o sentia e lhe disse: “Não consigo pensar em outra coisa, Husam, só consigo pensar nisso”.
H: E a verdade é que eu sou um pouco mais lógico, e como a conheço, eu lhe disse “busque, tenho certeza que você vai encontrar algo bonito. Tenho certeza disso”.
E algo muito representativo saiu disso.
N: Sim, conte sobre seu amigo e o livro.
H: E um pouco antes de tocarmos no show, meu amigo descobriu porque ele tinha feito o flyer do show e a apresentação com um pequeno vídeo que nós fizemos e então ele me diz: “Eu tenho um livro chamado a cultura de azahar que acabei de trazer e que fala da cultura de azahar no Al-Andaluz. E das pessoas e das mulheres quando se relacionavam”, me enviou algumas partes e foi uma coincidência impressionante. Nós em Marrocos temos a cultura do azahar, por exemplo: colocamos no chá e temos nas ruas. Se você andar pela rua na primavera está tudo cheio de azahar e você pode colher de graça, sabe… nem sequer se vende. E isso transmite o que o livro conta, e isso me faz querer ler mais, sabe… saber mais sobre essa cultura do azahar, olha que curioso que foi algo que ela pensou e que se trata de coisas que são intangíveis, mas tão presentes. Que se sentem mais do que se dizem, que não se transmitam com palavras e se relacionam.
É impressionante o que contam sobre a história de como surgiu este nome porque, justamente, o azahar é um elemento mítico e místico na cultura árabe e, especificamente, no tocante a Al-Andaluz. E a lenda do amor que contém a flor de azahar, de laranjeira, onde inclusive se comete um crime por amor. Isso fala dessa conexão inexplicável e intrínseca, especialmente de Nerea. A sua intuição é notável, ao restituir no “sonho de azahar” algo que tem a ver com a essência da cultura árabe e da música que transmitem.
H: Pois, e olhe que foi uma data muito ruim. Era uma quinta-feira, que é um dia muito ruim para fazer um show porque todo mundo está cansado do trabalho e não vai a um show, e nós conseguimos e enchemos, e as pessoas ficaram surpresas.
N: As pessoas estavam emocionadas.
H: Saiu instantaneamente a intro. A gente se conecta muito, isso não é tão comum, que você se conecte com um músico ou cantor, espiritualmente, porque tem gente que toca muito bem, pra caramba, e tem gente que é muito narcisista, que só quer aparecer. Eu e ela temos aquela coisa de que gostamos de conciliar, posso tocar sozinho, mas é uma coisa que vai além e que se trata de compartilhar porque a música não é tocar bem, é tocar bem os corações, dar-lhe esse sentido.
Então foi tudo um azahar, uma sorte.
H: Sim, em árabe azahar também é sorte. Na língua marroquina, sorte é Az-zahr, se tiver sorte tem Zar. Azahar está relacionado com a sorte, sabe… Engloba muitas coisas e é isso que nós dois valorizamos, inclusive na música que fizemos no álbum de Nerea.
N: No meu álbum compusemos uma música juntos. Meu álbum tem capítulos, é como se fosse uma viagem. Por isso quis que essa música fosse algo super espiritual, queria que fosse em árabe e pensei “tem que sair Husam, tocar, cantar”, então propus a ele e foi lindo.
H: Eu não tinha ideia do que ia cantar, nem tocar ou fazer… e digo: “o que vamos fazer”, fizemos umas letras bem normais, e bom, sou árabe e entendo de poemas e tal e digo… isso não me soa familiar, mas tem a base. Cada um tem uma especialidade em algo e eu respeito isso… tenho meu tio no Marrocos que é poeta profissional e liguei para ele, logo me respondeu e disse “não, essa palavra não funciona, funciona assim” e foi nos corrigindo frase por frase até que saiu.
N: O mágico foi que não pudemos nos ver até o dia da gravação, fizemos no mesmo dia, ficamos até meia-noite. Vai ser uma surpresa.
Como você vê a cena musical atual em Madrid, a receptividade para este tipo de produto musical mais de estilo étnico?
N: Bem, eu acho que existe um público muito aberto e sensível para esse tipo de música. Talvez não seja o público que normalmente só ouve o que está na rádio, porque sei que para essas pessoas não é tão fácil se conectar, mas vejo que tem um público que está procurando o nosso estilo.
