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Prólogo seguido de observações

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Imagem: João Dormindo no Gramado por Felipe Ferla da Costa 

[/vc_column_text][vc_column_text]Diretamente do Rio Grande do Sul, Felipe Ferla da Costa nos apresenta o seu trabalho, contando também com algumas palavras de Yukio Mishima. Confira!


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“Viver e trabalhar no subúrbio de uma cidade localizada na região metropolitana de Porto Alegre me ensinou o valor das tardes de domingo nubladas, que piscinas e estacionamentos vazios são locais de profundo mistério, e que sonhos podem nascer e morrer no percurso entre uma gangorra enferrujada e um balanço decrépito.”

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Prólogo

[/vc_column_text][vc_column_text]O nono capítulo do livro Cores Proibidas de Yukio Mishima narra em suas passagens iniciais uma conferência realizada a contragosto por um dos personagens, Shunsuke Hinoki, escritor de grande prestígio nos meios intelectuais devido à sua obra de estética sóbria e livre de excessos emocionais. Porém, enquanto seus livros aparentavam estar destituídos de elementos tais como rancor, amargura e frustração, a vida do mesmo estava repleta de todas estas características devido a inúmeros incidentes pessoais. Dirigindo-se de forma indiferente e com certo desprezo a um auditório lotado de admiradores de sua arte, Hinoki profere (MISHIMA, 2002, p. 144-5):[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”3/4″][vc_column_text]A verdadeira beleza impõe o silêncio […] Nas épocas em que essa fé ainda não fora destruída, a crítica era um campo profissional por si mesma. A crítica empenhava-se em imitar a beleza […] Ou seja, a crítica assim como a beleza, tinha por objetivo último impor o silêncio. Mais do que um objetivo, esse é um não objetivo. O método crítico consistia em instaurar o silêncio sem recorrer à beleza, apenas pela força da lógica. A lógica na condição de método crítico, assim como a beleza, tem o poder absoluto de forçar o silêncio alheio. O efeito desse silêncio, resultado da crítica, deve transmitir a ilusão da existência da beleza. É necessário que se forme um vácuo. Assim pala primeira vez a crítica se tornava útil à criação.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Em outras palavras, o ideal de qualquer tipo de análise crítica é que a mesma se mantenha análoga a beleza, ou seja, procure delimitar por meio de sua retórica específica um estado de lucidez plena, tanto em termos de linguagem quanto em termos de ações. Mais adiante em sua leitura, Hinoki (ou Mishima dependendo de que modo o texto é analisado), argumenta que o período no qual a beleza impunha o silêncio acabou, sendo agora a mesma uma causa para a oratória desenfreada e sem motivo aparente (MISHIMA, 2002, p.146):[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”3/4″][vc_column_text]

 

A beleza acabou se tornando um estímulo à eloquência. Na presença da beleza, sentimo-nos rapidamente forçados a externar nossas impressões de alguma maneira. Sentimos a necessidade de converter a beleza o quanto antes em valor. Seria perigoso não fazê-lo. Como um explosivo, a beleza tornou-se algo difícil de possuir. A faculdade de possuir a beleza em silêncio, essa capacidade suprema, que exige sacrifício, perdeu-se inteiramente.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Levando em consideração tais ressalvas, o ato pelo qual um artista ou crítico discorre de modo verbal acerca da arte pode criar no melhor dos casos um entendimento claro de determinada produção, e no pior, um mero exercício intelectual, que, em seu esforço de transcrever em palavras as qualidades inerentes de certas obras, deturpa-as destes mesmos atributos. Portanto, ao ponderar sobre meu próprio trabalho artístico, procurei salientar apenas aquilo que é importante em uma linguagem que considero a mais direta que consegui colocar em prática.

 

Ao espectador cujo alfabetismo visual é de certa envergadura, tais “observações” podem não ser de grande relevância tendo em vista o fato de que tudo o que comunico está na imagem em si, não em palavras que existem sobre a mesma. Entretanto, se aquilo que manifesto abaixo funcionar como uma meio de esclarecimento, introdução ou apreciação das minhas obras para qualquer um cuja curiosidade se estenda para a procura de tais atos, acredito que sucedi em meu empenho.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

Observações

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Acerca da vida
 

A vida em si é um acúmulo constante e ambíguo de obsessões.

 

 

Acerca da arte
 

A arte nada mais é do que um meio elegante de legitimar obsessões.

 

 

Acerca dos objetivos
 

Meu objetivo primário na arte que produzo é tornar visível e intensificar o ato pelo qual meu eu, com todas as idiossincrasias que delimitam minha individualidade, intui o outro e seu meio, com as iguais prerrogativas particulares que os circunscrevem.

 

 

Acerca dos temas
 

A escolha majoritária de indivíduos do meu círculo afetivo imediato deve-se ao fato que, ao utilizá-los como tema posso ponderar acerca de nossas relações como pessoas, e, a juventude de todos me sugere extraordinárias possibilidades.

 
 

Acerca do meio
 

Viver e trabalhar no subúrbio de uma cidade localizada na região metropolitana de Porto Alegre me ensinou o valor das tardes de domingo nubladas, que piscinas e estacionamentos vazios são locais de profundo mistério, e que sonhos podem nascer e morrer no percurso entre uma gangorra enferrujada e um balanço decrépito.

 

 

Acerca das referências
 

Ao mesmo tempo que aquilo que chamamos de estilo é algo inevitável em qualquer meio criativo praticado durante certo período de tempo, aquele que produz não opera em um vácuo, portanto os nomes que me inspiram em termos visuais são basicamente os de Kirchner, Munch, Kern, Freud, Kokoschka, Whistler, Krøyer Richter e Tuymans.

 

 

Acerca da escala
 

O termo escala para mim remete invariavelmente a outro, intimidade. Ao decidir por executar uma obra em determinado tamanho ao contrário de outro, essa escolha se deve mais ao fato de que tal é mais ou menos íntima para comigo ou (com sorte) para com o observador.

 

 

Acerca da fotografia
 

A fotografia me aparenta ser o único tipo de imagem que possui a capacidade de ser simultaneamente informal e delinear a aparência interior e exterior de algo ou alguém de modo mais fiel possível, ou seja, representar precisamente o outro do qual me refiro.

 

 

Acerca da pintura e do desenho
 

Pintar e desenhar para mim não são modos de (re)criar ou inventar algo, alguém ou alguma coisa que os olhos – sejam aqueles da face, da mente ou do coração – enxergam, mas sim uma maneira de afirmar tais coisas perante minhas sensibilidades, torná-las mais reais do que elas são ao filtrá-las pelo eu.[/vc_column_text][vc_gallery type=”image_grid” images=”5852,5851,5850,5849″ img_size=”full”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Página oficial:

felipecos.portfoliobox.net

 

 

Referências Bibliográficas 

 

MISHIMA, Y. Cores Proibidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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