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Imagem: John baptist macedonia
[/vc_column_text][vc_column_text]A primeira coluna R.You! do ano de 2015 vem com o trabalho de César G., num texto que, sem um gênero definido, anda pelas bordas da poesia, da música e da narrativa. Transmute-se também na leitura do seu texto intitulado ME COMA, ME LEI, A PÁGINA SAGRADA.
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“Sua marca é a busca de uma forma, se não inédita, refogada, na qual os domínios entre poesia, música e narrativa se confundem na eterna procura de uma nova linguagem, que não seja só representação, mas também que desperte uma sensibilidade latente e potencial no leitor.”
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Breve Introdução
[/vc_column_text][vc_column_text]O texto ME COMA, ME LEI, A PÁGINA SAGRADA anda na fronteira, estrangeiro em seu próprio meio – a Literatura. Espécie de prosa poética em que a linguagem é forçada a transmutar, retorcer-se, para acompanhar a quase-narrativa de uma mente em crise, tentando amenizar a dor pelos rastros palavras. Sua marca é a busca de uma forma, se não inédita, refogada, na qual os domínios entre poesia, música e narrativa se confundem na eterna procura de uma nova linguagem, que não seja só representação, mas também que desperte uma sensibilidade latente e potencial no leitor.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
ME COMA, ME LEI, A PÁGINA SAGRADA
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para Antonin Artaud
César G.
30/03/10
[/vc_column_text][vc_column_text]Já fui chamado viciado; melancólico; esquizofrênico; depressivo; incapaz. Sim ou não, isso não me importa – exporta-me de mim. Eu fica louco, eu fica fora de si, já disse o Arnaldo.
Diagnósticos, em sua maioria, são crenças, rótulos, pura recusa e incompreensão da diferença. Mesmo que por vezes ajude, si e somente si, com i, cola as asas quebradas e possibilita o voo equilibrado. Mas agora, o que importa é que ando pelo mundo, como os gauleses de Uderzo e Goscinny, esperando o céu cair sobre minha cabeça. Se é que não caiu, por diversas vezes, e eu, zonzo, ainda não me dei conta.
Ora essa! Afinal, o céu vive a cair. Ou dele caímos. Sistematicamente. Adão e Eva, pela simples entrega descompromissada ao prazer. Um anjo, pela simples discordância. O que dizer de nós – humanos bastardos de uma genealogia divina longínqua. E tenho que substituir cada buraco espiritual. Uau!
Tudo
Tornado
Imenso
Vento
Confuso
Agora, sozinho em casa:
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1 – Somos seres constituídos basicamente de dor e ansiedade (daí a necessidade do amor). Quando algo de bom ocorre, sentimo-nos gratos e apreensivos quanto à finitude (o amor é desejo ou apetite?). Momentos de quietude e extrema perturbação exterior
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don’t help me, my love
my brother, my girl
just tell me your name
just let me say m’I
2 – Então eu vejo a lua brilhar e tenho vontade de ritualizar esse instante de não morte; e eu vejo qualquer outra coisa e ouço a infinitude pulsando. Mas tudo pode ser falso e denotar uma grande vontade de encobertar tormentos, unguentos quaisquer.
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Meu coração não contenta
ou
Tudo começou com uma dor de dente, por volta de 1998.
ou
Havia uma grande confusão lá fora.
ou
Morpheus é O deus, deve traficar para Dionísio.
ou
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E então, disse: Deus, me faça húmus, como que a buscar absolvição e eternidade quando seu corpo nutrisse as plantas, que alimentariam bichos e o bicho homem, numa espécie de ciclo de imortalidade materialista. E Deus nada fez, pois não estava lá.
Quanta dor temos que suportar até que. Ponto. Mesmo. A frase cessa. Não há um todo; as partes excedem. Somos condenados aos pedaços. Sempre. A esquizofrenia é do mundo.
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Deságua
Deságua
Desalma.
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O turbilhão – sou, sois, souls. Tudo quebrado nessa vida besta. Mas eu junto os pedaços, faço o meu caminho e ando até meus pés sangrarem.
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Não posso quebrar.
Não posso parar.
Não posso parar.
Não posso parar.
Não posso parar.
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Minha vida se equilibra entre a sina e o sonho.
Escrevo-me ou me devoro – insaciável.
Seria a esfinge minha efígie?
Ou o que me devora é o inominável, o que não pode ser representado?
Ou toda a culpa, todo o ódio, toda a vergonha, todo o crime que pratico contra meu corpo, contra mim mesmo?
Ahhh… Deus. Tudo isso é demais pra qualquer dia de manhã, faça chuva, faça sol.
O mundo lá fora me chama, mas neste momento, tenho medo dele.
Vou voltar pra cama: bom dia.
A Bíblia pagã: Somente Naquilo me fortaleço.
Mas hoje eu não tenho nada.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
Biografia
[/vc_column_text][vc_single_image image=”5318″ img_size=”” alignment=”center”][vc_column_text]César G. é filho de pai e mãe ex-prisioneiros políticos, torturados pelo Estado ditatorial. Criado, junto ao irmão e grande amigo Cacá, pela mãe professora de sociologia e teoria política, além de amante da literatura e com uma rara sensibilidade, que passou aos filhos. Os raros encontros com seu pai foram marcantes; aos seis anos de idade foi de Brasília ao sul do Pará com ele, de caminhão. Aos dez anos de idade, depois de se esmerar em um texto não citado em sala de aula, resolveu escrever com os culhões. É escritor, poeta, revisor e editor de textos. Tem 38 anos e a poesia adentrou poderosamente a sua vida a partir dos 13 anos; pouco mais tarde escolhendo, como guias, Rimbaud, Alphonsus de Guimarães, Jim Morrison, a Geração Beat e Charles Bukowski. A poesia brasileira descobria através das canções dos Baianos, e seus arredores, como Torquato Neto, Waly Salomão, Luis Melodia, Caetano, Chico Buarque, Mutantes, Arnaldo Antunes, etc… Sua formação em literatura brasileira “clássica” se deu posteriormente, na Faculdade de Letras da UFMG, onde se Licenciou em Português, estudou também Latim, Literatura Grega e, posteriormente, obteve o título de Mestre em Teoria da Literatura/Literatura de Experiência. É poeta formado nas ruas, nos bares underground, nas bocas de fumo, nas conversas com cafetões e prostitutas, mas também premiado, publicado e pago (raridade) pela revista Ipsis – Revista do Corpo Discente da Universidade Federal de Minas Gerais. Foi convidado a publicar na seção Poéticas da revista Em Tese, do Departamento de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG; aceitou e publicou a trilogia Poemas Porrada, na última edição, Literatura e Violência. Hoje dedica-se à revisão, edição e à escrita, além da criação de seu filho João, em parceria com quase todos os avós e tios e, principalmente de sua grande amiga Jade, mãe de seu filho. O texto não poderia sair sem a ajuda generosa de Li An. Ultimamente está solteiro; as mulheres não entendem muito bem um homem que quer ser um escritor vidente, na intensidade do mestre Rimbaud, na acepção do mestre Artaud.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]