H: Eu acho que o mercado é livre, é verdade que estamos em uma época de consumo daquilo que é rápido, como é o caso do fast food… não somos mais de comida caseira, para comparar… Ainda assim, a comida de casa é a melhor, porque é aquela que é feita com amor, não é feita para um cliente, ajustando ao gosto e indo contra o que é saudável e além disso tem bom sabor. Eles não pensam, querem que você volte a consumir e seja um consumidor contínuo, isso também acontece na música. Na música há algo psicológico, musicalmente a mente humana prefere algo repetitivo. Acontece até comigo, e eu sou músico, posso ouvir uma música muito feia e detestá-la e de repente ela está se repetindo na minha mente, e é um efeito da música repetitiva, não polida. Tem efeitos, como você sabe, agora com o desenvolvimento da tecnologia, a música pode ser arranjada com efeitos para que tudo saia perfeito e também os produtores conhecem as frequências musicais que incomodam o ouvido, as coisas que são mais aceitáveis e as que não. Por isso, mesmo cantando uma música legal, você tem que levar para um produtor profissional para que ele faça isso para você, senão o som ficará muito ruim, o conteúdo pode ser bom, mas o som é ruim. Então eles jogam com o som para que fique legal, repetitivo e a letra o mais simples possível, aí o público comercial consome isso, as coisas mais simples e o nosso é um desafio porque a gente quer chegar no coração das pessoas. Mas não só para quem gosta do místico, da calma. Eu pessoalmente quero chegar a cada casa, a cada discoteca, mas com coisas bonitas, que possam ser ouvidas até para semear cultura, fazer as pessoas pensarem um pouco musicalmente, para se tornarem mais cultos musicalmente.
Por isso que eu perguntava sobre sua posição diante dessa indústria da música pré-fabricada. Como deve ser difícil muitas vezes tocar o coração do público quando hoje é tão difícil poder conectar-se com essa dimensão sensível e emocional. Como vocês conseguem alcançar o encontro com o mais essencial, já que o estilo de vocês aponta para isso?
N: No meu caso tenho consciência de que há pessoas que passam a apreciar a música que canto, seja ela qual for, porque se conectam mais comigo do que com a música, aparece uma fidelidade que tenho notado muito. Não sou de pensar em estratégias, na parte mais lógica… Faço o que sinto e pronto, fazemos o que sentimos e pronto. Então não sou boa em pensar no que fazer para que as pessoas me ouçam, é aí que preciso de mais ajuda.
Com certeza, e isso é o que resgato e o que me parece mais louvável em vocês porque justamente, vocês mantêm uma autenticidade diante de tanta formatação do mercado para dialogar com um público que não é um público qualquer. Porque, pelo menos como espectadora, vi em vocês essa marca distintiva, esse diálogo intercultural, esse resgate de uma raiz comum entre a Espanha e o mundo árabe. Um selo de etnicidade que nos convida a pensar e indagar essa história, graças ao qual descobri que existia a música andalusí, foi depois de conhecê-los que tive essa descoberta, sabia que existia música andaluza, mas não andalusí, o que podem me contar sobre isso? Husam, li que você tem formação nesse estilo.
H: Eu sempre digo que a música e a poesia são preservadas pelo povo. Na raiz de tudo estão as almas dos mortos e as marcas que nos deixaram e essas são as suas almas, sua música que se reflete no flamenco e na música andalusí de Marrocos. Então, quando você sente isso, você se conecta com aquilo que é familiar e se pergunta “de onde vem isso?”. E logo você se dá conta de que se trata das almas que não morrem, sobre o que não morreu… Então, na história houve tanta confusão que se você não se abrir ao conhecimento é difícil rastrear a essência. Houve um povo que viveu há 800 anos ou mais na Espanha. Os árabes, quando chegaram à Espanha, trouxeram anos de desenvolvimento, então Al-Andaluz foi um país muito forte culturalmente, trouxemos ciência, física, astronomia, tudo o que tínhamos, inclusive nossa música que se desenvolveu aqui na Espanha. Essa solidez e força se refletiu no povo, se fosse um povo instável não teria durado 800 anos e é isso que me surpreende e que gosto também. O legal é que havia uma convivência que me surpreende porque até agora não a temos.
As almas que não morrem em sua essência. Um artista é um representante da cultura de seu povo. É muito bonito ver a união de fronteiras que vocês geram neste dueto. E, honestamente, me surpreendi com a capacidade de Nerea de repôr o que não foi dito: foi para ela que se apresentou um “sonho de azahar” e nessa capacidade sonhadora ela repôs o sentido da união de vocês ao formar esses sonhos que nos fazem sonhar como público. Agora: Como foi a ideia de juntar essa coisa do dervixe giratório, a dança, fundir esses estilos?
N: Foi ideia dele e eu concordei porque queríamos que houvesse esse lado espiritual da vida, não religiosa, a parte espiritual ligada à nossa música. Então ele pensou que poderia ser bonito.
H: Essa dança, que algumas pessoas não consideram como dança, é mais um transe, uma reza, mas não em um plano religioso e sim uma conexão. Todo o universo está girando sobre si mesmo e se recria nesse ato o universo, seja o que for, há algo mágico que foi criado e temos que nos conectar com isso. O universo ou a natureza. E isso também acontece comigo quando vou a lugares de terra, piso nela, sinto a água correndo em minha pele, então me sinto conectado escutando apenas o vento roçando as folhas das árvores e os pássaros cantando, então eu relaxo. Eu me sinto relaxado, então essa dança vem do mesmo conceito, e a pessoa que a criou, Rumi, foi uma pessoa com ideias novas que se refletem em seus poemas. Ele chegou a uma conclusão à qual também cheguei: qual é a importância de todas as religiões? Temos que nos unir, a diferença de religião é uma riqueza, não é uma contradição, é uma riqueza que deve ser aproveitada nesse sentido e foi o que ele fez. Então, criou esse giro que é uma nova dança, conectando-se com o Ney, com a flauta, e as pessoas se conectavam com esses suspiros e com essa música. Ele tinha lugares privados onde podia praticar esses giros e se conectar melhor com a natureza porque o deus em que ele acreditava é o amor. Ele acreditava no amor e quando se ama não há condições, não existe diferença, branco, negro ou amarelo, tanto faz porque o amor em si é a conexão que temos com a natureza e a natureza é parte do universo, então temos que nos conectar com nós mesmos, depois com os outros e logo com a natureza e o universo.
