R.You

Poética do Acaso: Baga Defente

Conheça o trabalho de Baga Defente, que faz basicamente tudo. Entre um romance, filmes em super-8, livros-objetos, xilogravuras e videoarte, Baga se mostra um artista de personalidade vibrante. E ele está aqui, apresentado por ele mesmo.

“mas ok, vamos lá: nasci numa pequena cidade no interior de SP sob o signo de Capricórnio, ascendente em Câncer e lua em Aquário — ou seja, meu ser é um constante campo de batalhas onde razão & emoção se digladiam desde 1984.”

 

 

            tenho certa facilidade em escrever roteiros para vender serviços de empresas. também não sinto dificuldades em criar textos institucionais para sites. já escrevi episódios de uma série infantil  sobre a importância de uma boa alimentação (que na verdade queria era vender margarina). sempre gostei de manipular palavras e construir idéias a partir delas, seja partindo de demandas externas (trabalhos contratados) ou internas (dúvidas, angústias e reflexões que se convertem em poemas, contos, ensaios). mas escrever sobre meu próprio trabalho, sempre foi algo que deixei “pra depois”… aquele depois que nunca chega.

 

            quando recebi o email dos editores desta revista dizendo que gostaram do meu trabalho, que fariam uma matéria sobre e que o texto de apresentação deveria ser escrito por mim, soube que não queria fazer algo didático-linear, aquela coisa “nasci blá, estudei blá blá e blá blá blá” — nada contra quem o faz, pelo contrário, é até mais fácil de compreender e contextualizar — porém, não acho que isto tenha a ver comigo.

 

 

            com isso em mente, sentei para escrever. na primeira tentativa, gastei um terço dos caracteres disponíveis para (tentar) esboçar a idéia de como, dois dias antes, o fato de ter encontrado um toco de madeira enquanto caminhava até a porteira de onde moro — sim, porteira: em 2011 troquei o cinza de São Paulo pelo verde de um bairro rural localizado em Botucatu, a 240 km da capital paulista — havia expandido minha percepção da xilogravura (cheguei na cidade bem na época que surgiu um ateliê voltado à prática desta técnica, do qual ainda participo), buscando com isso fazer a ponte com a Poética do Acaso, principal conceito que permeia meu trabalho, que se apresenta em três meios principais: Artes Visuais, Audiovisual e Escrita Criativa.

 

            mas ok, vamos lá: nasci numa pequena cidade no interior de SP sob o signo de Capricórnio, ascendente em Câncer e lua em Aquário — ou seja, meu ser é um constante campo de batalhas onde razão & emoção se digladiam desde 1984. assim sendo, em 2014 completei 30 anos e desde os 28, sempre no início do ano, Saturno me dá uma surra, mas eu insisto, me levanto, o outono chega e as coisas melhoram. mas você não estão aqui para ler sobre astrologia, né?

 

 

            comecei algumas faculdades (Publicidade, Cinema, Filosofia), mas jamais completei o primeiro ano de nenhuma delas, vindo a concluir um curso técnico de Cinema & Vídeo pela Academia Internacional de Cinema (AIC), na qual fui cobaia, integrando a primeira turma da mesma (2004-2006). desd’então comecei a trabalhar no meio publicitário, primordialmente com edição e roteiro. paralelo a isso, comecei a desenvolver meu trabalho autoral nesta área, com enfoque na videoarte, o que me transformou em uma espécie de one-man band, realizando obras nas quais acumulo praticamente todas as funções, salvo eventuais (e bem-vindas) ajudas de amigos. detalhe curioso: apesar de ter estudado (e trabalhar com) criação de roteiros, nenhum dos filmes por mim feitos depois da escola partiu de alguma ideia ou pressuposto, surgindo a partir de imagens captadas ao léu que ganham significado narrativo durante a etapa de montagem.

 

            como boa parte das crianças, eu gostava de desenhar. muito. passava tardes rabiscando papéis com lápis de cor, guaches, giz de cera, aquarelas, batons e o que mais tivesse às mãos. assim foi até o colegial, onde os espaços em branco das minhas apostilas eram invadidos por personagens estranhos que divertiam e chocavam meus colegas de classe. a partir daí o desenho foi ficando pra trás, sendo gradualmente substituído pela escrita, em especial, a Poesia.

 

            aos 18 anos saí da casa dos meus pais, mudei para a capital e ganhei minha liberdade pessoal. mergulhei na cidade grande, conheci meu primeiro grande amor, vivia tudoaomesmotempoagora, e a escrita foi a forma que encontrei de não ficar (patologicamente) maluco. escrevia com frequência, geralmente poemas tão tristes e melosos que nas primeiras linhas matariam diabéticos. aos poucos isso foi sendo superado e, dois anos depois, morando em Curitiba — minha querida fase “pseudo-beatnik” — essa escrita ganhou ares compulsivos e mais experimentais, crescendo em volume e qualidade, refinando-se.

 

 

            após dois anos interessantes na capital paranaense, voltei para a Pauliceia e, graças ao contato com um grande amigo de infância que veio morar comigo, o desenho e a pintura voltaram a integrar meu cotidiano. nunca fiz cursos ou estudei técnicas de pinturas, meu conhecimento é empírico, baseado na experimentação — e isso se reproduz em todas minhas áreas de atuação. trabalho com suportes encontrados em caçambas, frases e objetos achados na rua, restos de obras alheias e demais elementos que geralmente são descartados como lixo. gosto bastante de colagens e há 4 anos minha principal influência vem do meu filho mais velho, hoje com 6.

 

            ainda nas artes visuais, uma das minhas séries mais recentes representa bem a influência do Acaso em minha obra: em O Outro (&) Eu, parto de suportes pré-trabalhados — telas pintadas por crianças, abandonadas por outros artistas, encontradas em entulhos — para continuar criando a partir dali, incorporando elementos que vão surgindo no decorrer do processo.

 

            nos últimos anos, fiz experiências com super-8 (agora tô encantado com o VHS), participei de algumas mostras e festivais — destaque para prêmio de melhor videoclipe num festival no sul e uma exibição na Grécia. como artista visual, descobri a aquarela, participei de algumas exposições coletivas, atualmente estou interessado em publicações independentes e venho fazendo livretos onde misturo desenhos e textos. fiz também um livro-objeto, Hai-Kai(dos), composto por 12 xilogravuras e pretendo ainda este ano colocar no ar dois projetos de financiamento coletivo, um para viabilizar a impressão destes livros já finalizados, outro para concluir e publicar meu primeiro romance, iniciado sete anos atrás.

 

            no final das contas me empolguei, o espaço acabou e eu poderia falar muito mais à respeito de tudo isto, mas se vc ficou curioso ou gostou do que viu, meu trabalho pode ser conferido no site www.nada.art.br e meu email é baga@nada.art.br.

 

gracias!

 

R.You!
Ei, artista! Você mesmo! Estamos procurando gente nova! Esse espaço é destinado a divulgar o trabalho dos novos nomes das artes, seja em música, artes visuais, literatura, o que for. Se você tem uma produção para mostrar ao mundo e quer estrelar uma de nossas edições, entre em contato conosco em contato@rnottmagazine.com

You may also like

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

More in R.You