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Um filme, um sentimento: Youth, Paolo Sorrentino (2015)

“Uma canção simples”:

Sutileza, contemplação, perspicácia, frivolidade, beleza, ironia e humor são alguns dos elementos que formam o filme do excelente diretor/roteirista italiano Paolo Sorrentino.
Entre a opulência e a aparente tranquilidade de um hotel na Suíça, a vida esconde desejos e remordimentos nos protagonistas desta história.

Grandes cenários, personagens solitários e desolados expõem as mais delicadas e profundas incertezas sobre a morte, o passado e o futuro.

Com uma excelente fotografia, belas paisagens dos campos suíços, suas tonalidades de Fellini e Antonioni, e interpretações de luxo, como as de Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Paul Dano e Jane Fonda, Youth nos deleita com suas nostálgicas cosmovisões e honestas exposições por seus personagens.

Um palco gira lentamente, como uma roda sobre o seu próprio eixo, no meio do pátio do luxuoso hotel, um show com luzes tênues se realiza sobre ele a cada noite, e a contemplação e apatia vão deslizando e adentrando suavemente o público de elite que está presente.

Os olhares e expressões em primeiros planos definem as profundas sensações e emoções dos protagonistas. Junto a elas, a câmara acompanha e por momentos também parece quieta, como testemunha dos grandes momentos de majestade e solidão de cada ponto de vista distinto.

A elegância e o silêncio recorrem aos planos gerais e as cenas, enquanto a música realça e define a sensação e o sentimento exato em cada instante.

O extraordinário impacto visual na composição de cada fotograma nos faz vibrar no mais delicado deleite sensorial. O storytelling é uma sucessão harmoniosamente pensada e exposta para nos fazer sentir uma infinidade de emoções e de nos conectar com esse prazer ou gozo estético, tão simbólico, elevado e sofisticado que nos deixa imensamente perplexos e desnudos frente a grandiosidade artística e à interioridade mais íntima e profunda.

E isso é o que realmente se pode descrever como autêntico do estilo cinematográfico do nosso querido Paolo Sorrentino, expoente e explorador magnífico do “sublime”. Estilo em que as palavras não bastam e rapidamente se esgotam.

Como suaves notas em harmonia, as cenas se sucedem uma à outra e a composição visual, de foto e arte, se unem numa dança sensual, atraente, magnética e gloriosa, da mão das relações humanas mais complexas, dos medos mais profundos que são expostos, e das melancolias mais sentidas do ser e/ou do “eu”.

Fred, um compositor e regente de orquestra aposentado, e seu melhor amigo, Mick, que é diretor de cinema e tenta realizar seu último “filme testamento”, se encontram na dicotomia sobre o que vem depois do êxito.

O propósito incerto que encerra a ótica da terceira idade nestes personagens, que já conseguiram se realizar nos planos econômico e profissional, leva-os a refletir a repeito de “o que mais fazer e não fazer” no presente e no futuro da vida.

Isolados por vontade própria, da sociedade e do próprio tempo, as complexidades das memórias e remordimentos passados voltam até eles. Na forma de reivindicações de seus filhos, de símbolos como ídolos decadentes e/ou caídos, como Maradona e a Miss Universo, dos amores do passado que já não recordam com exatidão.

Como na confecção de uma canção, “La Giovinezza” vai confeccionando sua própria partitura eloquente e poética. Com notas delicadas, como o monge meditando e/ou levitando, paisagens confortantes de campos filtrando-se com sensualidade e realidade entre corpos desnudos da terceira idade em luxuosas piscinas. Sumidos entre a suposta “juventude”, a beleza, desolação e o furtivo medo do fracasso.

As relações humanas vão nos envolvendo assim como na vida, como nas grandes perguntas existenciais que, silenciosas, fazem-se visíveis até explodirem. Como nas cruas e descarnadas verdades expostas entre pai e filha, confissões viscerais e honestas que mostram a fibra mais íntima, frágil e complexa de uma relação familiar.
Feridas do passado que ainda repercutem, doem e rugem no presente enquanto a aceitação do tempo, do presente e do futuro, que já é e que não alterará o que já aconteceu, acaricia a mais descomunal e irrepreensível angústia.

