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Desenhos em Fluxo. 2016.
[/vc_column_text][vc_column_text]Interrogamos o artista curitibano André Coelho, participante da exposição Atos ocorrida na Zuleika Bisacchi Galeria de Arte. Entre ruas e palcos, arte e design, saiba o que ele tem a dizer sobre o que faz dentro desta atual Curitiba.
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“Invejo quando alguém agarra do céu uma ideia que estava no ar, dando sopa, e executa antes de mim. Depois aplaudo.”
[/vc_column_text][vc_empty_space height=”52px”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Como, onde, quando e por quê.
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Tudo começou no início dos anos 80, quando um fiapo de consciência rabiscou-se no olhar de um menininho. Um menino que explorava um imenso jardim. E eis que de repente ele se deparou com uma linda flor e ficou estático, em um estado de pura contemplação. Foi a primeira vez que entrou em contato com a beleza da forma, com o desenho da vida. Minutos depois ele arranca esta flor e a observa, lentamente, se despetalar em suas mãos e se espalhar pelo chão. Neste momento ele se dá conta de que na morte também há beleza, de que o tempo traça linhas o tempo todo e de que o fim pode ser um recomeço, um redesenho.
Esta experiência de “olhar de menino”, da criança que vê tudo pela primeira vez, com todo o seu frescor e intensidade é o que me move. E esse jardim se transformou numa cidade: Curitiba.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Sou filho de um pai arquiteto e urbanista que teve e tem um importante papel na identidade de Curitiba desde a década de 70; de uma mãe ceramista com quem absorvi delicadeza e sensibilidade estética; e irmãos cineasta e músico, os quais são parceiros em diversos projetos. A arte estava no dia a dia da minha casa, onde tive o privilégio de crescer em um ambiente repleto das mais diferentes referências. Foi inevitável não ser contaminado por tudo isso e seguir o meu caminho.
Me formei em Desenho Industrial – Programação Visual pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC –PR (1997 – 2001). Assim que entrei na faculdade de design, comecei a atuar profissionalmente no teatro e a executar estas duas funções paralelamente.
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Como designer freelancer, sempre fiz um trabalho voltado para área cultural, na criação de projetos gráficos para teatro, cinema, audiovisual, música, editoração, etc., e também como ilustrador. Trabalhos que ainda faço.
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Desenhos urbanos. 2016.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Em 2001 ingressei como ator/pesquisador no ACT – Ateliê de Criação Teatral, um espaço multi-área do ator Luís Melo e da atriz e produtora Nena Inoue. Este espaço foi uma importante referência artística e cultural em Curitiba. Trabalhávamos com teatro, música, dança, performance e artes visuais; e foi um lugar fundamental para a minha formação artística e intelectual. Tive a oportunidade de viajar por todo o Brasil e de trabalhar com grandes profissionais de diversas áreas. Essa minha experiência multi-artística teve sua sequência posteriormente em outros lugares, como o Espaço Cênico e a companhia Cambutadefedapada!, onde trabalhei nos anos seguintes, entre 2007 e 2011.
Com o passar do tempo, comecei a atuar menos e, timidamente, expor os meus desenhos através das redes sociais. Esse movimento foi crescendo de forma orgânica e intuitiva, e comecei a desenvolver o meu trabalho em artes visuais de maneira independente. Um trabalho em desenho e pintura onde exploro alguns estilos distintos de desenho tendo como base linhas fluídas e formas orgânicas, muitas vezes intuitivas, em diferentes tamanhos e suportes, tais como: cadernos ilustrados, papel, canvas, paredes e muros. Com o tempo fui participando de exposições coletivas e individuais. Tenho um espaço, em parceria com a ceramista Denise Coelho, que se chama Atelier do Coelhos. Lá desenvolvo meus trabalhos, promovo atividades voltadas à arte e vendo minhas obras.
Tive também uma forte ligação e uma participação ativa com os coletivos de desenho urbano. Em 2013 com os Croquis Urbanos, onde fiquei encantado com a ideia de desenhar a minha cidade e admirado com a paixão daquelas pessoas pelo desenho e, principalmente, por estarem juntas desenhando. E posteriormente, em 2015, com a criação dos Urban Sketchers Curitiba (USK). Ambos são grupos de desenhistas profissionais e amadores que se reúnem semanalmente em um ponto da cidade para registrar o local. Estes preciosos registros são publicados no facebook. No caso dos Urban Sketchers existe uma conexão global de desenhos, já que existem grupos oficiais de USKs em dezenas de cidades pelo mundo afora, onde é escolhida anualmente uma cidade para se fazer um encontro internacional. Fui bolsista no 5th International Urban Sketching Symposium Paraty em 2014. Em 2015, participei do Encontro Internacional de Desenho de Rua em Torres Vedras (Portugal); e, em 2016, do 1o Encontro Urban Sketchers Brasil, em Curitiba, com mais ou menos 300 participantes vindos de todo o Brasil.[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”5328″ img_size=”full”][vc_column_text]
Desenho da série “Jardim da Noite”. 2011.