E sempre incluem o giro ou alternam a dança? Quem é o dançarino?
H: Uma amiga, há muitos amigos e amigas que fazem o giro, que aqui na Espanha não é muito conhecido, por isso há poucas pessoas que fazem isso e principalmente poucas mulheres. Eu quero quebrar esse fio no palco, não importa se é mulher ou homem, importa que seja bem feito, que se gire bem e que haja uma conexão. E musicalmente, geralmente é tocado com música oriental ou turca, mas eu queria conectá-la com o Marrocos, porque no Marrocos não há dervixes giratórios, não existe, então eu peguei uma música muito famosa no Marrocos e o transe seguiu seu curso.
Eu gostaria de perguntar a Nerea como é interpretar um cancioneiro em árabe, você estudou essa língua?
N: Eu amo culturas e idiomas. Quando eu era criança estudava inglês porque era o que havia no instituto e sempre me conectei facilmente, e um ano quando fui para o Egito tive vontade de estudar árabe. O árabe egípcio tem suas nuances, mas decidi começar a aprender o árabe clássico por conta própria e tenho feito isso. É muito difícil para mim me organizar, mas eu me impunha uma certa ordem para aprender. Às vezes por causa do tempo eu não conseguia, mas se aprende muito cantando e eu estou percebendo que se sente muita diferença entre os idiomas quando você fala, canta, você se sente de maneira diferente, dependendo do idioma que você está usando. Você percebe isso também, Husam? É super interessante, e também acho que o árabe tem algo muito próprio, como se fosse cheio de símbolos e beleza…
H: O árabe clássico é a língua que tem mais sinônimos, mais palavras em todo o mundo. O árabe fusha, e o que significa fusha? Significa claro, o árabe claro. É por isso que no árabe clássico, as músicas são uma expressão e sentimentos muito profundos. Por exemplo, o leão em árabe tem muitos nomes, por exemplo, uma cabra, dependendo de como seja, tem um nome diferente, não usamos mais isso, mas em árabe clássico existe. Inclusive para nomear o amor tem níveis diferentes. Te amo, te quero, te adoro, em árabe existem mais dois valores e depende do momento em que você está.
Com essa riqueza de significados e vindos de diferentes culturas, como vocês conseguiram uma conexão tão profunda entre vocês?
H: Nós tivemos muita sorte, realmente. Já toquei com muitos músicos e com Nerea nos entendemos com o olhar, há uma inteligência musical muito profunda. É uma conexão que raramente ocorre, eu toco e ela direciona a voz na mesma direção. A conexão musical é como uma linguagem, são coisas que acontecem e não quero saber a explicação, acontecem por algo e pronto.
N: Não há uma maneira lógica de encontrar uma explicação para isso, é um instante. Tenho notado com outras pessoas com quem cantei, podem usar os mesmos instrumentos, tocar o mesmo, mas nunca é a mesma coisa. Quando ele não está, sinto falta dele porque não sinto essa conexão, não acontece esse entendimento sem falar. Temos uma amizade que gostamos muito e acho que o público se conecta com essa energia. É o que gostamos de transmitir e o que esperamos que quem nos lê possa sentir.
Tenho certeza que assim será, as palavras cruzam fronteiras, os sentimentos ainda mais. Muito obrigada por nos permitir sonhar estes Sueños de Azahar.
Madrid, 20 de Julho de 2022.
(1) Psicóloga clínica. Psicanalista membro associado da Asociación Psicoanalítica Argentina (APA) e da Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Membro convidado da Asociación Psicoanalítica de Madrid (APM).
(2) Freud, S. (1930). El malestar en la cultura. Buenos Aires: Amorrortu Editores.
(3) Poderíamos traduzir essa expressão no sentido de “por obra do acaso”, em espanhol a expressão coincide fonologicamente com o Azahar, no sentido da flor da laranjeira.
Husam Hamumi
Músico formado pelo Conservatório de Música Andalusí de Fez; Marrocos; Assim, teve a oportunidade de tocar vários tipos de música árabe-andalusí e turca, participando em diversos festivais e eventos nacionais e internacionais como: Festival de Música Sacra 2012 de Fez, Marrocos; Festival “Les nuit d’orient” Dijon França; festival “Al mutamid” Portugal; festival “Folk” Saragoça Espanha; Festival Tollwood Munique Alemanha; e vários eventos e concertos na Espanha e fora da Espanha.