Se formulam e advertem assim as complexidades mais pessoais da redenção de um pai que, em seu silêncio e sua escuta, busca consolar a uma filha desolada, mas tão franca e transbordantemente real e apaixonada, como a própria vida.

Um intento tão conhecido, sensível e familiar como o de conter o irreprimível, e como diria Fred à jovem massagista: “depois da dor vem o prazer, e logo a dor novamente”. Nessas feridas do passado cada personagem faz a sua própria reflexão, por vezes silenciosa, por vezes em diálogos curtos, honestos, brutais, mas também profundos, em caminhadas ou sessões de relaxamento.

As chaves dessa partitura são a montagem e o roteiro, por momentos não se sucedem, chocam, em outros acompanham-se, mas sempre se encontram numa harmonia tão fina e inexorável, como a experiência do “viver”.

A juventude, por momentos, também é sábia como uma menina que, com a sua simplicidade, mostra ao ator Jimmy Tree uma grande verdade, a de que “ninguém no mundo está preparado, então não faz sentido preocupar-se”. Noutras vezes, a juventude consulta e pede conselhos a Fred e Mick sobre grandes perguntas: matrimônio, amor, sexo.

Neste hotel de encanto e desencanto, a vida e a ilusão se vão nublando como as bolhas de sabão de um dos espetáculos noturnos. O ego, o êxito, o que foi, os que já não estão ou não são, sempre estão como um grande fora do campo presente, mas invisível.

O cinema também expõe a sua visão pelas mãos de Brenda Morel, representada pela excelente Jane Fonda, a grande atriz que encarna o passado com sua trajetória, a Hollywood de ouro, a grandiosidade do passado, e que junto à sua crueza enfatiza ao veemente Mick que os dias do cinema já passaram, representando, assim, a conhecida disputa entre cine e TV, arte ou negócio do entretenimento, ou a mesmíssima e polêmica “morte do cinema”.

As confissões de Brenda são atrevidas, insultantes e dolorosas, como uma cacetada, e junto ao desconcerto de Mick ressoam as suas palavras: “a vida segue, inclusive sem toda essa merda de cinema”, e a vida real se faz sentir.

A vida e a morte seguem fazendo-se ouvir, como notas chave nessa bela composição. Em cada cena se palpita uma melancolia, um adeus que não é dito, esse algo ou “não sei o quê” que nos escapou ou que não podemos alcançar. Promessas e culpas que também soam forte em meio a uma tremenda luta contra a apatia, contra a presunção do excelso, a frivolidade, a angústia.

As emoções como amar, perdoar, pedir perdão, compreender, sentir e continuar, faz com que se sintam vivos.

“As emoções estão supervalorizadas”, observará Fred com toda a sua certeza e elegância, mas tal qual Mick e seu último salto de entrega apaixonada, podemos advertir que “as emoções são só o que temos.”

E a beleza volta a envolver-nos uma vez mais na partitura de Youth, junto a um grande monólogo de confissão de amor descomunal, parecido com os de Paris, Texas de Wim Wenders, onde se diz tudo o que sempre se quis dizer aos que já não estão ou já não são.

Logo, a deliciosa música de David Lang se impõe numa orquestra com todo o esplendor em cada fibra de nosso ser, junto à bela voz da soprano Sumi Jo, o que nos faz recordar colossalmente, mais uma vez, que a vida, assim como numa canção, mesmo que seja triste ou simples, não deixa de ser bela.


 

Versión en Español:

 

“Una canción simple”:

Sutileza, contemplación, perspicacia, frivolidad, belleza, ironía y humor son algunos de los elementos que conforman a una película del excelente director/autor italiano Paolo Sorrentino.
Entre la opulencia y la aparente tranquilidad de un hotel en Suiza, la vida esconde deseos y remordimientos en los protagonistas de esta historia.