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♦ Como você compreende seu processo e seu percurso na contemporaneidade?
Tenho um certa dificuldade em responder essa pergunta de maneira precisa. Sinto que uma compreensão está começando a se formar agora, nesses últimos meses talvez. Como disse antes, trabalhei em grande parte da minha trajetória de maneira intuitiva, independente e isolada. Sempre tive uma personalidade mais fechada e uma necessidade de uma certa reclusão para criar e também para viver.
No ano passado (2016), com o desejo de amadurecer o meu trabalho e entender mais o meio em que eu vivo e as possibilidades da arte, comecei a frequentar uma série encontros com outros artistas da cidade. Um grupo de artistas de diferentes trajetórias, cada um com sua bagagem, alguns renomados e experientes e outros iniciantes… e todos muito vivos e urgentes em suas questões e buscas. Para mim foi muito importante este exercício de troca e de constatar o quão profundo é o abismo chamado Arte Contemporânea.
Percebo que o meu trabalho em desenho é uma passagem, um momento. Estou começando um novo processo onde me preparo para retornar à cena/palco/espaço. Não mais como ator, mas como um desenhista em cena… em um trabalho de performance. O desenho aí ficará em segundo plano e as minhas questões criarão formas e corpos que eu ainda não sei quais serão.
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“Em Casa 3 por 3” na Galeria Teix. 2015.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Sua fanpage traz a legenda “arte e design”. Exponha os seus pensamentos sobre a relação entre artes plásticas e design.
As artes plásticas e o design sempre se cruzaram, por muitas vezes até se confundindo entre si. Apesar da minha formação, não me considero um designer “de fato”, de coração. Sou e sempre fui um artista, me utilizo do design por uma questão de sobrevivência, de ferramenta. Estabeleci uma forma de trabalhar e com um público definido, me colocando um pouco alheio ao mercado. Sempre digo que a linha é o que liga as minhas diversas atividades profissionais. Gosto de pensar e refletir sobre como um desenho pode ser arte, ou ilustração, ou estampa, ou tatuagem, ou envolver um objeto, ou cobrir uma parede em uma galeria ou em um projeto de arquitetura e decoração.
Gostaria de citar um exemplo de trabalho que exemplifica uma experiência envolvendo design, ilustração e arte. Foi a criação do material gráfico para o espetáculo Vermelho Amargo (2013) com a direção e dramaturgia de Diogo Liberano, baseado no livro de Bartolomeu Campos de Queirós, com a Companhia Aberta do Rio de Janeiro. Participei desde o começo do processo, desde a criação da sua dramaturgia. Eles me mandavam registros dos ensaios e eu desenhava e criava imagens gráficas baseadas nestes registros e baseadas no livro também… e devolvia estes desenhos com os quais eles se inspiravam para improvisações e criação de cenas. Criamos um trabalho plástico e cênico; e, por fim, um projeto gráfico embebecido por este percurso.[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”5330″ img_size=”full”][vc_column_text]
Projeto Gráfico de Vermelho Amargo.
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♦ Fale um pouco sobre as suas diferentes séries. De onde surge cada uma delas? Você tem um estilo favorito?
Eu diria que meus trabalhos em desenho se dão em “estações”. Estas estações poderiam ser os estilos, talvez. Trabalho ao longo dos anos passando por estas estações, às vezes simultaneamente, às vezes abandono uma e volto tempos depois. E vou amadurecendo esses estilos pouco a pouco… Desses estilos nascem algumas séries de desenhos.
As minhas Linhas em Formas Orgânicas seriam uma das estações. Em 2011 descobri os marcadores permanentes a base de tinta acrílica e comecei a explorar linhas e formas. Em busca da minha identidade e munido de uma grande obsessão, fui criando um universo particular de formas e desenhos que lembram plantas, que buscam um movimento, um volume. Formas abstratas e também seres lúdicos, homens-planta, jardins de gente. Desse caminho surgiram vários trabalhos, como a série Jardim da Noite (2011), que foi minha primeira exposição individual, no projeto Arte Independente do James Bar e que, no ano seguinte, um dos desenhos participou da coletiva 2012: proposições sobre o futuro no MAC – Museu de Arte Contemporânea de Curitiba. As formas abstratas ganharam paredes, como na exposição Em Casa 3 por 3 (2015) na Galeria Teix; e atualmente sobre canvas para a exposição Atos, na Zuleika Bisacchi Galeria de Arte. Deste estilo, desenvolvo também um trabalho de desenho em paredes e muros. Desenhos que dialogam com o espaço arquitetônico e urbano.