Nerea Nefarki
Começou a trabalhar em sua voz e outros aspectos como musicista e artista na Fundação da Música Moderna em Avilés, Astúrias (sua terra natal), com a professora de canto e música Ariane Valdivie e a pianista e professora Elena Díaz. Continuou em Madrid na Escola de Artistas Jesús Yanes. Também teve contato com a cantora e coach vocal Mónica Benito. Além disso, iniciou uma formação em músicas árabes com o músico e maestro Wafir S. Gibril; música carnática do sul da Índia com Narendra Bhaskar que é músico e maestro; percussão africana com o maestro Fale, em Etnopercussão; produção com o músico e produtor Bruno Travi (que também faz parte de seus projetos); e dança oriental com a professora Sahra Ardah. Ao longo do caminho, aproveitou oportunidades muito variadas e em diferentes estilos para crescer e aprender neste campo, mas, acima de tudo, para se encontrar na sua música.
Versión en Español
لاحت بنا الأيام في أحضان هواها
وهمت بنا في أحلام اليقضة
مبعثرة هي المشاعر …مداها
بعيد المسافة … قريب النسمة
التي تُحَس عند سماع صوتها
فتُنقع المسافة في لحظة
تَنْكَمِش، فأصير حراً بجوارها.
(حسام حمومي )Nos ha arrojado el tiempo en el amor de su abrazo
Y en los sueños despiertos de su regazo…
Se confunden los sentimientos en esta larga distancia
Al oír su voz encuentro en su aliento su fragancia…
Y es entonces que se esfuma en un instante esa distancia y soy libre a su lado.
(Husam Hamumi)
Entrevista por Romina J. Alves(1)
Madrid, mes de julio, la noche de verano carga un perfume de tilos y otras floras foráneas que aún me empeño en descifrar. Marcas del triunfo de Eros sobre un mundo post pandémico en plena resistencia y recuperación de los lujos exquisitos que ofrece una noche de música étnica en vivo, junto a otros, y en uno de los anfiteatros más bellos de la ciudad. El Ateneo de Madrid, que con sus dos siglos de historia se ha perfumado en esta noche de las reminiscencias del azahar que llega conducido en un encuentro musical que celebra el lazo irrenunciable entre la cultura árabe e hispana.
Lazo que, en el nombre de Eros, percibo librando su batalla contra la tendencia tanática del riesgo que encarna aquella “miseria psicológica de la masa” de la que Freud nos advertía en 1930(2), en tanto peligro que “amenaza sobre todo donde la ligazón social se establece principalmente por identificación recíproca entre los participantes, al par que individualidades conductoras no alcanzan la significación que les correspondería en la formación de masa” (p, 112). Elucidación más que sugerente en un mundo que se caracteriza por una inclinación cada vez más homogeneizadora y estandarizada de los productos y consumos culturales, la caída de los ideales y en el que el arte ha sufrido uno de los embates más difíciles por la emergencia de los diversos conflictos y crisis acaecidas en nuestra actualidad.
Punto de emergencia tanática en el que “la cultura encuentra en la inclinación agresiva del hombre su obstáculo más poderoso”, pero del que sin embargo emerge su poder de movilizarlo todo para poner coto a nuestras pulsiones agresivas, sofrenando “mediante formaciones psíquicas reactivas” la sombra de Thánatos que representa “una permanente amenaza de disolución” (Freud, 1930. P, 109).
Pienso en estas palabras del maestro y convencida del poder sublimador de la cultura, y por sobre todo en el reconocimiento de la misma como proceso al servicio del Eros y unificador de nuestra humanidad, me dispongo allí entre embriagantes sonidos de oriente a soñar junto a esta agrupación los “sueños de azahar” que ofrecen en su rica y conmovedora expresión. El show no defrauda ni un segundo el convite que sugieren en su nombre. Grata por el viaje sensorial por aquel mundo onírico de orientales esencias, decido invitarlos a esta entrevista para compartir con ustedes, lectores, un poco de esta magia que he vivido como espectadora. No sin antes reflexionar sobre esta cita de Freud (1930, p. 140), que comparto como sensibilización al material de esta entrevista:
“Hoy los seres humanos han llevado tan adelante su dominio sobre las fuerzas de la naturaleza que con su auxilio les resultará fácil exterminarse unos a otros, hasta el último hombre. Ellos lo saben; de ahí buena parte de la inquietud contemporánea, de su infelicidad, de su talante angustiado. Y ahora cabe esperar que el otro de los dos poderes celestiales, el Eros eterno, haga un esfuerzo para afianzarse en la lucha contra su enemigo igualmente inmortal.”
Esfuerzo que atestiguo en una noche de giros Derviches, lamentos en la voz, instrumentos ancestrales y el diálogo entre dos culturas, modos en los que Husam Hamumi y Nerea Mafarki, quienes conforman “Sueños de Azahar”, conjuran a Thánatos. Estos artistas me cuentan que se trata de un reencuentro musical entre España y el mundo árabe, con canciones tradicionales de distintos países árabes y composiciones propias en las que se mezclan la lengua española y la árabe. Un componente muy importante también es la parte espiritual, la búsqueda de hacer pasar el espectador por un viaje en el que logre recordar su alma. Los instrumentos usados son el Ney, la Kawuala, el Kanun, y las voces de ambos artistas. En algunos conciertos también surge la participación de invitados especiales, y de baile de giro derviche. Escuchémoslos en estas letras…
¿Como fue que surgió este encuentro entre ustedes?
