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“Foi a primeira vez que tive contato com uma etnia tradicional africana e a conexão foi tão grande que acabei vivendo 2 meses na tribo.”
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Como, onde, quando e por quê.
Comecei a fotografar em 2008, enquanto estava na faculdade de Comunicação. Lá podia emprestar nos finais de semana uma câmera analógica e aí fiz meus primeiros testes. Aquela coisa, de quem está descobrindo a fotografia, testes e mais testes, vagando por diferentes tipos de fotografia.
Meus primeiros trabalhos foram com fotografia em movimento, trabalhando como diretor de fotografia, produzindo e participando de documentários e outros materiais audiovisuais, sendo um deles sobre a vida caiçara, onde fiz meu primeiro ensaio fotográfico documental. A partir desse momento decidi que iria seguir nessa linha de pesquisa, com foco em culturas tradicionais. Comercialmente também desenvolvi projetos da Google no Brasil e produzi materiais em vídeo para publicidade e conteúdos voltados à internet.
Há 4 anos decidi iniciar um projeto autoral chamado Evoé, em parceria com a nutricionista Daniella Schuarts, onde buscamos contar histórias de pessoas e lugares através da cultura alimentar. Para dar início ao projeto tivemos que guardar dinheiro por 3 anos, para poder viajar e começar a primeira parte de pesquisa em campo, de forma independente. Hoje dedico meu tempo para a continuidade do Projeto Evoé (www.projetoevoe.com), onde pretendo expandir o conceito para todos os estados do Brasil.
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Para você, o que é “fotografia documental”?
O documentário está em permanente processo de transformação e qualquer definição será sempre passível de mudanças. Acredito que no documental o trabalho fotográfico começa a ser desenvolvido a partir de um projeto elaborado, que requer pesquisa, estudo de conhecimento, vivências e um grande envolvimento com um tema. A fotografia documental se refere a projetos de longa duração, que não sejam apenas o registro momentâneo e de passagem sobre determinado assunto.[/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner][vc_single_image image=”4486″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][vc_single_image image=”4493″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Como nascem as ideias para as suas séries?
As ideias surgem em conversas, lendo livros, em vivências, caminhadas e muitas vezes até na mesa do bar. Depois elas vão para o papel e começa a fase de organização e produção. Já as séries do Projeto Evoé surgem em parceria com a nutricionista Daniella Schuarts.
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Quando é colorido e quando é preto & branco?
Fotografo muito pouco em P&B, minha leitura na fotografia é muito baseada nas cores para compor. Às vezes, sem ter que forçar, uma imagem em P&B aparece em meu visor.
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Quando você presencia uma situação de confronto, tal como a de 29 de abril de 2015 em Curitiba, o que você tenta captar: o sofrimento, a denúncia ou a foto premiada?
No dia 29 de abril eu optei pela denúncia. Meu foco era mostrar o lado dos professores, alunos e outros servidores públicos. Na hora de vender as fotos inseri um pequeno texto reforçando que os professores foram massacrados pelo governo do estado, para que as fotos não fossem usadas carregando uma mensagem distorcida. Nesse dia, a maioria dos fotógrafos estavam posicionados fora da linha de confronto ou atrás da polícia militar. Se eu optasse por ficar nesses locais não conseguiria ter registrado o que os professores sentiram naquele dia. Segundo o editor de uma agência de imagens, muitos fotógrafos mandaram um material que carregava a visão da polícia e não dos professores. Acredito que o posicionamento escolhido faz toda a diferença, mas nem sempre ele é o mais confortável.[/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner][vc_single_image image=”4491″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Quem influencia diretamente o seu trabalho?
Sou influenciado por todos os lados, desde Eduardo Galeano até Amyr Klink. Mas na fotografia o que me prende a atenção são os fotógrafos que tem histórias para chegar a tal foto. Pessoas como Mauricio Lima, Michael Christopher Brown, Ami Vitale, Josef Koudelka, são grandes influências, não no sentido estético, pois cada um carrega estilos bem distintos, mas sim pela força para chegar até os locais onde estiveram.
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Fale sobre o projeto Evoé e comente o porquê da escolha desse nome com o qual as Bacantes evocam Dioniso.
O Projeto Evoé busca retratar as singularidades e belezas da relação entre o ser humano e seu alimento ao redor do mundo, por meio da fotografia documental. Não se trata de apenas mostrar do que as pessoas se alimentam, mas como o alimento é cultivado e quais os modos tradicionais de vida para que ele chegue no prato das pessoas. É a cultura alimentar sendo vista e documentada sob dois diferentes pontos de vista: o de um fotógrafo e o de uma nutricionista. Essa singularidade traz um olhar amplo sobre o tema, que se estende sobre várias outras áreas de estudo e sobre nossa própria cultura. A fotografia documental tem a função de transmitir as origens do cultivo, do preparo, do servir, do comer, costumes e comportamentos alimentares, oferecendo a compreensão da identidade de determinado povo. A valorização da cultura e das pessoas está nas entrelinhas de tudo aquilo que produzimos.
