Visuais

Cinco Curitibas

Cinco Curitibas: reunimos para esta edição cinco fotógrafos de rua que se dispuseram a percorrer a capital paranaense e mostrar um pouco do que enxergam no vai-e-vem da cidade. Confira aqui o trabalho de Emerson Christian, Melvin Quaresma, Ricardo Pozzo, Zeca Milleo e Vinicius F. Barth e descubra o que é a Fotografia de Rua para cada um deles.

 

 

Na última edição tratamos do que a Fotografia de Rua pode significar nos dias de hoje, e ainda do modo como o fotógrafo não só é visto pelo mundo, mas também se faz ver enquanto percorre ruas e cidades. A busca por significado e por discursos visuais faz com que cada trabalho seja único, como a visão própria de cada autor.

Neste mês a discussão se materializa e ganha corpo com um passo adiante: reunimos o trabalho de cinco fotógrafos de Curitiba que se dispuseram a nos mostrar a cidade com suas lentes. Diferentes formações, equipamentos, interesses, visões, aproximações: confira abaixo, através de três fotos de cada um deles, como se formam as diferentes cidades em uma só.

 

Emerson Christian Pereira

Gosto de fotografar o movimento do inesperado. Justamente o contrário do trabalho em estúdios ou em ensaios, onde a ação é geralmente bastante controlada.

Influências:

 – Evandro Teixeira, Pedro Martinelli, Sebastião Salgado e André Kertész.

 

Melvin Quaresma

Por que eu fotografo a rua?

Desde muito novo vou ao centro.  Acompanhava minha mãe nas idas semanais ao centro de Florianópolis, onde fui criado, e desde então me encontro apaixonado por assistir ao cotidiano. A paixão por assistir à vida, às pessoas, ao que acontece ao meu redor sempre veio acompanhada da minha timidez. Nunca fui muito de falar, sempre ficava escutando. Meu medo de interagir me fazia, sempre, um mero espectador do que acontecia em minha volta. E a fotografia chegou assim, como uma extensão do que a criança dentro de mim insistia em ser. Hoje, acredito que sou um tanto menos retraído e que a “fotografia tímida” seja uma parte, muito amada, do que eu faço. Agora também gosto dos retratos, da fotografia conversada e do que o “eu um pouco mais velho” é.  Parece piegas mas, a fotografia sempre foi, pra mim, a minha vida traduzida.

Lugares preferidos para fotografar:

Gosto de lugares em que eu possa observar e passar despercebido. Em Curitiba, meus lugares preferidos são a rua XV, a rua Saldanha Marinho e o Largo da Ordem… Mas sempre vai mudando…

Influências diretas:

Minha maior influência na fotografia de rua é Robert Doisneau.

 

Ricardo Pozzo

Por que eu fotografo a rua?

Sempre admirei os fotógrafos correspondentes de guerra, mas escolhi uma outra guerra para fotografar, a guerra das classes no cotidiano da urbe fágica, que aliás é o nome do meu projeto de fotos urbanas.

Lugares preferidos para fotografar:

Fotografo a cidade de Curitiba, mais precisamente o centro, onde todas as classes convivem e se enfrentam diariamente, além da periferia, onde moro e outras cidades para onde raramente viajo.

Influências diretas:

Teóricas: Vilém Flusser

Práticas: os fotógrafos de guerra em geral, desde Robert Capa, James Nachtwey, o brasileiro André Liohn ou o argentino Rodrigo Abd.

 

Vinicius Ferreira Barth

Por que eu fotografo a rua?

Comecei sem saber muito o porquê, mas com certeza reunindo as características básicas (creio) de todo fotógrafo de rua: timidez e curiosidade, que foram aguçadas pela vida em outro país. Daí o próximo passo, que considero decisivo, foi o de perceber aos poucos o quanto a vida do dia-a-dia nos fornece muito mais dramaticidade e comédia, por meio de narrativas instantâneas que se montam e se desmancham em frações de segundos. Fotografo porque o mundo tenta nos dizer o quanto ele é estético e literário em seu cotidiano, e é uma satisfação incomparável ser capaz de captar isso nessa pequena e peculiar moldura que carregamos pendurada ao redor do pescoço.

Lugares preferidos para fotografar:

Grandes aglomerações, centros, feiras e avenidas. Gosto de lugares coloridos, que construam no quadro uma rede de relações cromáticas. E gosto de lugares que compreendam diferentes classes sociais interagindo livremente, como num palco improvisado com personagens que se cruzam.

Influências diretas:

William Klein e Joel Meyerowitz.

 

Zeca Milleo

Fotografia “de rua”, para mim não é necessariamente procurar o “momento decisivo” nem capturar personagens esotéricos ou momentos extraordinários, mas sobre encontrar a beleza no mundano, da vida cotidiana de lugares curitibanos com as quais me deparo constantemente. Eu as vejo, as guardo em minha memória e depois volto para retratá-las, procurando detalhes, sem mostrar todo o seu contexto original. Lugares cotidianos são frequentemente reencenados por fotógrafos como Ryan Russell, William Eggleston e Stephen Shore.

Vinicius F. Barth
Doutor em Estudos Literários pela UFPR. Tradutor das Argonáuticas de Apolônio de Rodes. Escritor e ilustrador. Autor do livro de contos 'Razões do agir de um bicho humano', (Confraria do Vento, 2015) e do livro de poemas e ilustrações '92 Receitas Para o Mesmo Molho Vinagrete' (Contravento Editorial, 2019). Ilustrador de Pripyat (Contravento Editorial, 2019). Estudante de saxofone.

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