N: Ambos tenemos un amigo en común que se llama Francisco Javier Esposito que escribe y que de vez en cuando hace unos encuentros donde presenta libros, recita partes de libros y justo había sacado uno sobre una experiencia de él sobre un viaje al desierto y lo llamo a Husam para acompañarle. También me había invitado a mí y allí nos conocimos porque haríamos algo juntos y no nos conocíamos, entonces yo me puse a hablarle porque teníamos que conectar. Fue un primer encuentro muy improvisado, pero bonito.
H: Salió muy bien, y la verdad es que noté que Nerea tiene un alma muy libre en su manera de ser, en su sonrisa muy simple y sincera, eso, sobre todo. Recuerdo que me dijo: “estoy muy nerviosa, y no sé qué” y le digo: “No te preocupes, tú vas a cantar y yo te sigo. Nos vamos a conectar perfectamente”. Quería darle u poco de confianza porque era la primera vez que íbamos a tocar juntos y no le conocía como cantaba, ni ella como yo toco así que ha sido como al Azahar.
Como una cita a ciegas.
H: Eso, eso…
N: Cita musical…
H: Y nada, pues, ha salido muy bien, la gente se conectó, que es lo que más nos interesa siempre. Y luego cuando ya habíamos hablado descubrimos que tenemos el mismo interés musical… El gusto nuestro no es tocar o cantar, es transmitir. Cuando nosotros tenemos una conexión con la gente… y eso lo vemos después del concierto. El interés de la gente que nos conoce, el agradecimiento que nos da y queremos que se acerquen lo más rápido posible para que hablen con nosotros. Eso es lo que nos da ese sentimiento bonito, y lo que nos deja seguir es la gente. Por eso intentamos siempre dar lo mejor de nosotros, de nuestras almas, es como sacar el jugo de nosotros mismos, lo más esencial. Y somos exigentes en sacar cosas bonitas y la verdad, nos sale.
Y se aprecia. Como espectadora logré captar eso que comentan. Fascinación, se nota la química de ese encuentro. Se nota ese diálogo con el público. En esto de las citas a ciegas siempre surge lo inesperado, y de lo inesperado y la improvisación pueden darse las mejores combinaciones. Se nota la conexión con el publico.
H: Eso nos ha conectado con la música y yo tuve más ganas de conocerla en persona y de que ella me conozca. Para que encuentres una persona que puedes conectar con ella musicalmente, no es fácil.
N: Pues sí, encontrar la sensación de que no solo sea un negocio, un trabajo, sino que la conexión sea también familiar. Que surja desde el corazón y que a eso se le ponga la música
¿Cómo fue que surgió este nombre de sueños de Azahar?
N: Es que no sé por qué, sucede que cuando íbamos a dar nuestro primer concierto juntos, como dúo, aunque habían venido otros artistas invitados, pues teníamos que encontrar un nombre y no sé por qué a mí todo el rato se me venía “sueños de jazmín” “de azahar” algo así. No fue algo meditado de manera lógica, sino que era algo que se me aparecía en la cabeza, lo sentía y le dije, “no se me ocurre otra cosa, Husam, solo se me ocurre esto”.
H: Y la verdad soy un poco más lógico, y como la conozco, le dije “busca tú, seguro que te va a salir algo bonito. Estoy seguro de eso”.
Y le salió algo muy representativo.
N: Sí, cuéntale luego lo de tu amigo y el libro
H: Y luego antes de que toquemos en el concierto, se enteró mi amigo porque se había hecho el flyer del concierto y la presentación con un video pequeño que habíamos hecho y entonces él me dice: “tengo un libro que se llama la cultura de azahar que acabo de traerlo y que habla de la cultura del azahar en el Al-andaluz. Y de la gente y las mujeres cuando se relacionaban”, me mando unas partes y fue una casualidad impresionante. Nosotros en Marruecos tenemos la cultura del azahar, por ejemplo: lo ponemos en el té y lo tenemos en las calles. Si pasas por la calle en primavera este todo lleno de azahar y puedes cosecharlo gratis, sabes… ni siquiera se vende. Y eso transmite lo que cuenta el libro, y eso me da más ganas de leerlo sabes… Y saber más de esa cultura del azahar, fíjate que curioso cómo fue algo que le surgió a ella y que se trata de cosas que son intangibles, pero tan presentes. Que se sienten más que se dicen, que no se transmiten con palabras y se relacionan.
Es notable lo que cuentan sobre la historia de cómo surgió este nombre poque, justamente, el azahar es un elemento mítico y místico en la cultura árabe y, específicamente, en lo que fue el Al-andaluz. Y la leyenda de amor que encierra la flor de azahar, donde incluso se comete un crimen por amor. Esto habla de esa conexión inexplicable e intrínseca, sobre todo de Nerea. Su intuición es notable, al reponer en el “sueño de azahar” algo que tiene que ver con la esencia de la cultura árabe y la música que transmiten.
