Ruído

A Estética da reconstrução musical: desconstruindo a desconstrução

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“A desconstrução pelo negativo tornou-se de fato o fascismo atual, é a impossibilidade do diálogo, é a desconstrução do processo em si, tudo se torna cinzas e ódio nessa ruína.”

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               O termo desconstrução se tornou pop na filosofia do século XX. Jacques Derrida cunhou esse termo, entre outras plurais utilizações, para ser um remédio contra os vários dogmatismos presentes no pensamento humano. Desconstruir é buscar as unidades básicas de sentido presentes em qualquer linguagem, e a partir destas próprias unidades, traçar sua ruína, seu desmonte. Destruir é remontar a compreensão. Mas cabe ressaltar que, deste processo de desmonte, Derrida também falava de uma reconstrução.

 

               Parece-me que nas artes em geral, principalmente na música, o processo muitas vezes é feito pela metade. Somente se desconstrói, sem a compreensão, sem a remontagem. A desconstrução passou, nesse sentido, a ser uma ferramenta de mero marketing do negativo. É um marketing do negativo, pois se faz em pedaços qualquer atividade criativa, somente para se ter o que falar, uma ampla fala da negativação, desconstruir aqui e acolá.

 

               Desta forma se faz necessário desconstruir as desconstruções, e tentar reconstruir a beleza, já tão bombardeada por essa estética do negativo que não aponta o novo, mas simplesmente destrói o antigo. Como se daria tal artimanha?

 

               Primeiramente desvelando como é infrutífera a mera desconstrução em si, que não leva a lugar algum, somente a face do negativo, é negar… negar… negar, até o fim! É aquela espécie de discussão que não opera nenhum diálogo, nenhuma troca, a não ser de gritos e ofensas. É como descrevemos neste pequeno desconstrugrama:

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Temos a música posta

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Procedemos a sua desconstrução pelo não

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Deixamos de lado a reconstrução pela afirmação do novo.

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                A desconstrução pelo negativo mudou não só a arte, colocando uma espécie de sentimento que descrevemos como a “raiva gerada pelo negativo”, como propagou também uma situação generalizada na vida comum, nas redes sociais, nas propagandas políticas, no mundo em si. A desconstrução pelo negativo tornou-se de fato o fascismo atual, é a impossibilidade do diálogo, é a desconstrução do processo em si, tudo se torna cinzas e ódio nessa ruína.

 

                A música se faz nesse processo como mero ruído, e não retorna a erigir-se como afirmação do novo. Desconstruindo os ritmos, somente batendo no bumbo a esmo, não é propor algum ritmo novo, é o simples nada da destituição rítmica. Desconstruir a escala, ressoando notas soltas sem sentido pelo ar, não é mais do que desconstruir o campo sonoro às pauladas, sem propor um novo espaço, um novo horizonte harmônico a ser explorado.

 

                Desconstruir pelo negativo é tão fácil quanto respirar para aqueles que ainda estão vivos.

 

                A arte acabou se tornando a desconstrução de plantão esperando o próximo edital. Seus críticos, meros novos desconstruidores, babando com raiva o fato de alguns ainda sobreviverem desconstruindo. Coitado do Derrida, que acabou gerando uma teologia da desconstrução, metafísica do ruir, razão prática do ódio, teleologia da raiva, ontologia do não. Dizem por aí: “desconstruir é meu pastor e nada me faltará.”

Por isso acredito que a estética futura é a da refundação, reconstrução, desconstruindo as desconstruções pelo afirmativo e rechaçando as estéticas do negativo.

 

                Vou até ali, desconstruir este texto e volto já!

 

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Juliano Samways
Professor de filosofia, autor, músico, estudante, ex-enxadrista, ex-filatélico.

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