Grandes escenarios, personajes solitarios y desolados exponen las más delicadas y profundas incertidumbres sobre la muerte, el pasado y el futuro.

Con una excelente fotografía, paisajes hermosos de las praderas suizas, sus tintes de Fellini y Antonioni, e interpretaciones de lujo como las Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Paul Dano y Jane Fonda, “Youth” nos deleita con sus cosmovisiones nostálgicas y honestas expuestas por sus personajes.

Un escenario gira lentamente como una rueda sobre su propio eje en el medio del patio del lujoso hotel, un show con luces tenues se realiza sobre él cada noche y la contemplación y la apatía va deslizándose y adentrándose suavemente sobre el público de élite presente .

Las miradas y expresiones en primeros planos definen las profundas sensaciones y emociones de los protagonistas. Junto a ellas, la cámara acompaña y por momentos también parece quieta, como testigo de los grandes momentos de majestuosidad y soledad en cada diferente punto de vista.

La elegancia y el silencio recorren los planos generales y las escenas, mientras la música realza y define la sensación y el sentimiento exacto en cada instante.

El extraordinario impacto visual en la composición de cada fotograma nos hace vibrar en el más delicado deleite sensorial. El storytelling es una sucesión armoniosamente pensada y expuesta para hacernos sentir infinitud de emociones y de conectarnos con ese placer o goce estético, tan simbólico, elevado y sofisticado que nos deja inmensamente perplejos y desnudos a la grandiosidad artística y a la interioridad más íntima y profunda.

Y eso es lo que realmente puede describirse como auténtico del estilo cinematográfico de nuestro querido Paolo Sorrentino, exponente y explorador magnífico de “Lo sublime”. Estilo donde las palabras no llegan y en buena hora se quedan cortas.

Como suaves notas en armonía, las escenas se van sucediendo una a la otra, y la composición visual, de foto y arte, se unen en una danza sensual, atrayente, magnética y gloriosa, de la mano de las relaciones humanas más complejas, de los miedos más profundos expuestos y de las melancolías más sentidas del ser y / o del “yo”.

Fred, un director de orquesta jubilado y su mejor amigo, además de consuegro, Mick, director de cine que intenta hacer su último “Film testamento”, se encuentran en la dicotomía sobre lo que viene después del éxito.

El propósito incierto que encierra la óptica de la tercera edad en estos personajes que ya han conseguido realizarse desde el plano económico y profesional los hace reflexionar y dubitar acerca de “qué más hacer y no hacer” en el presente y futuro de la vida.

Aislados por voluntad propia, de la sociedad y del tiempo mismo, las complejidades de las memorias y remordimientos pasados vuelven hacia ellos. En forma de reclamos de sus hijos, de símbolos como ídolos decadentes y/o caídos como Maradona y Miss Universo, de los amores del pasado que ya no recuerdan con exactitud .

Como en la confección de una canción, “La Giovinezza” va confeccionando su propia partitura elocuente y poética. Con notas delicadas, como el monje meditando y/o levitando, paisajes confortantes de praderas, filtrándose con sensualidad y realidad entre cuerpos desnudos de la tercera edad en lujosas piletas. Sumidos entre la supuesta “juventud”, la belleza, desolación, y el furtivo miedo al fracaso.

Las relaciones humanas nos van envolviendo al igual que en la vida, al igual que las grandes preguntas existenciales que silenciosas se hacen visibles hasta estallar. Como las crudas y descarnadas verdades expuestas entre padre e hija, confesiones viscerales y honestas, que muestran la fibra más íntima, frágil y compleja de una relación familiar.
Heridas del pasado que todavía repercuten, duelen y rugen en el presente mientras la aceptación del tiempo, del presente y del futuro que ya es y que no cambiará lo ya acontecido, acaricia la más descomunal e irreprochable angustia.

