O poeta paulista Dirceu Villa, em entrevista concedida ao nosso colunista Guilherme Gontijo Flores, fala sobre o percurso de sua carreira até aqui e expõe a sua visão a respeito de como vai a poesia no Brasil. Cinco poemas do autor acompanham a entrevista.
no post passado, dei início a uma conversa sobre poesia contemporânea. aqui, preferi passar a voz para outro contemporâneo dos meus favoritos, o poeta, tradutor & ensaísta dirceu villa.
nascido em sampa , anno domini 1975, villa é autor de três livros de poesia: MCMXCVIII (ed. badaró, 1998), Descort (ed. hedra, 2003, vencedor do prêmio nascente) e Icterofagia (ed. hedra, 2008, contemplado com o PAC). foi publicado em revistas brasileiras de peso como Ácaro, Cult, Ciência e Cultura, Modo de Usar & Co., Celuzlose, IHU, Metáfora, além de estrangeiras, como Rattapallax, Poetry Wales, Alforja, Alba & Neue Rundschau.
além de poeta, villa tem uma produção acadêmica de dar inveja: mestre em 2004 com uma tradução anotada dos poemas de Lustra, de ezra pound (publicada pela ed. demônio negro/annablume, em 2011), & doutor na USP, em 2012, com tese sobre a poesia dos séculos XV-XVI na itália e na inglaterra, com direito a estágio de pesquisa na biblioteca do warburg institute e na british library, de londres entre 2010 & 2011.
lecionou poesia por três anos na extensão universitária da USP & foi curador da exposição de livros de ezra pound da biblioteca pessoal de haroldo de campos, na casa das rosas, em 2008. Na revista digital Germina Literatura escreveu uma série ensaios sobre poesia contemporânea, revisões do cânone da poesia de língua portuguesa, e traduziu ovídio, matteo maria boiardo, peire vidal, voltaire & e.e.cummings, dentre outros.
organizou a antologia de doze poetas brasileiros contemporâneos para a revista La Otra, do México. por fim, traduziu também contos de joseph conrad & prefaciou obras traduzidas de stéphane mallarmé, charles baudelaire, christopher marlowe, além de obras recentes de alfredo fressia & érico nogueira.
há pouco, participou, com o poeta ulf stolterfoht, do VERSschmuggel (Contrabando de versos), oficina de tradução no PoesieFestival de berlim, em 2012, publicada em livro por wunderhorn (alemanha) & 7Letras (brasil).
como se não bastasse, escreve o blog Demônio Amarelo: http://odemonioamarelo.blogspot.com.br/
segue abaixo uma entrevista & mais 5 poemas que fazem parte do livro Couraça, ainda inédito.
guilherme gontijo flores
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são 15 anos de poesia, desde o lançamento do teu primeiro livro MCMXCVIII, em 1998. alguma coisa mudou?
tudo mudou. estou mais velho, minha poesia deve estar mais meticulosa, o mundo mudou. MCMXCVIII marcava também, ou pretendia marcar, trinta anos do nosso desastre cívico recente, o AI-5, como também uma resposta de liberdade. é muito importante lembrar disso, e na época era claramente recente em termos históricos, e mais de uma geração pensante e criativa havia sido eliminada por contínuos violência e terror.
ninguém o diz, porque a ditadura entregou o poder e acordou-se um voto de silêncio geral. mas a merda da educação, do país e da arte devem-se à brutalidade feroz desses animais de farda que eram os testas-de-ferro de animais de gravata, que tinham e têm o dinheiro.
penso que os teus dois primeiros livros já apresentavam um projeto poético desde o título: MCMXCVIII (1998) indicava o próprio ano (sua indiscutível vinculação com o presente) em números romanos (no confronto com a tradição, na leitura constante do passado), enquanto Descort (2003) se referia ao gênero trovadoresco do desacordo, mistura de línguas, etc. você percebe nesses dois título programáticos uma continuidade com a sua poesia de agora?