H: Pues, y fíjate que era una fecha muy mala. Era un jueves, que es un día muy malo para montar un concierto porque todo el mundo está cansado del trabajo y no se va a un concierto, y lo hemos llenado y la gente salió sorprendida.
N: La gente estaba emocionada.
H: Salió al instante lo de la intro. Nos conectamos mucho, eso no es tan habitual, que te conectas con un musico o cantante, espiritualmente, porque hay gente que toca muy bien, de la ostia y hay gente que es muy narcisista, que solo quiere aparecer. Ella y yo tenemos eso de que nos gusta compaginar, yo puedo tocar solo, pero es algo que va más allá y que se trata de compartir porque la música no es tocar bien, de lo que se trata es de tocar los corazones bien, es como darle ese sentido.
Entonces fue todo un azahar, una suerte.
H: Sí, en árabe también azahar es la suerte. En idioma marroquí, la suerte es Az-zahr, si tienes suerte tienes Zar. Azahar tiene relación con la suerte, sabes… Encierra muchas cosas y eso lo que valoramos los dos, incluso en el tema que hemos hecho en el disco de Nerea.
N: En mi disco hemos compuesto una canción juntos. Mi disco tiene como capítulos, es como si fuera un viaje. Por eso quise que esta canción fuese algo super espiritual, quería que fuese en árabe y pensé “tiene que salir Husam, tocar él, cantar”, entonces se lo propuse y fue hermoso.
H: No tenía idea de lo que iba a cantar, ni a tocar, ni a hacer… y digo: “qué vamos a hacer”, sacamos unas letras muy normales, y pues soy árabe y entiendo en poemas y tal y digo… eso no me suena, pero ha tenido la base. Cada uno tiene una especialidad en algo y lo respeto… tengo mi tío en Marruecos que es poeta profesional y le llame, justo me contesta y me dijo “no, esa palabra no va, va así” y nos fue corrigiendo frase a frase hasta que salió.
N: Lo mágico fue que no nos habíamos podido ver hasta el día de la grabación, lo hemos hecho en el mismo día, nos hemos quedado hasta la medianoche. Va a ser una sorpresa.
Cómo ven la escena musical actual de Madrid, la receptividad hacia este tipo de producto musical más de estilo étnico.
N: Pues yo si pienso que hay un público muy abierto y sensible hacia este tipo de música. Tal vez no es el público que suele escuchar solo lo que hay en la radio, porque sé que a esas personas no les resulta tan fácil conectar, pero veo que hay público que busca nuestro estilo.
H: Yo pienso que el mercado es libre, si es verdad que estamos en una época de consumo de lo rápido, como pasa con la comida rápida… ya no somos de comida de casa, por dar una comparación… Aun así, la comida de casa es la mejor, porque es la que se hace con amor, no se cocina para un cliente, ajustando a gusto y yendo en contra de los que es sano y además sabe bien. Ellos no piensan, piensan en que vuelvas a consumir y seas un consumidor continuo, eso pasa también en la música. En la música hay algo psicológico, musicalmente la mente humana prefiere algo repetitivo. Incluso a mí me pasa, y soy músico, puedo escuchar una canción muy fea y la odio y de repente se está repitiendo en mí mente, y es un efecto de la música repetitiva, no pulida. Tiene efectos, como ya sabes, ahora con el desarrollo de la tecnología la música se puede arreglar con efectos para que salga todo perfecto y también los productores conocen las frecuencias musicales que le molestan al oído, las cosas que son más aceptables y las que no. Por eso, aunque cantes una canción bonita tienes que llevarla a un productor profesional que te lo haga, sino el sonido va a ser muy feo, el contenido puede ser bueno, pero el sonido feo. Entonces ellos juegan con el sonido para que salga bonito, repetitivo y las letras lo más sencillas posibles, entonces el público comercial consume eso, las cosas más sencillas y lo nuestro es un desafío porque queremos llegar a los corazones de la gente. Pero no solo a la gente que le guste lo místico, la calma. Yo personalmente quiero llegar a toda casa, a toda discoteca, pero con cosas bonitas, que se puedan escuchar incluso para sembrar cultura, dejar a la gente pensando un poco musicalmente, para tornarse más cultos musicalmente.
Por eso preguntaba sobre vuestra posición ante tanta industria de música prefabricada. Lo difícil que es muchas veces que debe resultar tocar el corazón del publico cuando hoy en día es tan difícil poder conectar con que existe esa dimensión sensible y emocional. ¿Cómo se llega entonces a poder lograr el encuentro con lo más esencial, siendo que vuestro estilo apunta a esto?
N: En mi caso soy consciente de que hay personas que vienen a apreciar la música que yo canto, sea la que sea, pero porque conectan conmigo más que con la música, aparece una fidelidad que he notado bastante. Yo no soy de pensar en estrategias, en la parte más lógica… yo hago lo que siento y ya está, hacemos lo que sentimos y ya está. Entonces no se me da bien ponerme a pensar como hago para que la gente me escuche, ahí sí que necesito más ayuda.