Se formulan y advierten así las complejidades más personales de la redención de un padre que en su silencio y su escucha, procura consolar a una hija desolada pero tan franca y desbordadamente real y apasionada como la vida misma.

Un intento tan conocido, sensible y familiar como el de contener lo incontenible, y como diría Fred a la joven masajista: “después del dolor viene el placer y luego el dolor de nuevo”. En estas heridas del pasado cada personaje hace su propia reflexión a veces silenciosa y a veces en diálogos cortos, honestos, brutales pero a la vez profundos, en caminatas o sesiones de relax.

Las claves de esta partitura son el montaje y en el guión, por momentos no se suceden, chocan, en otros se acompañan, pero siempre se encuentran en una armonía tan fina e inexorable, como la experiencia de “vivir”.

La juventud por momentos también es sabia como una niña que con su simpleza enseña al Jimmy Tree, el actor rezagado, diciendo una gran verdad como la de “nadie en el mundo está preparado, así que no hace falta preocuparse”, otras veces la juventud consulta y pide consejos a Fred y Mick sobre grandes preguntas: matrimonio, amor, sexo.

En este hotel de encanto y desencanto, la vida y la ilusión se van esfumando como las burbujas de jabón de uno de los espectáculos nocturnos. El ego, el éxito, lo que pudo ser, los que ya no están o no son, siempre están como un gran fuera de campo presente pero invisible.

El cine también expone su visión de la mano de Brenda Morel, representado por la excelente Jane Fonda, la gran actriz que encarna el pasado con su trayectoria, el Hollywood de oro, la grandiosidad del ayer, y que junto a su crudeza le recalca al vehemente Mick que ya los días del cine ya pasaron, representando así la conocida disputa entre cine y tv, arte o negocio del entretenimiento o la mismísima y polémica “muerte del cine”.

Las confesiones de Brenda son atrevidas, insultantes e hirientes, como una cachetada y junto al desconcierto de Mick, resuenan sus palabras: “La vida sigue, incluso, sin toda esa mierda del cine”, y la vida real se hace sentir.

La vida y la muerte siguen haciéndose oír como notas clave en esta hermosa composición. En cada escena se palpita una melancolía, un adiós sin decir, ese algo o “no sé qué” que se nos ha escapado o no podemos llegar. Promesas y culpas que también suenan fuerte en medio a una tremenda lucha contra la apatía, contra la presunción de lo excelso, la frivolidad, la angustia.

Las emociones como amar, perdonar, pedir perdón, comprender, sentir y continuar, los hace sentir vivos.

“Las emociones están sobrevaloradas”, corregirá Fred con toda certeza y elegancia, pero al igual que a Mick y su último salto de entrega apasionada, podemos advertir que “las emociones son lo único que tenemos”.

Y la belleza vuelve a envolver una vez más en la partitura de “Youth”, junto a un gran monólogo de confesión de amor descomunal, similar a los de París, Texas de Wim Wenders, dónde se dice todo lo que siempre se quiso decir a los que ya no están o ya no son.

Luego la exquisita música de David Lang se impone en una orquesta con todo el esplendor en cada fibra de nuestro ser, junto a la hermosa voz de la cantante soprano Sumi Jo, y nos hace recordar colosalmente una vez más que la vida al igual que en una canción, aunque sea triste o simple, no deja de ser hermosa.

Ayelen Indra Lago
Licenciada em Cinematografia e Técnica Audiovisual pela Universidad Nacional de Tucumán, Argentina. Também tem formação nas áreas de Teatro e Dramaturgia. Diretora no projeto de Documentário "Pozo Vacante", vencedor da Bolsa de Criação 2018 do Fundo Nacional das Artes da Argentina. Atua principalmente como realizadora em tempo integral e como docente em cursos de cinema para jovens e adultos. Também colabora com vários projetos artísticos e audiovisuais de Tucumán.

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