quando se é jovem, a sensação é a de que se é invencível e que mudar o mundo está a apenas 5 anos de distância, no máximo. é uma inocência muito grande, mas muito corajosa e comovente. pode ser incrivelmente brutal, também, pouco saudável ao supor um poder que não se tem nem se deve ter.
minha poesia, precisamente agora, começa a prestar contas à memória, ao tempo, à vida que não se fixa quando se quer. não é nostálgica, que a nostalgia é uma idiotice como o patriotismo, mas há nessa nova poesia uma consciência dos buracos abertos no corpo frágil, na mente e no coração, que não podem se defender de tudo. chama, por isso, couraça.
a ligação que há, penso, é a da linha que leva aquele homem e poeta a este, o mesmo, para efeito de carteira de identidade. minha poesia creio que sempre terá a marca ambivalente de presente e passado. e futuro: porque é provável que seja melhor lida com alguns anos de distância. estamos em um ponto em que a leitura de poesia praticamente inexiste no brasil.
Icterofagia (2008) é um imenso livro de poesia lírica (se é que o termo ainda se aplica a estes tempos) de 200 pp., porém com uma amarração temática bastante demarcada. como foi o processo de composição?
longo. o conceito dele nasceu com a escrita dos poemas já adiantada, quando percebi traços de um padrão mais ou menos caótico, e de certa forma canalizou muito da minha percepção a partir daí. foi um período muito fértil, aquele: traduzia ovídio, pound, discutia com alguns outros poetas e com gente que escreve no jornal, publicava artigos mensalmente na revista germina, tinha uma atividade ininterrupta.
daí o livro ser solar, muito vivo, amplo. tinha de ter, de certa forma, uma amplitude que propusesse sinteticamente a experiência da vida com intensidade.
você está com um novo livro em andamento, Couraça . Lá se vão 5 anos desde Icterofagia. poderia falar mais um pouco sobre ele?
é um livro no qual se reduz ligeiramente o escopo de icterofagia, e onde há menos inocência, menos ímpeto. é um livro todo em caixa baixa, quer investigar mais dentro do que fora, creio. é um livro escuro como uma armadura antiga, riscado, áspero.
o que era a virtude solar da experiência tornou-se gasto aqui, na luta. é tudo o que posso dizer sem estragar a leitura.
considero teu Lustra — tradução poética & crítica do livro homônimo de ezra pound, resultado da tua dissertação de mestrado — um ponto importantíssimo na revisão crítica de pound fora dos poetas concretos. como você vê esse trabalho? há uma revisão em andamento? já é possível ver alguns resultados da tua intervenção?
em primeiro lugar, obrigado. lustra foi publicado primorosamente por vanderley mendonça, editor notável & bom amigo. mas não teve repercussão porque o brasil é obviamente um buraco negro cultural: você faz uma coisa e ela é sugada por um vazio. mas eu de fato o traduzi e escrevi para o efeito que você descreve, o de uma revisão crítica para ampliar a leitura de pound a partir da primeira onda de divulgação de sua obra, com os trabalhos da poesia concreta.
é preciso que pound seja visto além da ótima apropriação temática e formal que a poesia concreta fez dele, para que se desdobre, para que se saiba o que é pound e o que é concreto, porque se atribui muito a pound do que é, na verdade, conceituação da poesia concreta, e se deixa de ver outras coisas (muitas, aliás), que são pound e que naturalmente não estão em parte alguma da recepção da segunda onda de vanguarda brasileira, ou que a contradizem, em parte.
não vejo resultados diretos do meu trabalho, ainda. lustra foi lido em geral muito ignorantemente pelas resenhas de jornal (com a exceção da escrita por régis bonvicino), e, é claro, a maior parte do meio literário brasileiro nem sabe que o livro existe. é sintomático de muitas coisas. na internet a recepção foi bem melhor e mais complexa, indicando talvez um segmento de leitores que já não é representado na mídia impressa, e a que devemos estar atentos.
