InterrogatórioPor aí

Interrogando Rosemeire Odahara Graça

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Imagem: Vozes do Outono,  Yiuki Doi

[/vc_column_text][vc_column_text]A R.Nott Magazine entrevistou Rosemeire Odahara Graça, curadora de “Aqui e lá”, exposição aberta na Zuleika Bisacchi Galeria de Arte e integrante do Circuito de Galerias da Bienal de Curitiba 2017. Ela nos contou um pouco sobre a montagem da exposição e também sobre sua carreira, confira!


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“Os artistas foram selecionados por: terem uma relação próxima com a cultura asiática; conceberem obras de qualidade compositiva, temática e técnica; e por serem bastante profissionais.”

[/vc_column_text][vc_empty_space height=”52px”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Como, onde, quando e por quê.

 

Sou professora de história das artes, pesquisadora de Artes Visuais e curadora independente. Trabalho desde 1999 no Campus de Curitiba II da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) (antiga Faculdade de Artes do Paraná, FAP). Tenho formação na área de Artes Visuais (Graduação) e Educação (Mestrado e Doutorado). Sempre gostei de História da Arte e desde meus anos de aluna de graduação desenvolvo estudos com acervos institucionais de Arte. Por meio desses estudos desenvolvi um bom repertório visual, o qual me auxilia no processo de análise de textos visuais de diferentes períodos. Eu sempre gostei de Artes e apesar das incessantes e cansativas lutas nos três campos que mais atuo (divulgação das Artes, formação de professores de Artes e artistas, preservação de objetos artísticos) continuo acreditando no potencial das Artes como um modo de desenvolvimento dos indivíduos. (Obs. Se quiser saber mais sobre minha atuação profissional consulte: http://lattes.cnpq.br/7809090677417715 e https://sites.google.com/site/rosemeireodaharagraca/)[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]♦ Fale sobre a sua curadoria na exposição ‘Aqui e lá’, recém aberta na Zuleika Bisacchi Galeria de Arte, em Curitiba. Como foi o processo de concepção da exposição, desde a escolha do tema até a escolha dos artistas participantes?

 

A exposição ‘Aqui e Lá’ é fruto de um grupo de encontros felizes. A ideia de minha participação como curadora surgiu de uma conversa da artista e marchand Zuleika Bisacchi com a artista Sandra Hiromoto. Zuleika havia sido convidada pelo Diretor Geral da Bienal de Curitiba, Luiz Ernesto Meyer Pereira, a ter sua galeria como integrante do Circuito das Galerias da Bienal. A Zuleika Bisacchi Galeria de Arte, que é originalmente de São Paulo, chegou há apenas dois anos a Curitiba e gostaria de apresentar uma exposição que respeitasse as premissas da Bienal ao mesmo tempo que honrasse com seu passado institucional. Na conversa de Zuleika com Sandra, que já havia exposto na Galeria, Sandra citou meu nome e experiência na participação de organização de mostras de Artes Visuais com artistas de ascendência oriental. Em maio de 2017 fui contatada pela Sandra e Zuleika e começamos a conversar sobre a exposição. Todos tínhamos ciência que o tempo não era o ideal para a realização de um trabalho de curadoria, mas achamos que seria uma pena não nos dedicarmos e perdermos a chance de dar mais visibilidade a alguns artistas locais. A primeira ideia era a de montarmos uma exposição com artistas do Paraná de ascendência oriental, mas logo percebemos que os poucos artistas locais descendentes de chineses já estavam envolvidos com outros projetos da Bienal e que artistas com vínculos com países asiáticos outros que o Japão são poucos por aqui. Como tenho maior convivência com os artistas Nikkei propus que trabalhássemos somente com artistas descendentes de japoneses e que estabelecêssemos o recorte para artistas residentes e atuantes nas três maiores cidades do estado, Curitiba, Londrina e Maringá. Infelizmente não conseguimos ter a participação de Londrina, mas Maringá e Curitiba estão presentes na mostra. A ideia foi sempre de encontro: entre países, entre artistas de diferentes localidades e gerações, de obras de diferentes técnicas e proporções. Ao mesmo tempo de diferenças: de entendimentos dos elementos da natureza e das culturas, de gêneros, de modos de fazer arte. Os artistas foram selecionados por: terem uma relação próxima com a cultura asiática; conceberem obras de qualidade compositiva, temática e técnica; e por serem bastante profissionais. O tempo para a escolha das obras era curto e teríamos de contar com obras já concebidas ou em processo de finalização. Todos os artistas selecionados são extremamente sérios, organizados, cuidadosos e comprometidos, por isso conseguimos compor a exposição em pouco tempo. Deve-se ter em conta que apesar da exposição ter sido aberta no final de setembro todo o material fotográfico e de texto deveria estar em posse da equipe da Bienal até o começo de julho.

 

 

♦ Para quem ainda não visitou a exposição, o que se pode esperar dela?

 

Primeiro é preciso dar as dimensões da mostra para que as expectativas para com ela sejam de acordo. Essa não é uma exposição realizada num espaço estatal e sim num espaço cultural, mas comercial situado num elegante shopping center. Isso já deve dar ao visitante a noção de que o espaço apesar de não ser muito grande, é perfeitamente projetado para receber obras de arte concebidas em suportes tradicionais. Apesar da possibilidade de venda, a proposta da mostra é dar visibilidade a alguns artistas locais e por isso estamos exibindo dois trabalhos em vídeo. Tanto Zuleika como eu possuímos a Educação para as Artes em nossas veias e devido a isso escolhemos apresentar uma proposta em vídeo arte-concebida numa vertente das Artes Visuais e outra na da Dança, pois esperamos ampliar o repertório visual do visitante da exposição. No que concerne aos aspectos físicos das obras, o visitante irá encontrar trabalhos em diferentes técnicas e modalidades artísticas (ex. desenho, pintura, fotografia, vídeo; bidimensional e tridimensional; etc.) bem como em diversas dimensões. Em termos de temática, os trabalhos apresentam primordialmente diálogos como elementos da natureza, do tempo e das culturas, trazendo reflexões sobre as similaridades e diferenças dos modos de ser e pensar do Ocidente e do Oriente, do ontem e do hoje.

