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ATIS REZISTANTS: A história dos escultores da Grand Rue

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Imagem: Grand Rue, 2010

[/vc_column_text][vc_column_text]Fernanda Maldonado nos conta sobre o legado dos Atis Rezistants, coletivo haitiano que gera arte a partir dos escombros de um país maltratado – sob todos os pontos de vista. Conheça essa história de uma rara beleza da sobrevivência.


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“É na região sul da Grand Rue que um grupo de artistas plásticos se concentra ao redor de suas matérias-primas e dessa atmosfera de reciclagem constante para criarem obras de arte poderosas, alegóricas, sem harmonia visual e sem nenhuma formação artística formal.”

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ATIS REZISTANTS: A HISTÓRIA DOS ESCULTORES DA GRAND RUE

[/vc_column_text][vc_column_text]Coletivo haitiano de arte marginal cria esculturas impressionantes a partir de composições recicladas com material readymade de ferros-velhos.[/vc_column_text][vc_single_image image=”5129″ img_size=”full” alignment=”center”][vc_column_text]Após um imenso desastre, você foca em viver primeiro, e no restante depois: procrastinação trágica. Em janeiro de 2010 muita coisa virou pó, muita gente desapareceu, milhões morreram, e outros tantos incontáveis perderam tudo o que tinham (além dos próprios batimentos cardíacos) depois dos terremotos que destruíram o Haiti.

 

O cenário de caos não melhorou muito de lá para cá. As ruas do pequeno país caribenho de alma negra colonizado por franceses foram varridas, e os escombros, recolhidos. “Soul sourvivor”, já dizia uma letra dos Rolling Stones.  Mas para além das notícias ruins sobre os desastres naturais e desastres causados por mãos humanas – corrupção, pobreza, violência – existe uma efervescência muito interessante acontecendo hoje no Haiti.

 

No extremo sul da Grand Rue, avenida principal que corta uma faixa norte-sul no centro da capital Porto Príncipe, há um emaranhado de ruas secundárias labirínticas que abriga uma comunidade quase completamente cercada por ferros-velhos e oficinas de reparação de automóveis. Alguns desses ferros-velhos tornaram-se verdadeiros cemitérios de carros decrépitos. Nessas ruas, revela-se um Haiti despercebido pelas câmeras jornalísticas viciadas no viés humanístico e assistencialista da mídia tradicional. É na região sul da Grand Rue que um grupo de artistas plásticos se concentra ao redor de suas matérias-primas e dessa atmosfera de reciclagem constante para criarem obras de arte poderosas, alegóricas, sem harmonia visual e sem nenhuma formação artística formal.

 

Os chamados Atis Rezistants, também conhecidos como os escultores da Grand Rue,  trazem em suas esculturas o legado histórico e cultural de um país com cicatrizes ainda abertas. São trabalhos fortes, às vezes assustadores, mas bem-humorados. As esculturas são visivelmente influenciadas no ancestralismo religioso do vodú haitiano e são a mais pura representação da arte marginal nata, que se distancia infinitamente das limpíssimas e elitizadas galerias do restante do mundo da arte. Os objetos são marcados pela representação de pessoas geralmente cadavéricas, feitas em ferro, molas, madeira esculpida, colagens. Bem longe do conceito (relativo) da beleza, é uma arte de resistência.[/vc_column_text][vc_single_image image=”5127″ img_size=”full” alignment=”center”][/vc_column_inner][/vc_row_inner][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

Destruição e Reconstrução: Ghetto Bienalle

[/vc_column_text][vc_column_text]Após o grande terremoto de 2010, também foi por terra um dos maiores monumentos culturais do Haiti, a Catedral Epsicopal da Santíssima Trindade, que abrigava murais pintados no final da década de 1940 pela geração de artistas conhecidos como “os renascentistas haitianos”. Além da catedral, o Centre d’Art (onde artistas do país se encontraram certa vez com André Breton) e o Museu de Porto Príncipe foram devastados, juntamente com mais de 12 mil obras acumuladas ao longo de meio século. Mas mais uma vez, os haitianos demonstram sua infinita força interior de renascem com energia e criatividade, acima de tudo.

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Um ano depois do desastre, o coletivo Atis Rezistants impulsionou a continuidade de um projeto tímido, porém ousado: a organização da segunda edição de uma bienal. O nome e o local do evento não poderiam ser melhor escolhidos: a “Ghetto Bienalle” acontece periodicamente, no local onde os artistas dos ferros-velhos vivem, sobrevivem, criam, recriam: lá no extremo sul labiríntico da Grand Rue.[/vc_column_text][vc_single_image image=”5130″ img_size=”full” alignment=”center”][vc_column_text]

Homenagem à la brasileira

[/vc_column_text][vc_column_text]Em Curitiba, dois expoentes da street art – Rimon Guimarães e Zéh Palito –  começaram este mês um mural no centro da cidade com a proposta inicial de prestarem uma homenagem à elegância e a beleza estética da mulher negra. Porém durante a pintura, passaram vários haitianos reparando no mural. “Acredito que eles se identificaram devido às figuras de mulheres negras que pintamos e com a energia que o mural carrega. Decidimos então conversar com alguns deles e ouvimos histórias sobre como é (para eles) viver em Curitiba”, diz Rimon. Segundo o artista, depois de ouvirem os imigrantes, pediram a eles que escrevessem uma frase em criolo (mistura do francês com o dialeto local do país). Eles escreveram: “Respè pou tout ayisyen nan Kiritiba”, que em português significa “Respeito por todos os haitianos em Curitiba”. A partir de então, o mural tornou-se não só uma homenagem às mulheres negras e africanas, mas também a todo o povo haitiano que vive em Curitiba e sofre diariamente com as dificuldades e choques culturais de uma migração e, muitas vezes, com a sina da xenofobia.[/vc_column_text][vc_single_image image=”5126″ img_size=”full” alignment=”center”][/vc_column][/vc_row]

Fernanda Maldonado
Fernanda Maldonado é jornalista e redatora publicitária nas horas vagas, ou vice-versa. Produz entrevistas e resenhas sobre música, artes visuais, teatro e comportamento para revistas independentes de cultura & arte. Atualmente estuda a linguagem dos quadrinhos jornalísticos e não acredita num mundo pós-Temer.

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