uma vez, no começo de meus estudos que levariam ao mestrado, fui procurar orientador. um dos professores a quem perguntei se me orientaria um trabalho sobre pound me respondeu, lá na fflch-usp: “se eu morrer sem ler pound não vai me incomodar”. isso era o que pensavam algumas das pessoas supostamente responsáveis pela minha educação literária na maior universidade da américa latina, no ano do senhor de 1997.
nem sequer perceberam o artesanato da minha tradução. um dos resenhistas se queixava de que não tinha deixado claros, na introdução, meus métodos tradutórios. além de a tarefa redundante ser um verdadeiro tédio para qualquer leitor não-acadêmico que se preze, a edição é bilíngüe, com o original à frente para o cotejo.
seria muito pedir que ele usasse um pouco da massa encefálica ao invés de eu dar tudo de colherada na boquinha?
tua última fala indica dois pontos que me interessam sobre a crítica literária no brasil: um professor que poderia passar a vida sem ler pound & um grupo de leitores incapazes de reconhecer o artesanato da poesia. a coisa é feia, mas tem cura? ou melhor, cura em tempo pra gente ver?
ricardo domeneck (1977), marília garcia (1979) e angélica freitas (1973) oferecem repertórios muito bons de poesia contemporânea de um modo geral, e especificamente brasileira, na revista modo de usar & co., versão digital e impressa. é uma atividade crítica por excelência, a escolha dentro de textos e poetas sem fortuna crítica estabelecida.
e minha esperança é numa novíssima geração de escritores e críticos, gente no brasil, hoje, com por volta de 20, 30 anos. os que conheço dessa geração lêem mais, com mais qualidade, e não obedecem à caretice do meio literário atual (e com meio literário falo de editoras, críticos, universidades): fazem suas descobertas, escrevem com liberdade e sabor textual, são inteligentes e honestos. são poucos os críticos de qualidade, mas são contundentes. non multa sed multum.
por que é assim? sei lá. como explicar, por exemplo, que mesmo com essa pasmaceira geral tenhamos uma quantidade tão grande de poetas bons escrevendo hoje, mesmo que não lidos? é uma contradição, ao menos aparente, com uma educação quase inexistente e um sistema literário politiqueiro, cheio de invejas, carreiristas, pessoas perversas.
eu chutaria que em uns vinte anos, se não tivermos nenhum cataclisma político, as coisas estarão bem diferentes. estou fazendo a minha parte, embora mais velho do que eles, e mesmo contra tudo nesse sistema. não é nada fácil, porque quem tem poder te faz sumir da vista humana. eles obviamente não querem que pessoas com idéias melhores & mais estimulantes apareçam & tirem deles o pequenino poder que arregimentaram com cotoveladas.
como se alguém REALMENTE envolvido com a arte quisesse um poderzinho liliputiano desses.
a tua dissertação é sobre um poeta difícil & erudito do séc. XX, no doutorado você retornou ao renascimento, além disso andou vertendo trechos de ovídio. como funciona na tua poesia essa relação com a tradição literária?
penso que seja natural, como a de qualquer poeta que valha o nome. a poesia é uma arte ― ainda que alguns digam que é uma dead art, ou que ainda outros queiram retirá-la do domínio que consideram afetado de uma arte, como contrária ao gesto espontâneo e significativo ―, e isso significa que se a prática se estende por séculos, línguas e culturas diferentes, você chegará a um ponto em que se forma uma massa de conhecimento específico na coisa que, para se ignorar, é necessário fazer um completo jejum mental.
qual a utilidade disso? não vejo nenhuma. ao contrário.
a poesia me parece sempre ganhar quanto mais informada for de suas práticas. e, depois, sou um leitor que realmente gosta da coisa: leio muita poesia e com muito prazer. minha poesia claramente fala com esse todo, e é um modo de fazer as outras vozes permanecerem dizendo coisas: porque se uma voz pára em um livro, é letra morta; se fala através de uma outra voz entre os vivos, é viva novamente e estabelece novas ligações de sentido.
