InterrogatórioPor aí

Interrogando John Casey

[vc_row][vc_column][vc_column_text]Interrogamos o artista estadunidense John Casey, criador de inúmeros e impressionantes personagens feitos em diversos meios, como o desenho, escultura, recortes e pintura. Descubra aqui esse mundo e essas centenas de rostos.[/vc_column_text][vc_column_text]

“Há um momento quieto nas minhas narrativas, que são abertas, que parece preceder um momento dramático. Não é o drama que eu quero capturar; é mais o momento anterior, cheio de um potencial obscuro.”

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  •           Como, onde, quando e por quê.

 

          Eu nasci numa sexta-feira 13 em Salem, Massachussets, EUA. Foi em Salem que se realizaram os Julgamentos de Feitiçaria de 1692, na América do Norte colonial. Eu não sou, por si só, uma pessoa supersticiosa, mas tanto eu como vários dos meus amigos tivemos interesse no oculto, na feitiçaria e no diabo durante o nosso crescimento. A obscura história da feitiçaria e da perseguição está bastante impregnada nessa região. Além disso, eu cresci entre as décadas de 1970 e 1980, e havia muitos filmes de terror e livros baseados em demonologia e Satã. Eu também amava velhos filmes de monstros, como Frankenstein, Drácula, A Múmia, e O monstro da lagoa negra. Desde cedo comecei a desenhar criaturas e era fascinado por monstros de diversos tipos. Apresentei um talento natural para o desenho, e mesmo que meus pais não fossem artísticos (minha mãe é enfermeira, meu pai um oficial de polícia), eles me encorajaram muito para a atividade criativa. Depois de me formar no ensino médio, frequentei o Massachusetts College of Art e me graduei em pintura em 1988. Desde então eu mantenho a prática do atelier, me focando em desenho e escultura, em geral nesses meus personagens inventados e excêntricos. Agora eu vivo na ensolarada Oakland, Califórnia, com minha querida esposa e dois gatos.

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  •           Você criou e mostrou centenas de personagens em diversas formas. O que eles dizem sobre você?

 

          Eu sinto como se cada personagem fosse como um autorretrato. Muitos deles mostram algum tipo de desconforto com a sua existência física. Geralmente eles são torcidos, desproporcionais, ou possuem plantas ou apêndices crescendo por seus orifícios. Essas distorções personificam a minha ansiedade geral como uma pessoa moderna e um artista, bem como a minha deformidade pessoal.

 

  •           Você considera o seu trabalho engraçado ou assustador? Como você definiria o que faz?

 

          Meu trabalho é, provavelmente, um pouco de cada. Embora eu e esses personagens experimentemos ansiedade e desconforto em nossos respectivos mundos, somos resignados e adaptados às nossas condições. Eu, e também eles, tentamos ter um senso de humor negro sobre nossas situações. Eu espero que os personagens no meu trabalho transmitam esses sentimentos.

 

  •           Conte sobre os seus diferentes materiais. Entre o desenho, a pintura, a escultura e os recortes, você tem uma técnica favorita?

 

          Eu diria que o desenho é realmente o meu meio predileto. A escultura vem de perto em segundo lugar. Eu estudei pintura na escola de arte, mas me movi rapidamente para a escultura e o desenho logo após a graduação. Apenas recentemente, no ano passado, eu voltei a pintar de novo. Gosto de pintar, e acho que esse processo é muito mais divertido e livre, o que me leva a mais descobertas acidentais. Sobre os recortes, eu faço para exposições específicas, e oferecem ótimas peças centrais ou âncoras, e são um jeito de eu produzir personagens maiores. São um híbrido entre o desenho, a pintura e a escultura.

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  •           Existe um tema geral que você persiga? 

 

          Eu tento comentar o lado escuro psicológico da existência humana contemporânea. Há um momento quieto nas minhas narrativas, que são abertas, que parece preceder um momento dramático. Não é o drama que eu quero capturar; é mais o momento anterior, cheio de um potencial obscuro. Eu quero que o personagem ressoe esse potencial.

 

  •           Quem influenciou o seu estilo, e como as influências estão presentes no seu trabalho?

 

          Eu tenho muitas influências. Gosto do trabalho dos Surrealistas e do Expressionismo Alemão, e amo as caricaturas de Honoré Daumier, que não só produziu caricaturas bidimensionais, mas também pequenas esculturas de personagens. Quando eu estava na escola de arte, me apaixonei pelos trabalhos de Philip Guston, Anselm Kiefer, Louise Bourgeois, e Leon Golub. Também sou um grande fã de ficção científica e de filmes estranhos, como o Naked Lunch, por David Cronenberg, e Titus, por Julie Taymor. Assisti recentemente o documentário Jodorowsky’s Dune, e fiquei muito inspirado pela visão, os desenhos e designs feitos por Mœbius e H.R. Giger.

 

  •           Você vende as suas peças? Se sim, por que você acha que as pessoas compram?

 

          Sim, eu vendo meu trabalho através de algumas galerias. Como eu faço uso de uma narrativa aberta, sem um fim delimitado, acabo convidando o espectador a completar essa história incompleta na sua cabeça. Então eu acho que, se os personagens intrigam as pessoas, elas vão querer saber essa história, colecioná-la e viver com ela. Com sorte um trabalho é atraente o suficiente para sempre avançar e contar uma história longa e interessante.

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  •           Quais são os seus projetos futuros?

 

          Tenho uma exposição na Galerie Polaris em Paris, do fim de novembro até dezembro, que vai apresentar esculturas e desenhos. Também tenho alguns trabalhos de escultura para exposições em grupo que acontecerão logo em Los Angeles, Oakland e Hamburgo. Também quero continuar a explorar mais a pintura, já que as considero um pouco primitivas e eu gostaria de desenvolver a minha técnica. Também gostaria de adicionar um pouco mais de cor nos meus desenhos, e refletir essa união nas esculturas. E, num nível temático, quero fazer narrativas mais complexas, com mais personagens em cada trabalho. Muito a se fazer!

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Vinicius F. Barth
Doutor em Estudos Literários pela UFPR. Tradutor das Argonáuticas de Apolônio de Rodes. Escritor e ilustrador. Autor do livro de contos 'Razões do agir de um bicho humano', (Confraria do Vento, 2015) e do livro de poemas e ilustrações '92 Receitas Para o Mesmo Molho Vinagrete' (Contravento Editorial, 2019). Ilustrador de Pripyat (Contravento Editorial, 2019). Estudante de saxofone.

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