Por supuesto, y esto es lo que rescato y lo que me parece más loable de ustedes porque justamente, mantienen una autenticidad ante tanto formateo del mercado para dialogar con un público que tampoco es cualquier público. Porque, por lo menos como espectadora, vi ese sello distintivo en ustedes, ese diálogo intercultural, ese rescate de una raíz común entre España y el mundo árabe. Un sello de etnicidad que convoca a pensar e indagar esa historia, gracias a lo cual descubrí que existía la música andalusí, fue a partir de encontrarlos a ustedes que tuve ese descubrimiento, yo sabía que existía la música andaluza, pero no andalusí, ¿qué pueden contarme de esto? Husam, he leído que tú tienes formación en este estilo.
H: Siempre digo que a la música y al poema quien los conserva es el pueblo. En la raíz de todo están las almas del pueblo muerto y los sellos que nos han dejado y esas son sus almas, su música que está reflejada en el flamenco y en la música andalusí de marruecos. Entonces cuando lo sientes conectas con su parecido y te preguntas “¿de dónde viene esto?”. Y luego caes en la cuenta de que se trata de las almas que no mueren, de lo que no ha muerto… Entonces, en la historia ha habido tanta confusión que si no te abres al conocimiento es difícil rastrear la esencia. Había un pueblo que vivía hace 800 años o más en España. Los árabes, cuando llegaron a España, han aportado años de desarrollo, entonces el Al-andaluz ha sido un país muy fuerte culturalmente, hemos aportado ciencia, física, astronomía, todo lo que teníamos, incluso nuestra música que se ha desarrollado aquí en España. Esta solidez y fortaleza se reflejaba en el pueblo, si hubiese sido un pueblo inestable no hubiese durado 800 años y eso es lo que me sorprende y me gusta también. Lo genial es que había una convivencia que me sorprende porque hasta ahora no la tenemos.
Las almas que no mueren y su esencia. Un artista es un representante de la cultura de su pueblo. Es muy bello ver la unión de fronteras que ustedes generan en este dueto. Y, sinceramente, quedo sorprendida con la capacidad de Nerea de reponer lo no dicho: a ella se le represento un “sueño de azahar” y en esa capacidad de ensoñación repuso el sentido de vuestra unión al formar estos sueños que nos hacen soñar a nosotros como público. Ahora: ¿Cómo fue la idea de agregar esto de los giros derviches, la danza, fusionar estos estilos?
N: Fue idea de él y luego estuve de acuerdo porque nos apetecía que estuviese ese lado espiritual de la vida, no religiosa, la parte espiritual ligada a nuestra música. Entonces a él se le ocurrió que podría ser bonito.
H: Esa danza, que algunas personas no lo consideran como baile, es más un trance, un rezo, pero no en plan religioso sino una conexión. Todo el universo está girando en sí mismo y se recrea en ese acto al universo, lo que sea, hay algo mágico que se ha creado y tenemos que conectar con eso. El universo o la naturaleza. Y eso me pasa también cuando voy a sitios de tierra, la piso, siento el agua corriendo en mi piel, entonces me siento conectado escuchando solo el viento rozando las hojas de los árboles y los pájaros cantando, entonces me relajo. Yo me siento relajado, entonces esa danza viene del mismo concepto, y la persona que lo creo, Rumi, fue una persona con ideas nuevas que se reflejan en sus poemas. Él llego a una conclusión a la cual también llegue: ¿cuál es la importancia de todas las religiones? Tenemos que unirnos, la diferencia de religión es una riqueza, no es una contradicción, es una riqueza que hay que aprovechar en ese sentido y es lo que hizo él. Entonces, creo ese giro que es un baile nuevo, conectándose con el Ney, con la flauta, y la gente se conectaba con esos suspiros y con esa música. Él tuvo lugares privados, suyos en donde poder practicar ese giro y poder conectarse mejor con la naturaleza porque el dios en el que él creía es el amor. Él creía en el amor y cuando amas no hay condiciones, no existe diferencia, blanco o negro o amarillo, da igual porque el amor en sí es la conexión que tenemos con la naturaleza y la naturaleza es parte del universo, entonces tenemos que conectarnos con nosotros mismos, luego con los demás y luego con la naturaleza y con el universo.
¿Y a este giro lo incluyen siempre o van alternando la danza? ¿Quién es el danzarín?
H: Una amiga, hay muchos amigos y amigas que hacen el giro, que aquí en España no es muy conocido por eso hay poca gente que lo hace y sobre todo pocas mujeres. Yo quiero romper ese hilo en el escenario, no importa si es mujer u hombre, importa que se haga bien, que se gire bien y que haya conexión. Y musicalmente, normalmente se toca con el oriental o música turca, pero yo quería conectarla con Marruecos, porque en Marruecos no hay giro derviche, no existe, entonces cogí una canción muy famosa en Marruecos y el trance tomó su curso.
Quisiera preguntarle a Nerea ¿Cómo es interpretar un cancionero en árabe, lo estudiante?
