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“Cada um tem uma maneira de ser conduzido, mas sempre tem que ter o elemento surpresa, pois se tudo estiver previamente calculado perde um pouco da graça, e eu gosto de me divertir durante o processo.”
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Como, onde, quando e por quê?
No início dos anos 60, com 10 ou 11 anos gostava, entre outras coisas, de desenhar. Até ai nenhuma novidade, só que eu gostava de desenhar principalmente edifícios que via publicados nos jornais, e aos 13 anos comecei a trabalhar durante o dia e estudar desenho técnico mecânico, e desviei por uma questão de algumas orientações, seguindo carreira dentro da indústria mecânica, o que acontece até 1981. Mas como sempre fui ligado às artes, fui paralelamente experimentando, até que em 1978, funcionário da VW como Professor de Metrologia, resolvi fazer faculdade de Artes Plásticas, na faculdade de Belas Artes de S.P.
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O que você persegue com a sua arte? Existe um tema ou um motivo fundamental?
Interessante essa sua colocação de perseguir, poderia até racionalizar sobre o porquê, mas deixo isso para quem gosta de intelectualizar o “fazer”. Existem sim conceitos, temas por vezes e questões que surgem durante o processo e provocam outras soluções, e aí quero vê-las.
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Sendo Barcelona a sua cidade natal, existe algo que você diria ser ‘espanhol’ – ou catalão – dentro do seu discurso?
Até 1988 diria que não, estava confortável e completamente inserido no viver brasileiro e suas influências das quais me alimentava no sentido total, até que através da música – outra paixão -, fui ver um espetáculo de Paco de Lucia com canto e dança, completo, e chapei. Já conhecia e escutava, mas ver a coisa ali, como vejo um quadro, provocou uma necessidade de ver de perto o que deixei aos 6 anos de idade. A partir daí, depois de 2 meses que fiquei ” travado”, Barcelona e a Espanha passaram a influenciar o meu trabalho.
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Fale um pouco sobre os seus trabalhos em diferentes meios. Você vê diferentes significados entre o desenho, a pintura e a escultura? Existe um meio preferido?
Para mim há pouca diferença de significado entre os meios que uso. Interpreto linhas (desenho ou pintura) nas minhas esculturas, assim como pinto esculturas realizadas ou não, gosto de ver as coisas sob diferentes pontos de vista, faço esse jogo (coisa particular) que faz parte da diversão. As pinturas que estão na mostra, sugerem uma tridimensionalidade dada pela continuação natural das linhas e da cor, ou seja, a pintura não termina no plano, mas é meu entendimento como indivíduo. Cada pessoa poderá fazer a sua própria leitura; Não tenho preferência, o que tenho é necessidade num determinado momento, por conta de uma espécie de incômodo. Por exemplo, a execução de uma escultura demanda muito tempo e às vezes sinto uma ansiedade além do normal que determina a hora de trocar as ferramentas pelos pincéis.
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Como funciona o seu processo criativo? Você costuma saber de antemão qual será o meio utilizado, ou pensa primeiro em aspectos de composição e depois no material?
Primeiro o meio. Cada um tem uma maneira de ser conduzido, mas sempre tem que ter o elemento surpresa, pois se tudo estiver previamente calculado perde um pouco da graça, e eu gosto de me divertir durante o processo. Sou autor e executor, penso e executo 95% dos meus trabalhos de escultura. Na pintura e no desenho, as cores vão sendo sugeridas durante o fazer e nunca nada está totalmente fechado.
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A sua série intitulada ‘Pêndulos’ me sugere uma ideia de movimento. Ademais, tentando extrair um denominador comum do conjunto de sua obra, eu destacaria justamente o movimento. Pois bem, fale um pouco sobre o movimento em sua obra.
Sim, os ‘Pêndulos’ sugerem movimento e tempo de como tudo se move no tempo, subjetivamente e realmente, na minha obra, na minha vida, no vai e vem entre os meios que uso e na tentativa de deixá-la atemporal, um verdadeiro paradoxo que eu, como artista, sempre me deparo.
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Pergunta direta: por que abstratos?
Abstratos porque não represento tanto na pintura como na escultura exatamente o real, apenas me utilizo da realidade para abstrair o que me interessa.
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Fale um pouco sobre a influência de Guarulhos e de São Paulo no seu trabalho de criação.
Guarulhos não influenciou em nada no meu trabalho, é apenas um lugar que fui trazido para morar quando pequeno e fui ficando. Já São Paulo é por onde se deu e se dá a minha circulação. É onde desde criança se constroem os edifícios que gostava de desenhar. Mais tarde as galerias de arte que trabalhei e que trabalho até hoje, que tem o Caos, as vezes bem-vindo e onde vive o mundo todo no que diz respeito a raças. É paradoxal como um artista, feio e belo ao mesmo tempo. Claro que seria melhor se tivesse uma praia no fim da “Ranbla”, onde moro, mas temos o Tietê, rio piscoso onde se pode pescar de tudo, desde uma rolha de vinho até um sofá, hehehe. Mas é em Sampa que muitas vezes me inspiro e retiro séries como esta, mais recente, “Composições Urbanas”. Enfim, São Paulo me alimenta física e intelectualmente.
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Maiores influências, heróis?
Influências: Gaudí e Herói: meu pai, marceneiro e barítono, que cantou ópera no Teatro Liceo quando jovem, outro paradoxo.
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Em que você está trabalhando agora? Quais são os projetos futuros?
Agora estou trabalhando em transformar “lixo” em “luxo” com modelos de madeira para fundição que já serviram para a indústria e são jogados no lixo. Transformo-os em esculturas misturando com alumínio. Uma delas está na exposição da Diretriz, chama-se “A COISA”.
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Conte um pouco sobre as expectativas para a sua nova exposição “A Construção da Geometria”, que abrirá na galeria Diretriz Arte Contemporânea, em Curitiba. Como foi, até agora, o seu relacionamento com a galeria e o que você espera dessa exposição?
Estou feliz por ter sido convidado para fazer parte dos artistas que expõem na Diretriz Arte Contemporânea, e, juntamente com a Zuleika, ter escolhido as obras que dão uma noção de percurso entre 1984 e 2016, tendo também a oportunidade de mostrar meu trabalho para Curitiba.
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