Em outra estação estariam os meus Desenhos em Fluxo. Desenhos em bico de pena, canetas e marcadores de onde parto do nada… do vazio. Sigo meu movimento interno e, com velocidade e fluidez, crio situações e personagens. Alguns destes desenhos puderam ser vistos através de vídeos em time-lapse na exposição Do Meu Jardim – Desenhos de André Coelho (2016), na Galeria InterArtividade do Pátio Batel com a curadoria de Tom Lisboa.
Em uma terceira estação estariam os meus Cadernos de Desenho. São cadernos onde desenho quase que diariamente. Registros do meu cotidiano, observações poéticas, experimentações de estilos… o que chamo de “cotidiano visual”. Este material eu vou postando com frequência no meu instagram: @coelhoazul .[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”5326″ img_size=”full”][vc_column_text]
Desenho no Estúdio Delírio. 2016.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Como você lida com a questão da efemeridade dos trabalhos expostos em espaços públicos?
Lido com naturalidade. A partir do momento que você tem um trabalho exposto em um espaço público, este trabalho passa a não ser mais somente seu. Ele passa a fazer parte da vida de quem por ali habita e por ali circula. Ganha um outro ou alguns outros significados. É incorporado e engolido pelo coletivo.
♦ Quem influencia diretamente o seu trabalho?
Não tenho alguém que influencie diretamente o meu trabalho. Tenho, claro, muitas influencias e referências artísticas que carrego desde a minha infância, tanto nas artes visuais como na música ou na literatura. Lembro-me que um dia, ainda criança, acompanhei o meu pai em uma visita à casa do Poty, eles iam conversar sobre algum trabalho. Enquanto eles conversavam eu ficava de olho na mesa toda bagunçada e onde o Poty estava com um desenho inacabado. Em determinado momento, enquanto falava, ele colocou o copo de whisky que estava bebendo sobre o desenho e, quando tirou, a marca do copo ficou registrada ali, incorporada ao desenho. Aquilo mexeu profundamente comigo.
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Cadernos de Desenho.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Como você percebe a sua presença dentro do cenário artístico curitibano? E quais são os seus comentários a respeito desse cenário?
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Não sei ao certo onde eu estaria neste cenário. Como disse em uma questão anterior, estou em um movimento de sair de um estado de isolamento. Procurando conhecer, expondo-me mais e trocando com outros artistas. Acho que até então a minha presença era distante, restrita. Agora olho com mais atenção para este cenário e vejo muitas possibilidades. Vejo muitos espaços alternativos pela cidade. Coletivos artísticos com ideologias muito fortes e distintas. Galerias novas que dão oportunidade para artistas iniciantes. A arte urbana e os movimentos de rua cada vez mais fortes.
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♦ Qual obra de arte você modificaria sem pestanejar?
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Se você está se referindo às minhas, eu modificaria todas! E eu jamais modificaria a obra de outro artista, talvez pudesse modificar o meu olhar sobre ela.
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♦ Heróis, ídolos e pessoas que você inveja.
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Eu não acredito muito na figura do herói.
Ídolos… tenho muitas pessoas a quem tenho profunda admiração, de várias áreas e pessoas do meu convívio. Mas o movimento humano de uma coreografia da Pina Baush, uma expressão arrebatadora do Kazuo Ohno, as décadas cantadas por David Bowie, a luz e sombra dos quadrinhos de Will Eisner, o traço do Picasso, os bolinhos de banana da minha vó, o grito de muitos anônimos por liberdade…
Invejo quando alguém agarra do céu uma ideia que estava no ar, dando sopa, e executa antes de mim. Depois aplaudo.[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”5329″ img_size=”full”][vc_column_text]
Desenho da série “Jardim da Noite”. 2011.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Conte-nos sobre a sua relação com a Zuleika Bisacchi Galeria de Arte, galeria localizada em Curitiba. Ademais, você é apegado aos trabalhos que vende?
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Em novembro de 2016, a galeria demonstrou interesse em conhecer meu portfolio e conversar sobre o meu trabalho. A partir daí fui convidado a participar da 1ª Expo Mix, exposição que reuniu 22 artistas nacionais e internacionais e que comemorou um ano de existência da galeria em Curitiba. Na sequência, já em 2017, participei da exposição Atos. Para mim está sendo muito produtivo passar por essas experiências com a galeria, desde o contato com um público que não conhecia o meu trabalho até o tratamento com rigor, profissionalismo e respeito com que a galeria trata os artistas que lá estão.
♦ Fale aqui sobre o que você sempre quis falar, com toda a liberdade, ou responda aquilo que nunca te perguntaram.
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Eu não gosto de falar, prefiro o silêncio. Posso responder quando sou cutucado. Ou melhor, me dê um papel em branco que te faço um desenho… Um grande abraço a todos![/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”5332″ img_size=”full”][vc_column_text]
Desenho do processo de criação do espetáculo Vermelho Amargo. 2013.
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