A coluna R.You! apresenta com exclusividade a fotografia analógica e infravermelha da norte-americana Brandy Eve Allen. Confira esse incrível trabalho aqui!
Há um local secreto que poucos conhecem, onde as ondas rolam colinas adentro e a natureza vagueia livremente. Eu vivi a maior parte da minha vida na cidade, mas me vejo constantemente me aventurando por aí em mini excursões que me levam através de desertos, do mar, de montanhas e das florestas da Califórnia. Minha família vive em uma pequena cidade que fica a apenas 3 horas e meia ao norte de onde estou – agarro minha câmera e pulo no carro, seguindo a Highway 1 até alcançar os pastos ondulados e a paz… o silêncio, o puro cheiro do ar, que me lembram de todas as coisas que eu amei na Itália – um país em que passei 3 anos entre os meus vinte e poucos, circulando pelo desconhecido. Agora, dez anos depois, ainda busco esses momentos em que posso descobrir aquilo que é despercebido em meio a tão vasta beleza – para inserir evidência de um eu num mundo mágico reinterpretado.
Não pretendo esquecer da escuridão com toda essa magia, a escuridão é necessária e real. Carnal. … Destemida, busco o momento de confrontar a tensão, seja agarrando-a ou deixando-a ir. Quando fotografo alguém, sinto que essa é uma colaboração em que nos confrontamos… se esse alguém é tímido, serei ainda mais tímida, permitindo-o que se fortaleça. Se esse alguém é forte, devo vencê-lo ainda que de uma maneira tranquila, e assim eu desfruto dessa maneira de conhecer melhor os meus sujeitos. Há uma sensibilidade pessoal nesse momento, que julgo importante honrar, e que permite uma interação única…
Eu amo essa ideia de que o que vemos nesse mundo pode ser um reflexo de como o nosso cérebro deseja interpretar as coisas… fotografias são uma documentação de momentos e coisas desse mundo… mas e se a grama não for realmente verde, e se tudo o que vemos não for realmente o que vemos… Eu quero criar imagens que desafiem a realidade e que nos levem a uma alternativa pessoal. Pegue o filme infravermelho, por exemplo. Esse é um filme que foi feito para documentar a vida vegetal, tornando essa vegetação viva em vermelho através da visibilidade da luz infravermelha refratada, que é invisível ao olho humano. Esse conceito ecoa através das minhas fotografias em um jeito metafórico, já que estou mostrando como as coisas podem ser sentidas ao invés de como elas são percebidas.
Umas semanas atrás algumas moças vieram comigo para uma escapada de fim de semana… Uma lua minguante estava sobre nós e o nevoeiro se assentava sob as estrelas. Quando acordamos no dia seguinte, eu via apenas colinas cor de rosa, sabendo aí que precisava tirar algumas fotos. Trouxe comigo alguns tecidos vintage e saí com cada uma delas… o vento soprava com força e cada espaço fornecia um fresco refúgio enquanto fazíamos a nossa exploração, apesar do ar gelado. Saindo pelos campos, por cadeiras aleatórias e rochas talhadas, conchas como tapa-olhos e troncos deslocados, tudo vinha a este momento enquanto todo o resto fugia. 36 exposições depois, eu retirei o rolo da câmera usando a minha maleta e guardei-o na geladeira – esse é um dos meus últimos rolos Kodak infravermelho colorido, vale ouro pra mim. Além apenas da sensação estética que o filme possa oferecer, é também o desafio de encontrar um material tão raro para se poder usar, e a sensibilidade que se deve ter ao manejá-lo, e ainda a possibilidade de que nada disso saia bem por ser um produto já muito vencido, tudo isso são coisas que me causam grande interesse… Eu tenho controle até certo ponto e o resto é deixado à sorte, e com tamanho investimento, o risco é algo que me excita. Quando cheguei em casa, peguei meus químicos e processei o rolo, rezando para que a data de validade não tenha levado dessa vez o melhor que ele tinha a oferecer. Depois de dez minutos de revelação do rolo na minha cozinha, espiei antes de lavá-lo e finalmente exalei ao perceber que o filme havia sido exposto corretamente. Como alguém que ama o processo de cozinhar, o ato de se revelar filmes é para mim bastante similar, já que me ponho a misturar os diversos ingredientes para produzir um deleite final. Eu gosto de fazer parte de tudo o que se ligue ao projeto até que se chegue ao resultado final.