A primeira incursão do Projeto Evoé foi feita no período entre junho de 2015 e junho de 2016. Nesses 365 dias, o projeto passou por oito diferentes países da África e da Ásia – África do Sul, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzânia, Kenya, Índia, Nepal e Tailândia. Passamos por grandes cidades e vilas remotas para experienciar a cultura alimentar local: plantando junto com os agricultores, cozinhando nas mais aconchegantes cozinhas familiares, indo a mercados onde a comida é vendida e consumida, andando na rua para observar o que cada país e cada pessoa tem a nos ensinar.[/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner][vc_single_image image=”4494″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][vc_single_image image=”4492″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Escolha duas situações dentro da sua carreira de fotógrafo viajante e nos conte: a mais positiva e a mais negativa.
Para produzir a primeira parte do Projeto Evoé, fiz um trabalho de campo de 1 ano, passando por países da África e Ásia. A minha casa na maioria das vezes era a minha barraca, que era montada em vilas, tribos, quintais, praias, etc. Antes de chegar lá, não tinha ideia de como era acampar, por exemplo, em uma savana africana, com tribos locais, ou acampar no meio de elefantes selvagens e hipopótamos. Digo que é uma experiência bem interessante. Só nesse aspecto já consigo contar diversas histórias positivas e negativas. Já acordei com a barraca cercada por 8 elefantes africanos, já me deparei com diversos hipopótamos na porta da barraca, já fui atacado por um elefante durante a noite, em uma pequena ilha, sem ter para onde fugir. Esse ataque durou quase 30 minutos. Isso tudo sem contar às histórias com pequenos animais como cobras, escorpiões e aranhas.
Mas para escolher a mais positiva, fico com o dia que cheguei à vila do Povo Gobba, no sul da Zâmbia. Foi a primeira vez que tive contato com uma etnia tradicional africana e a conexão foi tão grande que acabei vivendo 2 meses na tribo. Com o povo Gobba vivi muitas coisas que marcaram minha vida e modificaram minha maneira de pensar.
Nesse um ano, por mais que tenha passado por ameaças de morte e sérios problemas de saúde, acredito que a situação mais negativa tenha sido não poder chegar a alguns locais que queria fotografar, por falta de recursos financeiros.
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Seu website/portfolio se alterna entre textos em português e em inglês. Pois bem, quem se interessa mais pelas suas fotos: brasileiros ou gringos?
Um pouco de cada. Deixei a maioria do conteúdo em inglês pois participo de alguns concursos internacionais, mas logo vou disponibilizar tudo nos dois idiomas.[/vc_column_text][vc_row_inner][vc_column_inner][vc_single_image image=”4490″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
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Heróis, ídolos e pessoas que você inveja.
Não invejo ninguém, mas posso citar algumas pessoas que admiro.
A fotografa Ami Vitale, que já passou por muitas zonas de conflito e hoje dedica sua carreira a preservação do meio ambiente e de espécies em extinção.
O fotógrafo brasileiro Maurício Lima, pela coragem e dedicação. Seus últimos trabalhos são de arrepiar!
O alpinista Waldemar Niclevicz, que chegou onde nenhum outro brasileiro conseguiu chegar. Um dos poucos no mundo a subir o K2.
Eduardo Galeano que me fez viajar por diversas culturas pelo mundo, através de suas palavras.
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Conte-nos sobre a sua relação com a Diretriz Arte Contemporânea, galeria localizada em Curitiba. Para você, como é ver fotografias expostas em museus e vendidas em galerias de arte?
A relação com a galeria Diretriz Arte Contemporânea começou de uma forma bem natural. Meu trabalho foi apresentado para a galerista Zuleika Bisacchi, que me chamou para um bate papo. Nessa conversa descobri que ela também desenvolve projetos fotográficos e trocamos experiências sobre o assunto e ao final da conversa, escolhemos 4 fotografias para participar da primeira edição da Expo Mix. Foi interessante entender o que leva uma galerista a escolher determinada obra, mas a grande discussão que seria “qual a fotografia que pode ser considerada artística?” creio que continuará sem resposta em razão de sua eterna subjetividade.[/vc_column_text][vc_single_image image=”4488″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][vc_single_image image=”4489″ img_size=”full” alignment=”center” onclick=”link_image”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Site oficial:
http://www.leonardosalomao.com/[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]