A coluna R.You! volta ao ar nesse mês de agosto com uma participação dupla: as jovens Letícia Pilger e Claudia Santana nos presenteiam com um encantador trabalho de poemas com ilustrações, e nos contam elas mesmas como isso começou.
“Em 2013, a rabiscadora de rabiscos Pilger e a rabiscadora de poemas Claudia se conheceram na faculdade de Letras e descobriram que compartilham uma coisa muito bonita: o amor pela poesia.”
Pois bem, iniciar com palavras de esclarecimento: por sermos duas, e, para os fins desse trabalho, aparentemente indissociáveis, uma vez que desenho e escrita se entrelaçam igualmente indissociavelmente, concordamos mutuamente que falarmos de nós na terceira pessoa será mais fácil. Pode ter ficado um tanto quanto estranho para os propósitos de apresentação de nós duas, mas certamente foi o método menos confuso que conseguimos encontrar. Encerrado este pequeno esclarecimento, às rabiscadoras.
Letícia Pilger, ou simplesmente Pilger, como é chamada pelos amigos, é uma guria curitibana de 18 anos que cursa o segundo ano de Letras na UFPR e é a responsável pela parte rabiscos-rabiscos dessa parceria. Sua mãe diz que ela desenha desde a pré-escola, mas ela só lembra de produzir rabiscos a partir dos dez, quando resolveu fazer um curso de desenho. Era a única criança da turma e, frustrada porque não conseguia desenhar como os colegas – isto é: desenhar realisticamente – e lidar com a tinta acrílica/óleo, logo abandonou o curso e o ato de rabiscar. Passaram-se os anos, até que, no auge dos 17 anos, nas férias de inverno do último ano do Ensino Médio, encontrou perdido em casa um estojo. Então ela voltou a rabiscar. A partir dessa redescoberta do rabiscar, ela já não queria desenhar perfeitamente, ela só queria desenhar e… ser feliz. Se perguntarem a ela quem faz parte do seu “top 5” de ilustradores, ela logo diz: Marion Bolognesi, Paula Bonet, Agnes Cecile, Kelly Vivanco e (seu amor platônico espanhol) Conrad Roset. As duas paixões de Pilger (além do Conrad Roset) são a arte visual e a Literatura, mas em relação a essa última ela tem o dom da “apreciação”, porque nunca conseguiu escrever um poema, uma crônica, conto ou romance, então ela manifesta seu amor pela arte de escrever através de seus rabiscos-rabiscos, que são invadidos por rabiscos-poéticos, seja por frases aleatórias, por poemas da Florbela Espanca, do Leminski, ou trechos da obra de Austen.
Claudia Santana, também guria curitibana desde sempre, de 18 anos, é a responsável pelos rabiscos-poéticos, começou seus escritos na sétima – ou oitava? – série, e admite que nunca foi muito fã de ler poesia, embora tenha sido esta a forma de suas primeiras aventuras no mundo da escrita. Isso nunca mudou por completo; mesmo hoje ela ainda é muito seletiva, e acaba não lendo muita coisa, no intuito de deixar a sua palavra a mais “original” possível; com a voz dela. Mas, assim como o detrimento de ler para escrever poesia se manteve, teve coisas que mudaram de lá para cá… Ela começou escrevendo poemas melosos, de “amor”, do “vazio” que qualquer pessoa sente nos seus 13, 14 anos. Só que acabou seguindo em outra direção, deixando a poesia de lado, se dedicando a narrativas mais extensas, complexas, que ela hesita muitas vezes em chamar de “livros”.
Seu primeiro “livro” foi iniciado em setembro de 2009, e concluído na longínqua data de julho de 2012, depois de tantas reescritas que basicamente não era mais o mesmo livro. Depois disso, nas férias antes de entrar para a faculdade de Letras, começou e terminou seu segundo livro, iniciando seu terceiro livro logo depois, em julho de 2013.
Só então, com a vinda do segundo semestre da faculdade, quando começou a estudar a teoria das poesias, que começou a retomar esta produção. Agora, munida de todo o conhecimento teórico de rimas, sílabas, ritmo, sabia o suficiente para decidir quando usá-los e quando ignorá-los. A partir de então, foi escrevendo, com uma maturidade bem maior que as primeiras poesias, de 2008, 2009, com uma técnica que diferencia muito de poesia pra poesia; ora sonetos, ora métrica livre, ora longa, ora curta… As temáticas vêm principalmente de eventos cotidianos; coisas que acontecem que lhe desencadeiam alguma reflexão, que ela eterniza no papel em forma de poesia. “Inspiração” ajuda com a temática das poesias, mas a maioria dos outros aspectos é pensada.
Ela nunca gostou muito de expor seu trabalho – porque, para ela, seu trabalho é um pedacinho dela própria. Portanto, expô-los seria também se expor. E muito disso ainda não mudou; alguns poucos poemas foram escolhidos para serem mostrados; talvez já tenha mostrado alguns 15, em meio a mais de cem poemas que já escreveu desde a segunda metade de 2013 até então.
Em 2013, a rabiscadora de rabiscos Pilger e a rabiscadora de poemas Claudia se conheceram na faculdade de Letras e descobriram que compartilham uma coisa muito bonita: o amor pela poesia – Claudia como criadora, Pilger como leitora.
Pilger vivia insistindo que Claudia expusesse seu trabalho num pequeno mural destinado à produção artística dos alunos de Letras no Centro Acadêmico do curso, no décimo andar do prédio Dom Pedro I da Reitoria, mas Claudia nunca quis se expor daquela forma, pelo menos não sozinha… Daí, em uma tentativa (felizmente fracassada) de fazer Pilger desistir de sua ideia fixa de Claudia expor suas poesias, Claudia a desafiou que só ia expor uma de suas poesias, se Pilger a ilustrasse… No início dessas férias de inverno, essa parceria aconteceu, surtindo um efeito muito melhor que o inicialmente imaginado – realmente divulgar o nosso trabalho numa primeira parceria (?), num coletivo (?), numa camaradagem (?), numa união de rabiscos (?). Independentemente do que seja, Pilger ilustrou um dos poemas de Claudia e, com o consentimento desta, publicou o resultado no facebook. Pela primeira vez na história da humanidade, um público maior que uma dúzia de pessoas teve acesso a um rabisco-poético de Claudia. A rabiscadora de poemas sempre teve receio em divulgar seus rabiscos-poéticos, mas disse que se sentia mais confortável em divulgar junto com os rabiscos da amiga. Elas continuaram unindo rabiscos, Pilger ilustrando poemas de Claudia e Claudia poetando rabiscos de Pilger.
Um dia um amigo (Saudações, Gesoel!) da Pilger perguntou se ela conhecia a R.Nott – sim, ela conhecia – e disse que se tivesse alguma ideia, seria interessante tentar divulgar. Isso nunca passou pela cabeça delas, mas elas resolveram tentar. Então elas enviaram e, aqui, pela primeira vez na não-tão-longa vida dessas duas rabiscadoras amadoras, pessoas desconhecidas – que não os pais, avós, amigos, vizinhos e cachorros – estão vendo esse amontoado de rabiscos por onde essas gurias canalizam suas energias para conseguir viver.
E, como não podia faltar, o nosso “jargão”, inventado às pressas para que pudéssemos enviar o primeiro e-mail à revista R.Nott: saudações artísticas, de Claudia e Letícia.