Quanto mais afeto eu puder ter com relação a uma peça, melhor, e o toque é uma grande parte disso. Às vezes eu sinto que a fotografia não pode me satisfazer por causa disso, porque muito do que se alcança vem por meio de um mecanismo. Mas acho também que sempre haverá um mecanismo envolvido, seja um pincel ou um instrumento musical. O que me lembra de algo… Falando em produzir imagens, eu tenho que dizer que não gosto de encaixar minhas fotos em palavras… as palavras possuem um tipo de permanência, mas sinto como se tudo fosse efêmero, como se a maior parte de mim e simplesmente algo que eu tenha visto hoje possam mudar e estarem diferentes amanhã, então palavras me assustam um pouco. Não posso explicar por que uso uma cor em determinada composição, eu sinto as coisas enquanto avanço, como um compositor infundindo-se em cada nota. Eu não posso perguntar a alguém o porquê de se ter escolhido um Si bemol em uma canção, e nem me importa, estou apenas ouvindo e deixando que isso me percorra até que eu sinta algo e nos conectemos. E, em essência, é daí que eu realmente venho.
English Version
There is a secret spot that only few know of, where the waves roll into the hills and the wild roams free. I’ve been living in the city for most of my life, but I find myself constantly venturing out on mini excursions that lead me through deserts, the sea, mountains and the forests of California. My family lives in a small town just 3 ½ hours north of where I’m at- I’ll grab my camera and jump in the car, following the 1 highway until I reach undulated pastures and peace… the quiet, the crisp smell of air, it reminds me of all the things I loved about Italy- A country where I spent 3 years of my twenties, wandering around the unknown. Now, ten years later, I’m still searching out these moments where I can discover the unperceived, amidst vast beauty- To insert evidence of self into a reinterpreted magical world.
I don’t want to forget about the darkness with all this magic, the dark is necessary and real. Carnal. …Unafraid, I’m asking the moment to confront tension, whether it’s grabbing onto it or letting it go. When I’m photographing someone, I feel like it’s a collaboration and we play off each other… if someone is shy, then I’ll be even more shy which allows them to amplify, with someone strong, I have to overpower them in an unassuming way and I enjoy this way of getting to know my subjects. There’s a personal sensitivity in that moment, which is important for me to honor and allows for a unique interaction…
I love this idea that what we see in this world might be a reflection of how our brains want to interpret things… photographs are a documentation of moments and things in this world… but what if the grass isn’t really green, what if everything we’re seeing isn’t really what we’re seeing… I want to create images that defy reality and take us into a familiar alternative. Take infrared film for example, here’s a film that’s made for documenting plant life, turning all living vegetation to the color red through visibility of refracted infrared light which is invisible to the human eye. This concept echoes through my photographs in a metaphorical way, as I’m showing what things feel like, rather than what they look like.
A couple weeks back a few ladies came with me for a weekend getaway… A waxing moon was upon us and the fog had settled below the stars. When we awoke the next day, I could see only pink hills and I knew that I needed to take some pictures. I had brought a bag of vintage threads and set out with each of the ladies by themselves… the wind was breathing heavily and each space provided fresh refuge that we explored, despite the frigid air. Stepping out into the fields, random chairs and jagged boulders, sea shells for eye patches and displaced driftwood made their way into the moment while everything else slipped away. 36 exposures later I pulled the roll from the camera using a darkroom bag and stored it in the fridge- this is one of my last rolls of Kodak color infrared film, that’s like gold to me. Beyond the aesthetic of what the film stock has the offer, it’s the challenge of finding such a rare material to use, and the sensitivity one has to have in handling it, and the possibility that it might not come out due to being too expired that interests me… I have so much control and the rest is left up to chance and with such a great investment, the risk is something that excites me. When I got home, I pulled out my chemicals and processed the roll, praying that the expiration date had not gotten the best of it this time. After ten minutes of developing the roll in my kitchen I took a peak before washing it and finally exhaled as I saw that the film had exposed properly. As someone who loves the process of cooking, the act of developing film is very similar to me in that I’m mixing various ingredients to produce a final delight. I like being apart of as much of the process that leads up to the final outcome.
As much of a personal affect that I can have on the piece, the better and touch is a big part of that. Sometimes I feel like photography can’t completely satisfy me for that reason, because so much of it is achieved by using a mechanism. But I guess there’s always a mechanism involved, whether it’s a paintbrush or a musical instrument. Which reminds me of something… In talking about making images, I have to say that I don’t like to fit my pictures into words… words have a sort of permanence, but I feel like everything is ephemeral, most of all myself and one thing I say today can shift by tomorrow, so words scare me a little bit. I can’t explain why I chose a color or a certain composition, I know I’m feeling things as I go, similar to a song writer infusing themselves into each note. I can’t ask why someone chooses a b flat in a song, why do I care, I’m just listening and letting it inside me until I feel something and we connect. And in essence, that’s really where I’m coming from.