você começou faz pouco um trabalho sobre antologias poéticas. poderia comentar um pouco quais são os planos desse trabalho. ele se vincula de algum modo com a tua produção poética?
o meu trabalho define que a cultura letrada portuguesa e brasileira se diferencia das demais de extração ocidental por ter adotado um critério específico de seleção, que é um critério preguiçoso & estúpido: escolhe-se o típico. esse é o conceito que defini, em termos sucintos.
pior, escolhe-se o típico lido através de um número abstratizante de categorias arranjadas a priori, ou de modo também generalizante a posteriori, e nomeiam uma continuidade limitada no tempo, reunida sob um nome fantasia, por exemplo, romantismo. paul valéry, mais esperto, disse por exemplo sobre definir romantisme: il faudrait, pour s’essayer à le définir, avoir perdu tout sentiment de la rigueur.
fala-se em “características românticas”, daí. essas características, que apenas redundam em um poema genérico, escolhem a peça antológica e sistematicamente a reproduzem de modo insensível, sem critérios qualitativos ou de inovação, a-historicamente, e são essas mesmas características que ergueram um muro de preconceito contra coisas vistas como fora do padrão.
sob o subtítulo “mau gosto”, por exemplo, antonio candido põe as traduções de odorico mendes, porque lhe soam “macarrônicas”. o bom de odorico mendes, para candido, seria um “idílio à tarde” ou algo do tipo, um poema imbecil de lugares-comuns sobre uma tardezinha bocó em algum lugar soporífero.
é preciso acabar com isso de uma vez por todas, porque os efeitos são devastadores para as escolas, para as editoras e para o meio literário atual no brasil, que é lerdo, burro, deselegante, preconceituoso e, numa palavra, morto, a despeito da quantidade invejável (inclusive para países em que se lê mais) de bons poetas escrevendo hoje.
O que você pensa da função da poesia no brasil do séc. XXI? ou então, o que você espera como um poeta aqui & agora?
a poesia é uma força que cria o mundo. não “criar o mundo” no sentido do deus que vem e dispara um fiat lux, mas opera nas mentes das pessoas de modo a lhes dar uma nova configuração do mundo, uma nova descrição da vida, que em alguns anos costuma se tornar aquilo que todos reconhecem como sendo o mundo, em sua imaginação.
colaboram para tecer esse novo mundo mental todas as outras artes, a filosofia, etc. as chamadas humanidades. têm uma importância gigantesca, formam o desenho das mentes futuras para a apreensão de, e o trabalho com, as idéias do mundo.
daí a função do poeta permanece a mesma: cabe a ele saber o seu metiê como ninguém, e ser rigorosamente fiel às suas percepções, não importa o quanto elas estejam em conflito com a sociedade.
a sociedade não sabe nada disso, e embora o poeta seja tratado como um leproso em vida, vai ter ajudado às pessoas do futuro a entenderem melhor sua língua, a expressão de seus pensamentos, o mundo à volta. terá dado ao futuro um modo de expressão de coisas que exigem algum refinamento.
você não é um poeta propriamente visual, mas está claro que o olhar tem uma grande importância na tua poesia (seja pela fanopeia, seja pela disposição visual dos versos & de elementos não verbais em alguns textos). como você encara a influência & a força dos elementos visuais na poesia brasileira, ou na tua poesia?
na poesia brasileira é muito forte, sobretudo pela onipresença da poesia concreta nos últimos 60 anos. mas é muito forte, em geral, de modo derivativo da própria poesia concreta, e é pena que pouco se alimente de outras experiências, como a de joan brossa, os futuristas, kurt schwitters, bob brown, apollinaire, & muitos outros. uma exceção a isso é marcelo sahea (1971), ótimo poeta, também na vertente visual.
na minha poesia há alguns exemplos, talvez mais discretos, de visualidade. tive formação inicial em artes plásticas, e tenho um interesse onívoro em arte, então quando o poema pede eu dou. e não acho que um poeta brasileiro hoje tenha saído incólume do contato com a poesia concreta, ou, especialmente os muito interessados em poesia, com a poesia visual internacional, que penso começar no ocidente com a technopaegnia grega, com os carmina figurata latinos & depois com um monte de exemplos por toda a história da escrita.