 

 

♦ Fale sobre a sua relação com a arte produzida por nipo-brasileiros no Paraná e também sobre o seu livro Wakane, que trata do assunto. De onde surge esse interesse? Muita coisa mudou desde o lançamento do livro até hoje com respeito ao cenário paranaense?

 

Minha relação mais focada no trabalho de artistas nipo-brasileiros se deu por meio da pesquisa e exposição que realizei com Marcos Kimura (atual gerente executivo de marketing cultural da CAIXA) entre 2001 e 2003 e que denominamos “Wakane”. Foi um momento de reflexão para ele, para mim e para os artistas envolvidos. Todos nós temos vínculos com a cultura japonesa e queríamos resgatar as origens, o momento em que os imigrantes japoneses e seus descendentes, que residiram no Paraná, passaram a se dedicar às Artes Visuais após anos de trabalho árduo na lavoura ou no comércio. Ao mesmo tempo ver os desdobramentos e que caminhos futuros os artistas que eram atuantes no Paraná apontavam. Naquele momento tínhamos conosco dois aglutinadores de artistas Nikkei: Cláudio Seto (1944-2008) e Alice Yamamura (1954-2008). Eles foram fundamentais para a abertura de portas e corações. Queríamos encontrar não somente os artistas que estavam atuando, mas aqueles que já haviam atuado e que por um motivo ou outro haviam se afastado das Artes. Foi um trabalho muito importante para mim porque me permitiu entender alguns comportamentos culturais, escolhas de materiais e técnicas, temas e olhares. Acho que meu interesse pelo trabalho dos artistas de nipo-brasileiros vem da qualidade do trabalho que realizam, da seriedade com que fazem suas obras, de um olhar particular daqueles que vivem entre culturas diferentes em muitos aspectos. Muito tempo se passou desde a realização do “Wakane” e muita coisa mudou. Infelizmente alguns artistas faleceram, outros não criam mais dentro dos modos de fazer arte definidos pelas instituições ocidentais, e alguns novos artistas surgiram, mas creio que os artistas nipo-brasileiros residentes no Paraná não perderam duas coisas: 1. a escolha pela técnica e materiais ainda continua diretamente vinculada a necessidade de expressão própria e não modismos; 2. os temas de suas obras continuam atrelados aos seus interesses pessoais e não de mercado.

 

 

♦ Comente um pouco sobre alguns trabalhos específicos de ‘Aqui e lá’, como o lindo Vozes do outono, de Yiuki Doi, e Paisagens Desintegradas, de Akiko Miléo.

 

É muito injusto comentar de apenas dois artistas e de seus trabalhos. Todos são lindos nas suas particularidades, todos pedem pelo diálogo com o espectador. Algumas das pinturas nos consomem por suas proporções, contrastes ou cores, mesmo antes de nos propormos a conversar com seus temas (falo as obras de Tania Machado, Ademir Kimura e Sandra Hiromoto). Alguns trabalhos são o contrário, eles requerem que nos aproximemos, são diminutos, em preto e branco, e cheios de vazios que nos levam à reflexão (como os trabalhos de Claudine Watanabe e Julia Ishida). As obras em volume de Celso Setogutte são como traços que cortam qualitativamente e segurança o espaço. O trabalho de Akiko Mileo traz algo de sombrio, usando recursos visuais da aquarela numa aplicação de tinta acrílica sobre tela. Os vídeos de Yiuki Doi e Sayuri Kashimura são janelas para espaços além do da Galeria, são ampliações de conceitos, formas e modos de fazer e pensar arte.

 

 

♦ ‘Aqui e lá’ faz parte do circuito da Bienal de Curitiba 2017. Essa filiação potencializa a visibilidade da exposição? Comente um pouco sobre essa relação.

 

Sim, acreditamos que a exposição fazendo parte do Circuito das Galerias da Bienal amplia a visibilidade do espaço e dos artistas. Algumas pessoas seguem os roteiros e se tornam abertas para ir a locais que normalmente não iriam por não estar nos seus trajetos cotidianos. Do mesmo modo, as pessoas que costumam ir à Galeria se tornam interessadas pelas demais mostras e vão em busca de alguns lugares que ainda não conhecem ou não costumam visitar. Creio que funciona para todos. Sendo um evento com artistas de várias localidades também permite a troca entre os artistas, que se encontram por meio dos trabalhos em exposição.

 

 

♦ Fale aqui sobre o que você sempre quis falar, com toda a liberdade, ou responda aquilo que nunca te perguntaram.

 

Obrigada pela abertura, mas creio que a “conversa” que tivemos nesse momento já foi rica o bastante.[/vc_column_text][vc_gallery interval=”5″ images=”6149,6148,6147,6145,6144,6143,6142,6141″ img_size=”full”][/vc_column][/vc_row]

Vinicius F. Barth
Doutor em Estudos Literários pela UFPR. Tradutor das Argonáuticas de Apolônio de Rodes. Escritor e ilustrador. Autor do livro de contos 'Razões do agir de um bicho humano', (Confraria do Vento, 2015) e do livro de poemas e ilustrações '92 Receitas Para o Mesmo Molho Vinagrete' (Contravento Editorial, 2019). Ilustrador de Pripyat (Contravento Editorial, 2019). Estudante de saxofone.

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