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“A materialidade do mundo tal qual a percebemos, tanto quanto os sonhos, desejos, dores, medos, abrigam-se no corpo, expressam-se ou reprimem-se em movimento.”
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A palavra “ensaio” tem no português uma amplitude que a nós do Agora Coletivo interessa muito. Tanto que acabou definindo muitas das características do projeto que estamos desenvolvendo. Se no teatro o ensaio faz parte do processo criativo que leva a uma produção final, na literatura esta aproximação de algo pode ser já em si uma proposição discursiva. Não é lindo isso? Que o estudo, a tentativa, a busca, o caminho, seja algo a ser compartilhado? Este tipo de ensaio apresenta um assunto que ainda carece de ser mais desenvolvido, mas cuja forma livre revela subjetividades que nos aproxima de uma ideia ao nos aproximar do indivíduo que a apresenta.
No projeto Ensaios para uma poética do movimento, estamos “ensaiando” pelo espaço urbano de Curitiba. Eu (Ana Ferreira) e Jossane Ferraz, ambas intérpretes-criadoras, junto a Marcelo Bourscheid, dramaturgo, buscamos nos aproximar de um espetáculo de rua que terá estreia em março no Festival de Curitiba e que levará o título de Ensaio para uma poética do movimento (agora, no singular). Nesse processo, realizamos estudos públicos, nomeados “Ensaio n. 1”, “Ensaio n. 2” e assim por diante. Eles são investigações, mas que já se colocam também como afirmações de subjetividades possíveis. Assim, a tentativa, que já é apresentada como ação poética, ressoa no ambiente, bate e volta.
O projeto é livremente inspirado no Livro da Dança do português Gonçalo M. Tavares, um livro de poemas que, apesar do nome, não tem correspondências mais óbvias com uma proposição cênica. Esta obra, que tem o corpo como tema, usa a poesia como método investigativo, fazendo assim um malabarismo grandioso: ao afirmar que o corpo produz conhecimento, que ele pensa, o tipo de conhecimento que o livro produz é pura linguagem. Ou seja, quanto mais Tavares se aproxima do corpo, mais se aproxima dessa descarnada que é a palavra.
Por outro lado, o material do ator é seu próprio corpo. Assim, o jogo de oposição entre a dupla de mídias de Tavares aqui não existe (quando não se torna inversamente agregador, já que o teatro pode ser plurimidiático). Mas o Livro da Dança nos interessa mais por este “estudo” que no fim é enganoso; por este se apresentar como “projeto para” e, no fim, mostrar-se como “realização de”; por esta artimanha de se propor a analisar algo e acabar revelando outro, um que se mostra pela forma.
Desde a partida através do Livro da Dança, em outubro no ano passado, até agora, distanciamo-nos cada vez mais da obra de Tavares. Embora ainda rodeemos questões que lhe são centrais, nossa poética começa a se revelar através das suas práticas.
Em nossos Ensaios, algumas tentativas diversas foram feitas. No Ensaio n. 1, exploramos o corpo estranho, de aparência extra-cotidiana, que por sua simples presença parece produzir uma fenda na realidade. Mais adiante, estudamos montar um corpo assim no espaço público mesmo, o que deu origem ao Ensaio n. 6(realizado na rua e repetido em partes na festa da Revista R.Nott). Nesse, traçamos uma espécie de ritual com a participação dos transeuntes: colocando materiais orgânicos em seu corpo, eu transformava Jossane em planta enquanto ela cantava parada no lugar; em determinados momentos, eu traçava no chão um caminho para que ela seguisse, que continha também alguns símbolos; ela dançava por ele enquanto eu perguntava para as pessoas da rua sobre algo ou alguém que eles haviam perdido; suas respostas eram anotadas em um papel, transformadas em pássaro, e coladas no corpo de Jossane; um trecho do Livro da Dança era lido ao microfone, para todo o ambiente; depois eu continuava o procedimento de transformá-la em planta, reiniciando o processo que assim seguiria por duas horas. Esse Ensaio, na verdade, já trazia elementos do n. 4, no qual as perdas dos participantes, escritas em papeis, eram queimadas.
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Em nosso mais recente Ensaio, eu e Jossane ficamos, alternadamente, com uma placa levantada na praça: “danço as vidas que não foram”. Perguntamos às pessoas se houve algum momento em suas vidas em que elas tiveram que fazer uma escolha que foi determinante para seu destino. A ação em si é muito simples, mas gera um efeito muito potente. Você pergunta algo assim e pensa que vai ouvir sobre o vestibular ou sobre uma mudança de cidade. Mas as pessoas te contam verdadeiros poemas épicos, e com uma força de semideus no olhar. E o que elas contam a você não é algo que costumam contar, mas você está fazendo arte com a vida delas, então o segredo não é pra ser mantido, é para ser dado, para ser transformado em algo material, com vida própria, como uma dança.
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Textos diferentes e movimentos corporais diversos foram explorados nestes Ensaios também. O que une todos eles ainda é genérico: uma noção de estudo, de compreensão (ainda que não se pretenda apresentar nenhuma tese), sobre como tudo parte e rebate no corpo. A materialidade do mundo tal qual a percebemos, tanto quanto os sonhos, desejos, dores, medos, abrigam-se no corpo, expressam-se ou reprimem-se em movimento. Recentemente, alguns signos e tipos de discurso se mostraram mais próximos de subjetividades nossas, e talvez possam vir a ser nossa resposta cênica ao que Tavares nos estimulou a buscar.
Alguns outros testes formais não chegaram a ser caracterizados como Ensaio, embora, olhando para trás, possamos ver que eles possam ter tido a mesma potência de intervenção artística (talvez seja o caso, agora, de repeti-los com esta intenção). Por outro lado, algumas investigações sempre acabam servindo para entender o que o trabalho não é, enquanto o que ele é (ou vai se tornar) continua a ser moldado.
Mesmo que este processo não se encontre em fase de acabamento e nossas proposições finais ainda não possam ser definidas, já se pode perceber que este modo de produção vai ao encontro do nosso interesse central: esta procura vai se revelando já um tipo de resposta, enquanto a resposta final ainda será outra forma de enunciado da questão.
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Para acompanhar o projeto:
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