N: A mí me encantan las culturas y las lenguas. Cuando era niña estudiaba el inglés porque era lo que había en el instituto y siempre me conectaba fácilmente y un año que fui a Egipto me apeteció estudiar árabe. El árabe egipcio tiene sus matices, pero yo decidí ponerme a aprender el árabe clásico por mi cuenta y lo he ido haciendo. A mí me cuesta mucho organizarme, pero me impuse cierto orden para ir aprendiendo. A veces por el tiempo no podía, pero se aprende mucho cantando y me estoy dando cuenta de que se siente mucho la diferencia entre los idiomas cuando los hablas, los cantas, te sientes de una forma diferente, dependiendo del idioma que estés usando. ¿Tú también lo notas, Husam? Es súper interesante, y pienso también que el árabe tiene algo muy suyo, como si estuviese lleno de símbolos y de belleza…
H: El árabe clásico es el idioma que tiene más sinónimos, más palabras en todo el mundo. El árabe fusha, y ¿qué significa fusha? Significa claro, el árabe claro. Por eso en el árabe clásico, las canciones son muy de una expresión y sentimientos muy profundos. Por ejemplo, el león en árabe tiene un montón de nombres, por ejemplo, una cabra, depende de cómo sea tiene un nombre diferente, eso ya no lo usamos, pero en el árabe clásico existe. El amor incluso para nombrarlo tiene niveles. Te amo, te quiero, te adoro, en árabe hay dos valores más y depende del momento en que estés.
Con esta riqueza de sentidos y proviniendo de culturas diferentes, ¿cómo han logrado esa conexión tan profunda entre ustedes?
H: Hemos tenido mucha suerte, la verdad. Yo he tocado con muchos músicos y con Nerea nos entendemos con la mirada, hay una inteligencia musical muy profunda. Es una conexión que se da pocas veces, yo toco y ella dirige la voz en el mismo sentido. La conexión musical es como un lenguaje, son cosas que suceden y no quiero saber la explicación, suceden por algo y ya.
N: No hay una manera lógica de encontrar una explicación a eso, es un instante. Yo he notado con otras personas con las que he cantado, pueden usar los mismos instrumentos, tocar lo mismo, pero nunca es lo mismo. Cuando él no está lo echo de menos porque no siento esa conexión, no sucede ese entenderme sin hablar. Tenemos una amistad que nos gusta muchísimo y pienso que el público conecta con esa energía. Es lo que nos gusta transmitir y lo que esperamos que puedan sentir aquellos que nos lean.
Estoy segura de que así será, las palabras atraviesan fronteras, los sentimientos aún más. Muchas gracias por permitirnos soñar estos Sueños de Azahar.
Madrid, 20 de Julio de 2022.
(1) Psicóloga clínica. Psicoanalista miembro adherente de la Asociación Psicoanalítica Argentina (APA) y de la Asociación Psicoanalítica Internacional (IPA). Miembro invitado de la Asociación Psicoanalítica de Madrid (APM).
(2) Freud, S. (1930). El malestar en la cultura. Buenos Aires: Amorrortu Editores.
Sueños de Azahar
Ficha técnica
Formado por Husam Hamumi y Nerea Mafarki. Es un reencuentro, a través de la música, entre España y el mundo árabe. Con canciones tradicionales de distintos países árabes, y composiciones propias en las que se mezclan la lengua española y la árabe. Un componente muy importante también es la parte espiritual, la búsqueda de hacer al espectador pasar por un viaje en el que recuerde su alma. Los instrumentos usados son el Ney, la Kawuala, el Kanun, y las voces de ambos artistas. En algunos conciertos también surge la participación de invitados especiales y de baile de giro derviche.
Husam Hamumi
Músico graduado en el conservatorio de la música andalusí de Fez; Marruecos; así tuvo la oportunidad de tocar varios tipos de música árabe andalusí y turca participando en muchos festivales y eventos nacionales e internacionales como: Festival de la música sacra 2012 de Fez marruecos; Festival “Les nuit d’orient” Dijon Francia; festival “Al mutamid” Portugal; festival “Folk” Zaragoza España; festival Tollwood Múnich Alemania; y varios eventos y conciertos en España y fuera de España.
Nerea Nefarki
Empezó a trabajar en su voz y demás aspectos como música y artista en la Fundación de la Música Moderna de Avilés, Asturias (su tierra natal), con la profesora de canto y música Ariane Valdivie y la pianista y profesora Elena Díaz. Continuó en Madrid en la Escuela de Artistas de Jesús Yanes. También ha tenido contacto con la cantante y coach vocal Mónica Benito. Además, ha iniciado una formación de músicas árabes con el músico y maestro Wafir S. Gibril; música carnática del sur de la India con Narendra Bhaskar, músico y maestro; percusión africana con el maestro Fale, en Etnopercusión; producción con el músico y productor Bruno Travi (quien forma parte, además, de sus proyectos); y danza oriental con la maestra Sahra Ardah. Durante su camino, ha aprovechado oportunidades muy variadas y en distintos estilos para crecer y aprender en este ámbito, pero, sobre todo, para encontrarse a sí misma en su música.