é inevitável, e a palavra tem uma dimensão visual a que nenhum poeta bom está indiferente, assim como nunca se está indiferente à dimensão musical, à variedade de suas possibilidades.
tem alguma pergunta que você gostaria de responder, mas nunca te perguntaram? se tem, responda.
não, creio que você me perguntou bem e suficientemente: menos tagarela, melhor.
* * *
o grande alfaiate
a vida não é muito confortável ela disse
pensa ou deve saber mas assim de qualquer forma
ela disse uma roupa que não cabe direito
sua roupa e não cabe direito
assim é a vida
você pensa desse jeito?
não ela disse
acabou de me ocorrer a coisa
e não é verdade?
é verdade certamente e ela: veja as luvas
que você põe na mão sabe de cara se são certas ou não
a vida não tem isso
ao menos não pra mim
é sempre caber não cabendo
olhou longe como quem precisa
recompor o mundo depois da palavra
e disse sei como quem sente e isso não serve pra nada
esse é o problema de saber digo
quem só sabe o que serve só sabe servir
você sabe o que não serve
ela riu
e completou
o grande arquiteto diziam antigamente
e não o grande alfaiate
lilly cabaret
o que faz agora a lilly cabaret?
“que graça o seu sorriso”
lhe dá um pontapé
dois spaccatti de improviso
heu heu heu
che carina!
seria um exagero
exagero mesmo
dizer que é pervertida
digamos ao invés: ordinária
é a sua vida
fitas que desenham num laço
um coração sobre as ancas
“que potranca!”
― isso não é brecht,
palhaço ―
suas pernas de cabaré
saem andando sozinhas
“isso é que é mulher”
pensam as vizinhas
glamour, então?
sim, como não?
usa um bottom sobre o seio
em que se lê ignição
intervalos
pequenas as mentiras
da sinceridade,
delicadas, impedem futuro
pavor de pessoas feridas.
pequenas as crônicas
dores das estratégias
de sobrevivência em sociedade,
alegrias casuais sem alarde.
pequenos incômodos
entre duas verdades,
como vestir lã inglesa, aquecido,
e os punhos coçarem.
isto
cansado disto tudo
você gostaria de ser capaz de cantar
erbarme dich mein gott até a voz lhe faltar:
o mundo é de fato uma ilusão,
advertida por religiões e filósofos igualmente,
todos certos; os frustrados,
os sem ânimo, aqueles que se gastaram como seixos rolando rio abaixo; todos certos;
e no entanto isto, e isto não tem nome,
nem poetas o disseram ou dirão, incessantes
sobre o assunto, nem há palavra ou conjuntos
de palavras a dizer para enfim
amenizar o inominável que arrepia
toda a espinha, traz lágrimas aos olhos
e nos fornece estranha, desejada solidão em pleno dia.
a onda em kanagawa
em kanagawa há mais de um século
as mãos do mar nos avisavam
“não ousem seguir além”.
nada, nem mesmo o monte fuji
crescia o bastante para domá-las
a estes olhos humanos.
montanhas do mar desprendiam seus flocos,
chuveiro de flocos sobre nós, sobre
as entranhas escuras do mar.
inclinados remando, reverência também,
havia uma prece nos lábios pedindo a clemência
daquelas garras geladas.
barcos humildes,
mera madeira, um mundo de água.
as nuvens acima se condensavam num gesto
imitando a crista da onda,
silêncio glacial de distância ― nós,
nós somos pouco e pequenos,
mas sorrimos por cima do medo,
morte e vida se espelham, crescendo.
corações que não vejam a beleza além do temor:
esses nem valem o bater.